quarta-feira, 13 de julho de 2011

Meu filho, você não merece nada


11/07/2011 - 09:41

ELIANE BRUM



A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
   Divulgação
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
elianebrum@uol.com.br 
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Livro “As Mães de Chico Xavier” promete emocionar os leitores

LIVRO está à venda em todo o país
O REGIONAL  ONLINE, 
Catanduva, domingo, 10 de julho de 2011

A Editora catanduvense InterVidas lançou há alguns dias o livro “As Mães de Chico Xavier”, o qual conta a história e os bastidores do filme que emocionou o Brasil. A história de três mães que perderam os filhos e que descobriram uma maneira de amenizar a dor devido à ausência. O livro, que foi inspirado a partir da realização do filme, é baseado em fatos reais, que emociona, consola e mostra como enfrentar a dor da perda de uma pessoa querida. Uma obra com imagens e depoimentos de personagens, atores e envolvidos nas histórias que têm emocionado a todos que lêem.
De acordo com o editor Editorial da InterVidas, Ari Dourado, a questão da apresentação da obra e da beleza gráfica é o mínimo que a editora pode fazer aos leitores.
“É importante incorporar a apresentação gráfica, a beleza e a estética ao conteúdo, pois todos gostam de um belo produto em mãos”.
Dourado conta que o mais importante para a Editora é o conteúdo da obra, mas sempre existe a preocupação em apresentar um livro que tenha uma bela produção gráfica.
“Esta obra é desenvolvida em uma das melhores gráficas do país e tem uma apresentação totalmente colorida, com muitas imagens, como o objetivo de expressar a beleza e a emoção contidas no filme”.
Ele lembra que o filme estava há pouco tempo nos cinemas e os produtores convidaram a Editora a retratar a história da película. “Eles já conheciam nosso trabalho, principalmente pela publicação do livro Pinga-Fogo, também com Chico Xavier”.
Os profissionais da editora aceitaram o desafio, o qual deveria ser concluído em um prazo muito curto.
“Mas nos dispomos a abraçar esse projeto e agradecemos muito por isso e concluímos que a obra não poderia se limitar apenas a retratar o filme e sim incorporar e trazer algo a mais”.
O livro, então, apresenta vários temas, como curiosidades, bastidores, história da produção, depoimentos, entre muitos outros.
O editor conta que a InterVidas se apresentou ao mercado lançando o livro Pinga-Fogo, o qual conta sobre a participação de Chico Xavier no programa de entrevistas mais assistido no Brasil.
“O livro se destacou no mercado internacional e foi um dos dez mais vendidos no Brasil, entrando em rankings importantes, resultado do grande conteúdo que apresenta”.
E também explica que na época teve a participação de Chico Xavier, o qual registrou a maior audiência na história da Televisão brasileira.
“Quem acompanhou o programa naquela época relata grande admiração e como foi o movimento em todo o país, algo realmente impressionante. Um programa que deveria durar poucas horas entrou madrugada adentro e o país inteiro acompanhava”.
ORGANIZADOR

O livro “As Mães de Chico Xavier” tem como organizador o jornalista Saulo Gomes, considerado um dos maiores repórteres do país. Saulo Gomes conta que o livro “Pinga-Fogo” foi um divisor de períodos na divulgação do espiritismo no Brasil.
“A primeira autoridade no mundo espírita que se manifestou a respeito dessa chamada divisão antes e depois do pinga fogo foi exatamente Divaldo Pereira Franco. A partir dessa fala segura, serena e competente começamos a ouvir esta mesma opinião de muitas outras pessoas, o que faz com que eu esteja muito feliz e realizado”. 
“O Brasil parou durante o programa e o ibope do Pinga-Fogo chegou a 86% no dia em que o Chico Xavier participou”.
O jornalista conta que Chico Xavier entrou na sua vida pessoal muito antes de conhecê-lo. “Fui trabalhar em uma rádio na cidade do Rio de Janeiro e fizemos uma matéria sobre o Chico e fizemos uma verdadeira bagunça na vida dele, mas fomos precipitados e infelizmente não tive tempo de corrigir aquele erro que cometi na matéria”.
Após isso, Gomes foi trabalhar para a TV Tupi em São Paulo e passou a ter interesse em saber sobre quem era Chico Xavier.
“Tentei me aproximar dele através de outras pessoas, pois ele não tinha relação com a imprensa, após uma matéria intitulada ‘Detetive do Além’. E isso fazia com que ele evitasse a exposição aos problemas”.
“Depois de algum tempo ele me chamou para conversar e ficamos batendo papo por muito tempo, sem uso de gravador e câmeras. Então, Chico disse que eu era quem ele esperava, não sei o porquê até hoje e assim me pediu para fazermos a entrevista e tive a chance de mostrar quem era o Chico, com muito respeito e carinho”.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A REENCARNAÇÃO EXISTE?

"Você acredita em reencarnação, Rolinho?" 
"Sim, mas no meu caso isso se chama reciclagem"

“Quero que você prove que reencarnação existe”, desafiou um jornalista ao Dalai Lama durante encontro sobre ciência e religião realizado nos Estados Unidos. Habituado a provocações do gênero, o líder espiritual do budismo não perdeu o bom humor: “Farei isso depois que você provar que reencarnação não existe”. Certo, esta é a melhor maneira de colocar as coisas, e o lama tibetano sabe disso perfeitamente. Não há provas conclusivas a favor nem contra a reencarnação – é preciso deixar isso claro desde já. A hipótese ainda pertence ao domínio da fé, e só pode ser defendida em termos de crença religiosa. Mas, como veremos, em tempos em que a notícia da criação da simpática Dolly – primeira ovelha clonada – já virou carne-de-vaca para a mídia, mais e mais as coisas do domínio da fé se confundem com as descobertas da ciência moderna.

Por Luis Pellegrini

Diretor de Redação da revista Planeta, jornalista, escritor, tradutor, autor dos livros “Os pés alados de Mercúrio” e “A Árvore do Tempo”, ambos da Axis Mundi Editora, e “Madame Blavatsky”, da Editora T. A. Queiroz.



No departamento de reencarnação:
"Você vai reencarnar como uma linda flor-de-maio.
Tenha um bom dia!"
Os nossos são tempos de grandes revoluções, inclusive ao que se sabe a da tríade básica da vida humana: o nascimento, o sexo e a morte. A revolução científica e tecnológica devassou os fenômenos da concepção, da gravidez e do nascimento, produzindo revelações até pouco tempo impensáveis. Tecnologias de parto sem dor e cesarianas reduziram a um número mínimo as perdas de mães e de filhos nos partos; ultrassonorografias permitem saber o sexo e o estado geral da criança ainda no ventre materno; bebês de proveta enchem as creches; e ovelhas clonadas são animais muito, muito próximos do ser humano.

No campo sexual, a revolução psicológica iniciada por Sigmund Freud amenizou extraordinariamente os preconceitos e a repressão impostos sobre a sexualidade. Amor, sexo e reprodução são hoje temas corriqueiros nos bancos escolares, e há propaganda sobre os usos e virtudes da camisinha até nos pára-brisas de automóveis. Até o papa Bento 16 resolveu afrouxar o torniquete e já aceita que prostitutas usem camisinha no desempenho de sua profissão.

Da mesma forma, a morte e as grandes perguntas que dela se originam – Há vida antes e depois da vida? A reencarnação é uma realidade? São verdadeiras as memórias de vidas passadas? Fatos de uma vida passada podem influenciar a vida presente? – não ficaram de lado nessa corrida frenética da ciência para desvelar os grandes mistérios da nossa existência.

No passado, a ciência ocidental rechaçou sistematicamente a idéia da sobrevivência após a morte, alegando que estava fundamentada na ilusão e na superstição. Essa afirmação não era o resultado de um estudo sério do tema. Ciências como a medicina e a psiquiatria evitavam discutir a possibilidade de existência de consciência depois da morte simplesmente porque o conceito era incompatível com as teorias científicas existentes.

Os tempos mudaram, e nenhuma pergunta é tabu para a mentalidade científica atual. Nem mesmo as que se referem à reencarnação, idéia firmemente arraigada em muitos sistemas religiosos e esotéricos – budismo e hinduísmo na linha de frente.

A doutrina da reencarnação repousa na crença de que todo indivíduo possui um elemento, independente de seu ser físico, que, após sua morte, pode renascer num outro corpo. Embora esta idéia tenha-se desenvolvido sobretudo nas religiões orientais, ela é encontrada no mundo inteiro em diversas épocas, e, nos dias de hoje, suscita um crescente interesse nas modernas sociedades ocidentais. Para muitos, a teoria reencarnacionista é mais atraente do que a opinião ortodoxa dos cristãos, segundo os quais a alma, após a morte, vai para o céu, o inferno ou o purgatório. Se a doutrina cristã é exata, o ser humano tem apenas uma vida para decidir a sorte de sua alma. Mas a hipótese da reencarnação postula que as vidas de uma pessoa são como os degraus de uma escada; cada vez que renasce, ela sobe ou desce, em função da maneira como se conduziu na existência anterior.

Um dos atrativos dessa teoria é que ela explica a existência do sofrimento e da aparente desonestidade da sorte, que a alguns proporciona vidas felizes, e a outros, só dor e tristezas.

A idéia da reencarnação ocupa uma posição particularmente importante no hinduísmo. Os antigos livros sagrados hindus conhecidos pelo nome de Upanishades dizem que, se a alma entra no paraíso ou no inferno após a morte, é apenas para uma permanência temporária, antes de regressar à terra. O hinduísmo desenvolveu, em ligação com a idéia de reencarnação, a doutrina do carma, segundo a qual uma pessoa vem ao mundo com um balanço de ativo e passivo proveniente de suas vidas anteriores. O Bhagavad Gita, provavelmente o mais conhecido dos textos religiosos indianos, também afirma a doutrina da reencarnação: “O corpo se despoja das vestimentas usadas; o habitante se despoja, no corpo, dos corpos usados; corpos novos serão vestidos pelo habitante, como se fossem roupas.”

O budismo não fica atrás. Entre outras noções herdadas do hinduísmo, o budismo assimilou a teoria da reencarnação bem como a teoria do carma. O Bardo Thodol, o Livro Tibetano dos Mortos, texto sagrado budista, conta como, após a morte, “a consciência, não tendo nenhum objeto sobre o qual repousar, será levada pelo vento, procurando o cavalo do sopro. Quase nesse instante, o vento violento do carma, terrível e difícil de suportar, a empurrará para a frente, para trás, com horríveis rajadas. Depois de certo tempo, aparecerá o pensamento: Ah, o que não daria para possuir um corpo!” É exatamente a força premente desse desejo que, segundo os budistas, impele a alma para se agregar a um novo corpo físico, no momento da concepção deste.

No Ocidente, embora encontrando maior dificuldade para encontrar seu caminho, a doutrina da reencarnação já aparece em Platão e em muitos escritos herméticos greco-egípcios do período precedente.

Os primeiros padres da Igreja cristã foram influenciados por esses escritos, e muitos deles admitiram a reencarnação. Orígenes, um dos mais influentes pais da Igreja, ensinava uma espécie de teoria da reencarnação. Afirmava que as almas haviam existido em mundos anteriores, e que elas renasceriam nos mundos futuros. Essas lições de Orígenes foram mais tarde condenadas pela Igreja, e o Segundo Concílio de Constantinopla, em 533, tachou de anátema sua teoria da reencarnação. Mas ela sobreviveu nos diversos movimentos gnósticos cristãos que se desenvolveram clandestinamente na Idade Média, e que, de tempos em tempos, desafiavam abertamente a autoridade da Igreja. Os cátaros albigenses são um exemplo. Eles ensinavam a reencarnação, e conheceram um período de glória no Sul da França, antes de serem vítimas de uma brutal repressão instigada pela Igreja. Depois que foram arrasados no século 13, a doutrina da reencarnação tornou-se uma heresia.

Durante séculos essa teoria teve apenas um papel menor no pensamento ocidental, embora muitos pensadores independentes a tenham seguido. Podemos encontrar traços dela em textos alquímicos, cabalistas, rosacruzes e de outras escolas esotéricas do Renascimento. Mas, nos séculos 18 e 19, os pensadores interessados nessa idéia se multiplicaram. A grande vaga de entusiasmo pelo pensamento oriental e místico que eclodiu no Ocidente no final do século 19 reforçou ainda mais o interesse pela reencarnação e, hoje, essa idéia é familiar a pessoas das mais diversas tendências religiosas. A teoria exerceu sempre uma grande atração sobre escritores, filósofos e poetas, como Schopenhauer, Goethe, Heine, Thoreau, para citar alguns.

Uma das dificuldades para se obter provas concretas da reencarnação é que pouquíssimos indivíduos são capazes, em circunstâncias normais, de se lembrar de suas vidas anteriores. Esta ausência de memória é compreensível, pois, se a reencarnação existe realmente, é evidente que uma vida cheia de lembranças anteriores seria um grande problema. Contudo, nas últimas décadas, tenta-se levantar o véu dessa amnésia. O hipnotismo é um dos métodos utilizados, e já permitiu que se trouxesse à luz testemunhos surpreendentes. Houve, por exemplo, o fenômeno Edgar Cayce, médium norte-americano da primeira metade do século vinte que, em estado de transe, podia não apenas diagnosticar doenças e prescrever tratamentos corretos, mas igualmente contar o que, aparentemente, fora uma vida anterior da pessoa. Certa vez ele disse a um homem que este pertencera à armada sulista durante a Guerra de Secessão; deu-lhe inclusive seu nome e endereço anterior. Verificou-se mais tarde nos arquivos e constatou-se que efetivamente existira um homem com aquele nome e características, o qual se engajara nas tropas do general Lee em 1862.

Mais recentemente, as revelações de Morey Bernstein em seu livro À procura de Bridey Murphy fizeram sensação. Bernstein, homem de negócios do Colorado, hipnotizador e interessado pelo tema da reencarnação, apesar de seu ceticismo inicial, organizou experiências de regressão hipnótica onde fazia a pessoa hipnotizada regressar no tempo. Seu principal sujeito foi uma jovem arrumadeira do Colorado, que ele designou pelo nome de Ruth Simmons. Sob hipnose, ela começou a falar de sua vida como sendo a de uma mulher de nome Bridey Murphy, que vivera na Irlanda na primeira metade do século 19. Ela se exprimia no dialeto irlandês e forneceu detalhes sobre nomes de lugares desconhecidos e termos irlandeses, dos quais muitos foram controlados e confirmados em seguida.

Mais e mais casos como esses foram detectados e analisados por especialistas, e começaram a chamar a atenção de cientistas de diferentes áreas. Em 1966, Ian Stevenson, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Virgínia, apresenta para a Sociedade Americana para a Pesquisa Psíquica um trabalho de sua autoria que produziu comoção nos meios científicos. O trabalho foi transformado em livro volumoso, com o nome de Vinte casos sugestivos de reencarnação. O livro, bestseller em vários países, contem inclusive dois casos brasileiros, acontecidos no Rio Grande do Sul, envolvendo pessoas da família de Francisco V. Lorenz, um professor gaúcho. Alguns dos casos narrados são impressionantes, como o de uma garotinha indiana, de nome Swarnalata, que, ainda pequena, demonstrou ser capaz de falar um dialeto completamente distinto da sua língua natal. Sabia cantar e dizer poesias antigas nessa língua, e lembrava-se não apenas de detalhes de uma sua vida anterior, quando fora uma mulher de nome Biya, moradora na cidade de Katni, na província de Madhya Pradesh, mas também seu endereço e os nomes e características de vários amigos e parentes. Ante a insistência de Swarnalata para voltar àquele lugar, a família acabou concordando. Para espanto geral, quando lá chegaram puderam confirmar que Biya realmente existira. Alguns dos seus parentes e amigos ainda viviam, e foram reconhecidos por Swarnalata.

Investigadores pioneiros como Ian Stevenson fizeram escola. Muitos outros cientistas, principalmente médicos e psicoterapeutas decidiram arregaçar as mangas e estudar com seriedade a hipótese da reencarnação. Como resultado apareceram centenas de livros sobre o tema, muitos deles já publicados no Brasil. As evidências encontradas ainda não provaram definitivamente que reencarnação existe, mas permitem acreditar que sua possibilidade é muito real.

Baseados nessa possibilidade, psicólogos muniram-se de coragem e desenvolveram inclusive uma nova modalidade terapêutica denominada Terapia de Vidas Passadas (TVP), hoje com milhares de adeptos em todo o mundo. A TVP postula que muitos problemas psicológicos têm sua origem em traumas sofridos em encarnações anteriores. Através de várias técnicas, entre elas a hipnose e a indução a estados de transe, tenta-se despertar a memória do indivíduo para que ele traga à tona esses conteúdos profundos do passado capazes de explicar e curar situações do presente.

Um desses psicólogos é o inglês Roger J. Woolger, que veio ao Brasil em maio de 96 para expor suas idéias na 15a. Conferência Transpessoal Internacional, realizada em Manaus. Woolger afirmou na capital amazonense que estamos às vésperas de uma reavaliação radical da personalidade humana, na qual uma psicologia renovada, integrada a outras ciências, poderá abranger novamente o componente imortal humano que chamamos de alma. Nesse sentido, ele considera a TVP como um dos instrumentos mais potentes e concentrados à disposição da psicoterapia.

“Woolger substituiu o nome da técnica psicológica de regressão a vidas passadas para Dramas da Alma”, disse a psicoterapeuta paulista Márcia Limongi, estudiosa da TVP. “O que faz sentido, pois existem dramas da alma que diariamente influenciam todo o nosso campo emocional, os papéis que desempenhamos e a forma como atuamos na vida. Apesar de a alma primeiramente fixar esses dramas nos traumas da infância, ela já os tinha ensaiado no útero e os tinha escrito há muito tempo, desde quando passou a armazenar uma carga ancestral de melodramas que todos nós carregamos até hoje”.

Alguns exemplos de dramas da alma que podem ter sua origem em fatos vividos em vidas anteriores? Márcia Limongi faz um elenco:

Sentimentos de abandono e solidão: relacionados a recordações de vidas passadas nas quais sofremos abandono na infância, separação durante uma crise ou guerra, orfandade, venda como escravo, etc.

Fobias e medos irracionais: todo tipo de trauma sofrido numa vida passada – mortes traumáticas causadas pelo fogo, pela água, por sufocamento, desastres, etc.

Culpa e complexos de mártir: lembrança de matar diretamente entes queridos na vida anterior ou de sentir-se responsável pela morte de outros, etc. Pensa sempre: “A culpas é toda minha, mereço isso”.

Acidentes, violência, brutalidade física: lembranças de antigas batalhas enquanto guerreiros; busca não-realizada de poder; amor pela aventura cerceado; etc. Dramas comuns na adolescência, quando muitos soldados de antigamente encontravam a morte em combate.

Dificuldades matrimoniais: derivam de vidas passadas em que o mesmo par se encontrava em condições diferentes de poder, classe social ou sexo (às vezes papéis sexuais invertidos), etc.

Indisposições físicas crônicas: repetições de mortes ou ferimentos traumáticos na cabeça, membros, costas, etc., em vidas passadas. A terapia em geral alivia a dor crônica nessas regiões.

A grande questão é saber se as imagens descritas pelos pacientes nas sessões de regressão são mesmo memórias de vidas passadas ou meros frutos da imaginação. Para os terapeutas dessa linha isso não importa. O importante é serem reais para o cliente. Como diz ainda Márcia Limongi, “a TVP não busca provas contundentes de vidas passadas como é exigido no trabalho dos parapsicólogos; a terapia visa principalmente ajudar o cliente a melhorar, e não a provar uma teoria ou propagar uma doutrina. Nossos clientes sabem que o fato de acreditarem ou não na reencarnação não influencia a eficácia da terapia de vidas passadas. Por outro lado, há um fator central em quase todas as escolas de psicoterapia: o poder curativo da mente inconsciente. Assim, a imaginação se constitui numa ferramenta mestra nesse trabalho, pois é através das imagens que a psique se expressa e traduz os sintomas do que a pessoa precisa trabalhar – uma forma de o inconsciente falar e abrir as suas portas”.

O QUE HÁ PARA LER:

Muitas Moradas, Gina Cerminara, Ed. Pensamento
Panorama sobre a Reencarnação, Hans Tendam, Ed. Summus
Histórias de Reencarnação, Rosemary E. Guiley, Ed. Pensamento
Investigando Vidas Passadas, Raymond Moody, Ed. Cultrix
O Olho do Centauro, Barbara Hand Clow, Ed. Siciliano
A Regressão a Vidas Passadas como Método de Cura, T. Dethlefsen, Ed. Pensamento

Reencarnação e Evolução

Léon Denis 
O Problema do Ser, do Destino e da Dor

Cada encarnação encontra, na alma que recomeça vida nova, uma cultura particular, aptidões e aquisições mentais que explicam sua facilidade para o trabalho e seu poder de assimilação; por isso dizia Platão: “Aprender é recordar-se!” 

Nossa ternura espontânea por certos seres deste mundo explica-se facilmente. Já os havíamos conhecido, em outros tempos, já os encontráramos. Quantos esposos, quantos amantes não têm sido unidos por inúmeras existências, percorridas dois a dois! Seu amor é indestrutível, porque o amor é a força das forças, o vínculo supremo que nada pode destruir.
As condições da reencarnação não permitem que nossas situações recíprocas se invertam; quase sempre se conservam os graus respectivos de parentesco. Algumas vezes, em caso de impossibilidade, um filho poderá vir a ser o irmão mais novo do seu pai de outros tempos, a mãe poderá renascer irmã mais velha do filho. Em casos excepcionais, e somente a pedido dos interessados, podem inverter-se as situações. Os sentimentos de delicadeza, de dignidade, de mútuo respeito que sentimos na Terra não podem ser desconhecidos no mundo espiritual. Para supô-lo, é preciso ignorar a natureza das leis que regem a evolução das almas!
O Espírito adiantado, cuja liberdade aumenta na razão direta da sua elevação, escolhe o meio onde quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força misteriosa a que obedece instintivamente; mas todos são protegidos, aconselhados, amparados na passagem da vida do espaço para a existência terrestre, mais penosa, mais temível que a morte.
A união da alma com o corpo efetua-se por meio do invólucro fluídico, o perispírito, de que muitas vezes temos falado. Sutil por sua natureza, vai ele servir de laço entre o Espírito e a matéria. A alma está presa ao gérmen por esse “mediador plástico”, que vai retrair-se, condensar-se cada vez mais, através das fases progressivas da gestação, e formar o corpo físico. Desde a concepção até o nascimento, a fusão opera-se lentamente, fibra por fibra, molécula por molécula. Pelo afluxo crescente dos elementos materiais e da força vital fornecidos pelos genitores, os movimentos vibratórios do perispírito da criança vão diminuir e restringirem-se, ao mesmo tempo em que as faculdades da alma, a memória, a consciência esvaem-se e aniquilam-se. É a essa redução das vibrações fluídicas do perispírito, à sua oclusão na carne que se deve atribuir a perda da memória das vidas passadas. Um véu cada vez mais espesso envolve a alma e apaga-lhe as radiações interiores. Todas as impressões da sua vida celeste e do seu longo passado volvem às profundezas do inconsciente e a emersão só se realiza nas horas de exteriorização ou por ocasião da morte, quando o Espírito, recuperando a plenitude dos seus movimentos vibratórios, evoca o mundo adormecido das suas recordações.
O papel do duplo fluídico é considerável; explica, desde o nascimento até a morte, todos os fenômenos vitais. Possuindo em si os vestígios indeléveis de todos os estados do ser, desde a sua origem, comunica-lhe a impressão, as linhas essenciais ao gérmen material. Eis aí a chave dos fenômenos embriogênicos.
O perispírito, durante o período de gestação, impregna-se de fluido vital e materializa-se o bastante para tornar-se o regulador da energia e o suporte dos elementos fornecidos pelos genitores; constitui, assim, uma espécie de esboço, de rede fluídica permanente, através da qual passará a corrente de matéria que destrói e reconstitui sem cessar, durante a vida, o organismo terrestre; será a armação invisível que sustenta interiormente a estátua humana. Graças a ele, a individualidade e a memória conservar-se-ão no plano físico, apesar das vicissitudes da parte mutável e móvel do ser, e assegurarão, do mesmo modo, a lembrança dos fatos da existência presente, recordações cujo encadeamento, do berço à cova, fornece-nos a certeza íntima da nossa identidade.
A incorporação da alma não é, pois, subitânea, como o afirmam certas doutrinas; é gradual e só se completa e se torna definitiva à saída da vida uterina. Nesse momento, a matéria encerra completamente o Espírito, que deverá vivificá-la pela ação das faculdades adquiridas. Longo será o período de desenvolvimento durante o qual a alma se ocupará em pôr à sua feição o novo invólucro, em acomodá-lo às suas necessidades, em fazer dele um instrumento capaz de manifestar-lhe as potências íntimas; mas, nessa obra, será coadjuvada por um Espírito preposto à sua guarda, que cuida dela, a inspira e guia em todo o percurso da sua peregrinação terrestre. Todas as noites, durante o sono, muitas vezes até de dia, o Espírito, no período infantil, desprende-se da forma carnal, volve ao espaço, a haurir forças e alentos para, em seguida, tornar a descer ao invólucro e prosseguir o penoso curso da existência.
Antes de novamente entrar em contacto com a matéria e começar nova carreira, o Espírito tem, dissemos, de escolher o meio onde vai renascer para a vida terrestre; mas essa escolha é limitada, circunscrita, determinada por causas múltiplas. Os antecedentes do ser, suas dívidas morais, suas afeições, seus méritos e deméritos, o papel que está apto para desempenhar, todos esses elementos intervêm na orientação da vida em preparo; daí a preferência por uma raça, tal nação, tal família. As almas terrestres que havemos amado atraem-nos; os laços do passado reatam-se em filiações, alianças, amizades novas. Os próprios lugares exercem sobre nós a sua misteriosa sedução e é raro que o destino não nos reconduza muitas vezes às regiões onde já vivemos, amamos, sofremos. Os ódios são forças também que nos aproximam dos nossos inimigos de outrora para apagarmos, com melhores relações, inimizades antigas. Assim, tornamos a encontrar em nosso caminho a maior parte daqueles que constituíram nossa alegria ou fizeram nossos tormentos. Sucede o mesmo com a adoção de uma classe social, com as condições de ambiente e educação, com os privilégios da fortuna ou da saúde, com as misérias da pobreza. Todas essas causas tão variadas, tão complexas, vão combinar-se para assegurar ao novo encarnado as satisfações, as vantagens ou as provações que convêm ao seu grau de evolução, aos seus méritos ou às suas faltas e às dívidas contraídas por ele.
Dito isso, compreender-se-á quão difícil é a escolha. Por isso, na maioria das vezes ela nos é inspirada pelas Inteligências diretoras, ou, então, em proveito nosso, hão de elas próprias fazê-lo, se não possuirmos o discernimento necessário para adotar com toda a sabedoria e previdência os meios mais eficazes para ativarem a nossa evolução e expurgarem o nosso passado.
Todavia, o interessado tem sempre a liberdade de aceitar ou procrastinar a hora das reparações inelutáveis. No momento de se ligar a um gérmen humano, quando a alma possui ainda toda a sua lucidez, o seu Guia desenrola diante dela o panorama da existência que a espera; mostra-lhe os obstáculos e os males de que será eriçada, faz-lhe compreender a utilidade desses obstáculos e desses males para desenvolver-lhe as virtudes ou libertá-la dos seus vícios. Se a prova lhe parecer demasiado rude, se não se sentir suficientemente armado para afrontá-la, é lícito ao Espírito diferir-lhe a data e procurar uma vida transitória que lhe aumente as forças morais e a vontade.
Na hora das resoluções supremas, antes de tornar a descer à carne, o Espírito percebe, atinge o sentido geral da vida que vai começar, ela lhe aparece nas suas linhas principais, nos seus fatos culminantes, modificáveis sempre, entretanto, por sua ação pessoal e pelo uso do seu livre-arbítrio; porque a alma é senhora dos seus atos; mas, desde que ela se decidiu, desde que o laço se dá e a incorporação se debuxa, tudo se apaga, esvai-se tudo. A existência vai desenrolar-se com todas as suas conseqüências previstas, aceitas, desejadas, sem que nenhuma intuição do futuro subsista na consciência normal do ser encarnado. 

Temíveis são certas atrações para as almas que procuram as condições de um renascimento, por exemplo, as famílias de alcoólicos, de devassos, de dementes. Como conciliar a noção de justiça com a encarnação dos seres em tais meios? Não há aí, em jogo, razões psíquicas profundas e latentes e não são as causa físicas apenas uma aparência? Vimos que a lei de afinidade aproxima os seres similares. Um passado de culpas arrasta a alma atrasada para grupos que apresentam analogias com o seu próprio estado fluídico e mental, estado que ela criou com os seus pensamentos e ações.

Não há, nesses problemas, nenhum lugar para a arbitrariedade ou para o acaso. É o mau uso prolongado de seu livre-arbítrio, a procura constante de resultados egoístas ou maléficos que atrai a alma para genitores semelhantes a si. Eles fornecer-lhe-ão materiais em harmonia com o seu organismo fluídico, impregnados das mesmas tendências grosseiras, próprios para a manifestação dos mesmos apetites, dos mesmos desejos. Abrir- se-á nova existência, novo degrau de queda para o vício e para a criminalidade. E a descida para o abismo.
Senhora do seu destino, a alma tem de sujeitar-se ao estado de coisas que preparou, que escolheu. Todavia, depois de haver feito de sua consciência um antro tenebroso, um covil do mal, terá de transformá-lo em templo de luz. As faltas acumuladas farão nascer sofrimentos mais vivos; suceder-se-ão mais penosas, mais dolorosas as encarnações; o círculo de ferro apertar-se-á até que a alma, triturada pela engrenagem das causas e dos efeitos que houver criado, compreenderá a necessidade de reagir contra suas tendências, de vencer suas ruins paixões e de mudar de caminho. Desde esse momento, por pouco que o arrependimento a sensibilize, sentirá nascer em si forças, impulsões novas que a levarão para meios mais adequados à sua obra de reparação, de renovação, e passo a passo irá fazendo progressos. Raios e eflúvios penetrarão na alma arrependida e enternecida, aspirações desconhecidas, necessidades de ação útil e de dedicação hão de despertar nela. A lei de atração, que a impelia pa ra as últimas camadas sociais, reverterá em seu benefício e tornar-se-á o instrumento da sua regeneração.
Entretanto, não será sem custo que ela se levantará; a ascensão não prosseguirá sem dificuldades. As faltas e os erros cometidos repercutem como causas de obstrução nas vias futuras e o esforço terá de ser tanto mais enérgico e prolongado quanto mais pesadas forem as responsabilidades, quanto mais extenso tiver sido o período de resistência e obstinação no mal. Na escabrosa e íngreme subida, o passado dominará por muito tempo o presente e o seu peso fará vergar mais de uma vez os ombros do caminhante; mas, do Alto, mãos piedosas estender-se- ão para ele e ajudá-lo-ão a transpor as passagens mais escarpadas. “Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por cem justos que perseveram.” O nosso futuro está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão direta dos nossos esforços para o praticarmos.

Léon Denis: O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que sofremos? Estas desafiantes questões, que preocuparam a mente humana, Léon Denis vem esclarecer com precisão, fundamentando-se nos princípios da Doutrina Espírita. O eminente escritor francês entrega-nos um conjunto de ensinamentos valiosos, em que a lógica se une ao sentimento para exaltar a realidade da sobrevivência do Espírito, após o fenômeno da morte física. Esta obra analisa temas como a evolução do pensamento, a vida no mundo espiritual, provas históricas da reencarnação, a lei dos destinos, as potências da alma e outros assuntos interessantes e atuais.

KARDEC por Emmanuel e Bezerra



SENTIR KARDEC

Por Emmanuel
através do médium 

Chico Xavier

Lembrando o Codificador da Doutrina Espírita, é imperioso estejamos alertas em nossos deveres fundamentais.
Convençamo-nos de que é necessário:
Sentir Kardec;
Estudar Kardec;
Anotar Kardec;
Editar Kardec;
Analisar Kardec;
Comentar Kardec;
Interpretar Kardec;
Cultivar Kardec e
Divulgar Kardec...
Que cristianizar a Humanidade é afirmação que não padece dúvida. Entretanto cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.


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VIVER KARDEC

Por Bezerra de Menezes
Através do médium
Chico Xavier


Allan Kardec
Nos estudos,
Nas cogitações,
Nas atividades,
Nas obras.
A fim de que a nossa fé não se faça hipnose, pela qual o domínio da sombra se estabelece sobre as mentes mais frágeis, acorrentando-as a séculos de ilusão e sofrimento.
Seja Allan Kardec:
Não apenas crido ou sentido,
Apregoado ou manifestado à nossa bandeira de fé,
Mas, suficientemente:
Vivido
Sofrido
Chorado
e realizado em nossas próprias vidas.
Sem essa base é difícil forjar o caráter espirita-cristão que o mundo espera de nós através de nossa própria unidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

ALGOZES PSICOLÓGICOS



Joana de Ângelis 
Psicografado por 
Divaldo Franco


O processo da evolução ântropo-sociológica do ser humano não se fez acompanhar pelo desenvolvi­mento psicológico, que deveria, pelo contrário, pre­cedê-lo.
Sendo um ser essencialmente constituído pela ener­gia pensante, ela teria predominância no comportamen­to, imprimindo suas necessidades mais vigorosas, que se transfeririam para o cérebro, por ela modelado, pas­sando a conduzir a maquinaria física, como conseqü­ência das suas expressões psicológicas. Não obstante, em razão da sua estrutura original, simples, destituída de complexidades, esse desabrochar de valores torna­-se lento, fixando cada conquista, de forma que a próxi­ma se apóie na anterior que lhe passa a constituir ali­cerce psíquico.
Os sentimentos, por isso mesmo, surgem, a pouco e pouco, arrebentando a concha na qual se aprisionam em latência, apresentando-se como impulsos e tendências que se comportarão no futuro como hábitos estru­turados, formadores de novos campos vibratórios a se tornarem ação.
O desconhecimento de determinadas experiências inibem-no psicologicamente, permitindo que verdadei­ros algozes psicológicos tomem campo no comporta­mento, que se transformam em conflitos perturbado­res, inibidores, trabalhando para a formação de exis­tências fragmentadas.
Às vezes se apresentam difíceis de remoção imedi­ata, exigindo terapia demorada e grande esforço do seu portador, caso esteja realmente interessado na conquis­ta da saúde emocional.
Ao invés de assim agir, pelo contrário, o indivíduo refugia-se na distância, evitando compromissos sociais e emocionais que acredita não saber administrar, tor­nando a situação mais complexa na razão direta em que evita os contatos saudáveis, que podem arrancá-lo da situação alienante.
Desequipado de coragem e de estímulos para ven­cer-se e superar os algozes, mais se aflige, reflexionan­do negativamente, e deixando-se embalar pelas mórbi­das idéias da autocomiseração ou da revolta, da auto-punição ou do pessimismo, que passam a constituir-lhe companheiros constantes da conduta interior, que externa como amargura, insegurança, mal-estar.
Os mecanismos da evolução constituem força pro­pulsionadora do desenvolvimento dos germes que dor­mem em latência, aguardando os fatores propiciatóri­os ao seu desempenho.
A princípio, de forma incipiente, depois com mais vigor, por fim, com espontaneidade, que se torna ca­racterística da personalidade, abrindo mais espaços para a aquisição dos valores mais elevados da inteli­gência e do sentimento.
Para a eficiência do afã deve ser empreendida uma bem direcionada luta interior, firmada em propósitos de relevância em relação ao futuro, e de superação das marcas do passado.
A constituição de cada indivíduo mantêm os sinais de todo o processo de crescimento, tal como ocorre com todos os seres em a Natureza.
Na botânica, a cor das folhas e flores, o sabor dos frutos, mesmo que da mesma espécie, expressam as características do solo no qual se encontram. O mesmo ocorre entre os animais, que são resultado das condi­ções climáticas e ambientais, da alimentação e do trata­mento que recebem, variando de expressões conforme os lugares onde se movimentam.
Muitos caracteres psicológicos têm a ver com os fatores mesológicos e suas implicações na conduta.
Assim, os algozes psicológicos que afetam a um expressivo número de pessoas, aguardam decisão e aju­da para arrebentarem as suas amarras retentivas, que impedem a plenificação da criatura.

O Filme dos Espíritos tem estreia prevista para outubro de 2011

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Assessoria de Imprensa

Filme dos Espíritos, de André Marouço e Michel Dubret, estreia dia 07/10 em todo o país pela Paris Filmes. No elenco estão Nelson Xavier, Ênio Gonçalves, Etty Fraser, Ana Rosa, Sandra Corveloni e Reinaldo Rodrigues.

O Filme dos Espíritos, livremente baseado em O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec, em 1857, está saindo do papel dia 07/10/2011 pela PARIS Filmes. Assinam a direção o jornalista e cineasta André Marouço, e o cineasta Michel Dubret.

A produção de longa-metragem surgiu a partir do Projeto Mundo Maior de Cinema que, em 2009, recebeu cerca de 100 roteiros de jovens diretores e roteiristas, de diferentes regiões do país; desse grupo, oito foram selecionados e contaram com suporte técnico e profissional da produtora. O resultado foi a realização de oito curtas-metragens com tema espiritualista e transcedental. Eles foram exibidos em novembro de 2009 e ainda premiados em diversas categorias. A etapa final dessa iniciativa foi a filmagem de O Filme dos Espíritos.

Rodado grande parte em São Paulo, o longa conta com filmagens em Cajazeiras/PB, e nas cidades paulistas de Atibaia, Araçoiaba da Serra e Ubatuba. No elenco, Reinaldo Rodrigues, do grupo Tapa de Teatro e do Clube da Voz, é o protagonista. Ao seu lado, estão Nelson Xavier, Etty Fraser, Ênio Gonçalves, Ana Rosa, Sandra Corveloni, Felipe Falanga e grande elenco. O filme conta ainda com participação especial de Luciana Gimenez.

Em linhas gerais, o filme contará a história de um homem, Bruno Alves, que, por volta dos 40 anos, perde a mulher e se vê completamente abalado. A perda do emprego se soma à sua profunda tristeza e o suicídio lhe parece a única saída. Nesse momento, ele entra em contato com O Livro dos Espíritos, obra basilar da doutrina espírita. Há também uma dedicatória no exemplar: “esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito.” A partir daí, o protagonista da história começa uma jornada de transformação interior rumo aos mistérios da vida espiritual.

Sobre a Produção

A Mundo Maior Filmes é uma produtora de cinema sediada em São Paulo, que preza pelo caráter educativo de suas obras. Foi constituída por investidores engajados em ações de responsabilidade social, sendo uma unidade de negócios da Fundação Espírita André Luiz.

ANDRÉ MAROUÇO - nascido em São Paulo, em 1970, Marouço é jornalista, cineasta e radialista com mais de 20 anos de experiência, tendo passado pelas TVs Globo, Cultura e SBT. Entre outros trabalhos, destacam-se sua participação como produtor executivo, idealizador e coordenador geral da I Mostra Mundo Maior de Cinema e do projeto Mundo Maior de Cinema; diretor e roteirista dos documentários Sacramento Natureza e História(2005 / Versátil), Terceira Revelação – A Morte não Existe (2005 / Mundo Maior Filmes) e 60 Anos Transformando Vidas (2009 / Mundo Maior Filmes); diretor de fotografia dos documentários Um Lugar Chamado Lar(1999 / TV Cultura), A Riqueza do Lixo (2000 / TV Cultura) e A Cidade e a Criança (2000 / TV Cultura).

MICHEL DUBRET - Formado em cinema pela FAAP, ingressou no ano de 2003 no Studio Fátima Toledo. Neste trabalhou como Assistente da Fátima Toledo no casting e na preparação de atores nos filmes: “O Céu de Suely” (dir. Karin Ainous), “Mutum” (dir. Sandra Kogut), “Tropa de Elite” (dir. José Padilha) e “Linha de Passe” (dir. Walter Salles), entre outros. Entre 2007 e 2008, dirigiu curtas metragens como “James e Ulisses”, “O Quarto”, “Chuva Rasa”, todos produzidos e realizados pelo Studio Fátima Toledo. Michel Dubret também adquiriu experiência profissional na Cinemateca Brasileira nos departamentos de catalogação, preservação e restauração de filmes como “Deus e o Diabo na terra do sol” e “Macunaíma”, entre outros, durante o período de 4 anos. Ainda na faculdade, foi responsável pela direção de arte no premiado curta metragem, “Dalva”. No ano de 2008, dirigiu o curta-metragem “Buraco”, de produção independente.

TRAILER:

Revista ISTOÉ: A premonição sob a luz da ciência

REVISTA ISTOÉ 2156, 4 DE MARÇO DE 2011

Estudo feito por um renomado psicólogo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, reacende o debate sobre a capacidade humana de antever o futuro

Por Débora Rubin
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OUSADIA 
Um dos melhores pesquisadores de sua geração, o psicólogo Daryl J.
Bem transgrediu as regras da academia ao estudar sobre premonição
Num diálogo do livro “Alice no Outro Lado do Espelho”, de Lewis Carroll, a continuação do clássico “Alice no País das Maravilhas”, a Rainha Branca diz à Alice que tem memória nos dois sentidos, para o passado e para o futuro. Tese que a menina considera um absurdo: “Ninguém pode acreditar em coisas impossíveis”, rebate. A soberana, no entanto, explica que é somente uma questão de prática e a aconselha a imaginar ao menos seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. Menos cético que a carismática personagem, o renomado professor americano Daryl J. Bem, um dos mais proeminentes pesquisadores de psicologia de sua geração, segundo o “The New York Times”, ousou deixar de lado a regra silenciosa que paira sobre o ambiente acadêmico, segundo a qual tudo o que foge de uma explicação racional deve ser solenemente ignorado. E desobedeceu a esse hermetismo em grande estilo, ao investigar a capacidade humana de antever o futuro, popularmente conhecida como premonição. Tal qual a Rainha Branca, ele crê na memória com a seta indicando para a frente.
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ESTUDO 
O procurador aposentado Valter Borges montou um
instituto de pesquisa após a premonição da morte do filho
O mais recente estudo de Bem, publicado no “Journal of Personality and Social Psychology”, da Associação Americana de Psicologia, teve um efeito explosivo sobre a comunidade internacional. Menos por seu conteúdo, também bastante surpreendente, e mais pelas credenciais de seu autor, um notório professor de psicologia da Universidade de Cornell, Nova York, uma das mais prestigiosas dos Estados Unidos. Ele tem mais de 70 artigos publicados e é formado em física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Até então, os trabalhos sobre as chamadas percepções extrassensoriais, também conhecidas como ESP (sigla em inglês para extrasensory perception) eram considerados menores, pouco científicos. O de Bem e sua equipe quebraram essa escrita. Em sua pesquisa, Daryl J. Bem relata nove experimentos feitos com mais de mil universitários. Os testes, reproduções de estudos clássicos sobre percepção extrassensorial, eram extremamente simples (leia quadro na pág. 50). Neles, os participantes tinham que antever que tipo de imagem iria aparecer no computador ou em qual das duas janelas mostradas na tela iria surgir uma foto. Quando o conteúdo em questão tinha um teor erótico, os estudantes acertavam mais. “Isso entre pessoas comuns, escolhidas de forma aleatória. Meu palpite é de que se eu usar gente mais talentosa, melhor nisso, elas poderão prever qualquer foto”, disse o pesquisador, sem explicar o que quer dizer, ao certo, “gente mais talentosa”.
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CHOQUE 
A funcionária pública Erilene Pereira anteviu
dois acidentes de carro, com o filho e o cunhado
Segundo Bem, em oito dos nove experimentos houve um índice de acerto acima do que é considerado coincidência ou obra do acaso. Também foi feito um teste no qual o aluno escolhia se queria arriscar mais nas respostas ou se desistia de tentar. “Os que aceitaram correr mais riscos foram os que tiveram mais acertos”, conta Bem. O psicólogo é cuidadoso ao tirar suas conclusões, mas acredita que todo mundo pode ter capacidades precognitivas, embora uns as tenham mais desenvolvidas do que outros. Também explica que as percepções extrassensoriais são fruto do processo evolutivo no qual antever situações de perigo ou propícias à reprodução se tornaram vantajosas ferramentas de sobrevivência. Isso ajudaria a comprovar a existência de premonições.
Outra pesquisa, feita com universitários brasileiros, mostra que pensamentos premonitórios rondam o inconsciente bem mais do que se imagina. Segundo o trabalho realizado em 2008 na Universidade de São Paulo, 71,5% relataram premonição através de sonhos (leia quadro na pág. 55). No Instituto do Sono, de São Paulo, 30% dos pacientes contam ter sonhado com algo que depois se concretizou. Apesar de ser comum e fazer parte da vida de muitos brasileiros, essa capacidade de antever o futuro ainda é encarada como um grande mistério. Poucos cientistas se dispõem a estudar o tema e, mais do que isso, se recusam a comentá-lo. Lá fora, não é diferente. O artigo produzido em Cornell foi recepcionado com duras críticas. Ray Hyman, professor de psicologia da Universidade de Oregon (EUA), disse ao jornal “The New York Times” que o trabalho é loucura pura. “É um embaraço para a categoria”, atacou. Uma das censuras recebidas foi pelo fato de o professor Bem ter avisado os estudantes de que se tratava de um teste de premonição, o que pode ter influenciado as respostas. O físico Rory Coker, da Universidade do Texas (EUA), um crítico contumaz do que chama “pseudociência”, também fez ressalvas ao colega pesquisador. “A ciência não ignora os fenômenos paranormais, o problema é que tudo o que se vê são estudos feitos para provar aquilo no que se acredita. Dificilmente há resultados significativos e poucos trabalhos são reproduzíveis”, disse à ISTOÉ.

Daryl Bem não é o único acadêmico a colocar a mão nesse vespeiro ao longo da história. Em 1934, o professor Joseph Banks Rhine lançou a primeira edição do livro “Percepção Extrassensorial” a partir de vários testes realizados na Universidade de Duke (EUA). Foi ele quem cunhou o termo “parapsicologia” como o nome da ciência que estuda tais fenômenos. Mais recentemente, em 2001, outro professor de psicologia e neurologia da Universidade do Arizona (EUA), Gary Schwartz, testou em laboratório cinco médiuns, entre eles o mais famoso da tevê americana, John Edwards. No experimento, que foi exibido no Brasil pelo canal pago History Channel, Edwards ficava separado de pessoas que queriam saber sobre seus entes falecidos. Eles não se viam, apenas se ouviam e, como no programa, Edwards apenas confirmava as informações. O índice de acertos, segundo o pesquisador, foi de 83%. Schwartz também já esteve na mira do implacável professor Hyman, de Oregon, que o acusou de forjar resultados. “Muitas vezes na história da ciência nós estávamos errados. Quando achamos que a terra era plana, quando consideramos que o sol girava em torno da terra e tantas outras vezes. Prefiro estar sempre aberto a qualquer possibilidade”, defende-se o professor do Arizona.
Para confirmar as teses dos estudiosos no tema, dezenas de relatos de premonições vêm a público diariamente, manifestados por pessoas comuns – que trabalham, estudam, têm filhos, professam uma religião ou não. Elas costumam ser atropeladas em seu inconsciente por um acontecimento, uma certeza, quase um clarão, que se impõe sobre sua lucidez e se materializa em realidade horas, dias, meses depois, deixando-as, normalmente, assustadas. Roteiro cumprido pela arquiteta Silvia Arruda, de São Paulo. Em fevereiro de 1986, ela sonhou com uma cena de quebradeira no Brasil. Gente falindo, perdendo dinheiro, corrida aos bancos e supermercados. No dia seguinte, o então ministro da Fazenda, Dílson Funaro, anunciou o Plano Cruzado, que congelou o valor de salários, bens e serviços e provocou uma das maiores crises do governo de José Sarney (1985-1990). Vinte anos depois, um novo sonho premonitório, menos, digamos assim, coletivo. A arquiteta viu o então namorado com uma dançarina ruiva de cabelos cacheados. Contou para ele como quem relata uma curiosidade e foi ridicularizada. Pouco tempo depois descobriu que ele estava saindo com uma mulher tal e qual a do sonho. Detalhe: Silvia não é mística e nem sequer acredita em premonição. Ou, ao menos, não acreditava. “Não acho que seja algo sobrenatural, mas sim uma capacidade da mente em captar pensamentos e sensações não ditos”, afirma.
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VISÃO
A gerente de marketing Carolina Oliveira enxergou a separação de um 
casal desconhecido, que aconteceu três meses depois
Colocar a mediunidade no mesmo pacote das experiências extrassensoriais é assunto delicado. “A parapsicologia não lida com questões transcendentais, como a comunicação entre vivos e mortos, mas sim com a aptidão humana de manifestar poderes incomuns nas relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo material”, define o procurador de Justiça aposentado Valter da Rosa Borges, de Pernambuco. Nos anos 70, ele criou o Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP) para tentar entender esses poderes incomuns, motivado por uma premonição que tivera anos antes. Em 1968, ele perdeu o filho Ulisses, de apenas 4 anos, vítima de um edema pulmonar agudo. “No dia em que ele faleceu, ao sair do apartamento onde eu morava, passei por uma alucinação auditiva. Uma voz me disse, por duas vezes, que meu filho ia morrer naquela tarde”, recorda.
“Não é um fenômeno religioso, não é loucura, paranoia, coincidência nem algo sobrenatural”, argumenta a parapsicóloga Márcia Cobêro, professora do Centro Latino-Americano de Parapsicologia (Clap). “É uma faculdade natural que todos têm, mas poucos se dão conta.” Segundo Márcia, a primeira reação das pessoas que têm premonições é achar que possuem um dom. O segundo passo é temer esse dom. Quando começou a ter premonições, o corretor de imóveis de Santo André (SP) Robson Leiva Lazarini ficou assustado e procurou ajuda na religião – primeiro católica, depois batista. Também criou o blog Sonhos Premonitórios (www.premonitoriosonho.blogspot.com), no ano passado. “As pessoas me mandam e-mails para tirar dúvidas. Não sou especialista, mas tento ajudar contando minha experiência.” Uma das que mais o impressionaram foi com um avião que tentava levantar voo no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, não conseguia, virava para a esquerda e batia num prédio baixo. No dia seguinte, foi buscar um cliente no aeroporto e ficou com muito medo que acontecesse algo com o jatinho dele. Quando o cliente aterrissou, respirou aliviado. Minutos depois, o avião da TAM, voo 3054, colidiu com o prédio da própria empresa após tentar arremeter num dia chuvoso. Lazarini ficou arrasado. “Mas o que eu posso fazer com esses sonhos? Ligar para a Anac e avisar? Não sei o que fazer com eles, então resolvi pelo menos registrar os mais recentes no blog.”
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REDE 
O corretor Robson Lazarini conta suas premonições,
como a de um acidente de avião, em um blog
A paulistana Carolina Oliveira, 33 anos, gerente de marketing , também foi buscar ajuda para lidar com os eventos estranhos que rondavam sua vida. Há dois anos, ela passou a se sentir parte de um roteiro de filme do além. Luzes que acendiam logo após ela ter apagado, barulhos estranhos e fortes intuições do que estava para acontecer – a tal premonição. Quando morava na Itália, uma amiga apresentou um casal e ela, na mesma hora, sem nenhuma informação, viu os dois se separando em pouco tempo. A amiga negou e disse que eles se davam muito bem. Três meses depois, aconteceu o rompimento. “No começo eu tinha muito medo”, recorda Carolina. “Por isso procurei o espiritismo.” Hoje, ela atribui todos os acontecimentos aos espíritos que a guiam e ajudam no dia a dia. E garante que a vida ficou melhor ao saber lidar com esses episódios.
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REAL
A arquiteta Silvia Arruda anteviu a traição
do namorado e o advento do Plano Cruzado
“Não existe, até hoje, um estudo que comprove como isso acontece biologicamente. É metafísico e não sabemos como se dá. Mas é inegável que é importante como um processo de autoconhecimento”, destaca o neurologista Luciano Ribeiro, do Instituto do Sono, de São Paulo. Foi essa preocupação que levou a psicóloga Fátima Regina Machado a fazer sua tese de doutorado “Experiências Anômalas na Vida Cotidiana”, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2010. Segundo ela, o objetivo era justamente chamar a atenção da comunidade acadêmica e dos profissionais da saúde para a importância das percepções extrassensoriais. “Compreendê-las é auxiliar o ser humano a lidar com elas”, destaca. Afinal, argumenta a psicóloga, mesmo sendo um tema marginalizado pela academia, são eventos que “insistem em acontecer” desde que o mundo é mundo.
Na vida da funcionária pública alagoana Maria Erilene Pereira, premonições e fortes intuições insistem em acontecer há algum tempo. Como quando, relaxando em uma rede, ela teve um insight com o filho mais velho, que havia saído com o carro à noite pela primeira vez. Erilene teve uma visão de um sinal próximo de sua casa. Sentiu um aperto no peito e ficou com receio de que acontecesse algo quando o filho passasse por ali. Ligou para ele e pediu que voltasse para casa. O jovem tentou acalmá-la, dizendo que estava tudo bem. Horas depois, ligou, aflito: havia batido o carro naquele local. “Tivemos sorte, só o veículo sofreu danos sérios. Ele ficou bem”, relembra. Muito pior foi o sonho no qual um de seus cunhados recolhia pedaços de um corpo após um acidente de carro. Dois meses depois ela perdeu um outro cunhado numa batida. E aquele do sonho, que recolhia os pedaços, foi o primeiro a chegar ao local do acidente. Os eventos ajudaram Erilene a cuidar de sua espiritualidade e se sintonizar mais com sua intuição. “Isso me ajuda a me conhecer melhor.”
Rory Coker, o físico americano que se dedica a denunciar os malefícios da pseudociência, acredita que tudo não passa de probabilidades. “Se toda vez que um parente meu sofresse algo eu sentisse, aí sim seria um fenômeno a ser examinado. Mas isso acontece muito de vez em quando e, portanto, fica dentro das estatísticas”, diz. No entanto, ele admira a coragem de pesquisadores como Daryl Bem. “É saudável que existam cientistas rebeldes que estão sempre imaginando como trilhar novos caminhos, por mais ­absurdos que eles soem aos nossos ouvidos.” Não à toa, Bem termina seu trabalho citando o diálogo da Rainha Branca e de Alice que abrem esta reportagem. O professor diz que 34% dos psicólogos que estão nas universidades concordam com Alice. E finaliza: “Quem sabe esse estudo não incentive os outros 66% dos meus colegas a investigar ao menos uma coisa anormal por dia.” Afinal, premonições são como as bruxas. Você pode até não acreditar nelas, mas que elas existem, ah, existem.
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