quarta-feira, 19 de abril de 2017

Adentrando o Reino dos Céus


Por Tiago Navarro 
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus.” [i];
 “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus.” [ii];
“Disse, então, Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no Reino dos Céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus.” [iii];
 “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o Reino dos Céus; e nem vós entrais, nem deixais entrar aos que estão entrando.” [iv]

Quando nos deparamos com essas falas de Jesus, no primeiro momento, nos causa um certo estranhamento, pois, a entrada no Reino dos Céus, se desenha como sendo em um determinado local, de dimensões geográficas. Entrar no Reino dos Céus, nesta ótica, tem a mesma imagem de se entrar num reino da idade média – precisa-se ultrapassar o pórtico, e ter a permissão do senhor para adentrar aquele local protegido do tumulto externo e de todas as mazelas e violências.

Sabemos que jesus estava a trazer um ensinamento espiritual, e neste contexto, ele se valia de valores e conceitos materiais, de conhecimento amplo da população, para inserir os novos ensinamentos, sem ferir e derrogar as “leis” já estabelecidas na sociedade. Este é o fato do porquê, no primeiro contato com essas palavras, sejamos induzidos a acreditar, que ele falava de um Reino dos Céus geográfico. Para melhor compreender o Reino dos Céus, preciso é, não mais “ver” os ensinamentos do mestre, com os “olhos” da matéria. Naquele tempo, Jesus avisou-nos que mais tarde viria o Espirito da Verdade, “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.[v]

No Livro dos Espíritos, mas especificamente nos Capítulos 3 e 4, encontramos respostas acerca do retorno da vida corpórea a vida espiritual e da pluralidade das existências, possibilitando a compreensão do sentido da “entrada no Reino dos Céus”. Como a vida no plano espiritual (ou em quais reinos habitaremos) será determinada pelas nossas ações na vida física, devemos nos empenhar em adquirir credenciais morais para termos acessos a reinos menos ligados aos costumes terrenos.

Jesus em vários momentos utilizou a imagem do grão de uma semente para iniciar a fala da entrada no Reino dos Céus.
“E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.” [vi];
“Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos Céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.” [vii];
Outra parábola lhes propôs, dizendo: 
“O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos.” [viii].
A semente, compreendida nestas parábolas, se apresenta em uma vida – limitada e curta – para depois morrer e renascer (em uma nova vestimenta, porém, em igual essência) como uma frondosa árvore, com vida em abundância, vida longa e repleta de possibilidades.

E como Paulo anunciou na primeira carta aos Coríntios, Jesus só ressuscitou por ter dois corpos, o material e o espiritual[ix]. Assim como todos nós, iremos morrer no plano físico, e renascer no plano espiritual ou Reino dos Céus. Mas Jesus também nos aconselhava a irmos despertando nossa consciência para nossa realidade espiritual. Deveríamos nos acostumar com o Reino dos Céus, indo até ele (o plano espiritual) através dele (o Cristo, ou o corpo espiritual) enquanto estivéssemos vivendo no corpo físico, praticando as bem-aventuranças.

As bem-aventuranças, seriam então o caminho do desapego à realidade física e objetiva do reinado da matéria. Indo nesta direção podemos tomar consciência dos nossos dons espirituais (mediunidade, ou os talentos, porções da herança que recebemos em cada nova reencarnação) e perceber que na verdade, a nossa vida de fato é a espiritual, e que a vida corporal é apenas uma etapa inicial de germinação de potências, que se repete a um determinado período de tempo.



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[i] Mateus 5:20
[ii] Mateus 7:21
[iii] Mateus 19:23-24; Marcos 10:24-25; Lucas 24:26
[iv] Mateus 23:13
[v] João 14:15-17
[vi] Mateus 13:39; Marcos 4:3-9; Lucas 8:4-8
[vii] Mateus 13:24-30
[viii] Mateus 13: 31-32; Marcos 4:30-32; Lucas 13:18-19
[ix] 1 Coríntios 15:35-58

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