segunda-feira, 20 de maio de 2013

PSICOLOGIA: A CRISE EM GRUPOS


Por Miréia Maria Joau de Carvalho
Psicóloga Clínica – abordagens: Psicanálise Reichiana, Bioenergética, Biossíntese, Biointegrativa e Ayurveda.


No campo da Psicologia, o conceito de crise é explicado como toda a situação de mudança em nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou de um grupo, um esforço suplementar para manter o equilíbrio ou estabilidade emocional. Corresponde a momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo em que há ruptura na sua homeostase psíquica e perda ou mudança dos elementos estabilizadores habituais, os quais cada participante elabora individualmente e/ou coletivamente.
A crise pode ser definida como uma fase de perda, ou uma fase de substituições rápidas, a chegada do novo, que coloca em questão o equilíbrio da pessoa. Torna-se, então, muito importante a atitude e comportamento das pessoas em face de momentos como este. É fundamental a forma como os componentes da crise são vividos, elaborados e utilizados subjetivamente.
A evolução da crise pode ser benéfica ou maléfica, dependendo de fatores que podem ser tanto externos (intolerância, rigidez, falta de comunicação, hostilidades), como internos (fantasias, sombra, projeções e transferências). Toda crise conduz necessariamente a um aumento da vulnerabilidade psicológica. Mas nem toda crise é necessariamente um momento de risco. Pode, eventualmente, evoluir negativamente quando os recursos pessoais estão diminuídos e a intensidade do estresse vivenciado pela pessoa ultrapassa a sua capacidade de adaptação e de reação no e ao grupo.
Mas a crise é vista, de igual modo, como uma ocasião de crescimento. A evolução favorável de uma crise conduz a um desenvolvimento, à criação de novos equilíbrios, ao reforço da pessoa e do grupo na capacidade de reação a situações menos agradáveis e a mudança. Todas as ocorrências que acontecem em um grupo têm como objetivo a mudança - (individual e coletiva). A mudança é o objetivo primordial de todo grupo operativo.
Assim sendo, a crise evolui no sentido da regressão, quando a pessoa ou o grupo não conseguem ultrapassar as barreiras psicológicas, ou no sentido do desenvolvimento, quando a crise é favorável e é vivida como experiência. Este é um movimento dialético (tese-antítese-síntese), que colabora na estruturação – desestruturação e reestruturação.
O momento de crise é caracterizado por desestruturação. O que eu pensava que sabia, não sei mais; o que eu achava que entendia,não entendo mais; o que eu achava que poderia controlar, já não consigo controlar mais; o que eu imaginava que não sentiria, me faz sentir e sofrer. É um momento de checagem do que possuo, e do que posso transformar. É como se estivéssemos diante de uma encruzilhada e nos perguntássemos qual o rumo a escolher?
Neste momento, os valores e experiências são repensados e questionados podendo possibilitar uma mudança ou uma paralisação. O sentimento sempre é de fuga, como não conseguíssemos conviver com ninguém do grupo. Sintomas como: faltar às atividades, não terminar um trabalho ou até sair no meio de uma vivência nos mostra o sofrimento e a angústia refletidos na resistência que impede a mudança do velho para o novo.
O nosso comportamento deve nos permitir desafios, aventuras e persistência com uma atitude de eterno aprendiz. Uma história oriental ilustra bem isto: 
Certo sábio foi a uma reunião para ouvir O Mestre dos mestres, e, se dirigindo até ele foi de avental (este avental representava roupa de estudante). Todos os outros sábios se entreolharam espantados, e falaram que ele deveria tirar o avental, afinal ali era apenas um encontro de saberes. Ele respondeu: o avental é para eu nunca esquecer que sou um aprendiz.
Ser aprendiz é não ter medo de experimentar e experenciar ilimitadamente tudo que existe no mundo que está sendo representado no grupo, captar a sua essência das coisas e exprimi-la de alguma forma. Talvez isto possa aclarar o que seja um modelo de relação. Este experenciar implica em um jogo de emoções e afetos. Entrar em contato com estas emoções e afetos nem sempre nos é comum, haja vista não fomos educados para tal. Nos causa medo, ansiedade, angustia.
Entrar em contato com emoções e afetos que muitas vezes se antagonizam com novos modelos de pensar, sentir e agir nos traz sofrimento e rejeição. Pensem: não há transformação repentina. Afinal o amanhecer não acontece de repente, mas paulatinamente. Esse acontecimento que se dá com o nascer do sol, suas luzes, sombras, mudança de temperatura nos causam distintas sensações.
Desta forma, várias pessoas vão rompendo estas sensações no silêncio, vão problematizando e refletindo. Para uns, indícios de mudança, enquanto outros se comportam como porta vozes de insatisfações vividas em nível grupal. São as vozes que rompem o silêncio de muitas outras pessoas, e deixam fendas, ouvidos surdos, e vão penetrando gradativamente em seus interiores, até que possam destampar os ouvidos e olhos. São dores, gritos e pedidos de socorro: "não estou aguentando mais resistir".
Cada grupo, em função de seus fins, articula materialmente a experiência das pessoas. Estas experiências que para uns são reveladoras, para outros são dores profundas. 
O grupo sempre exerce pressão para conseguir uma uniformidade de rendimento entre os integrantes, o que pode inibir o investimento criativo e provocar resistência. É um momento de revelação das sombras, das projeções e das transferências, ora inconscientes, ora avassaladoras e pré-conscientes, mas que precisam que aconteçam para que os integrantes se vejam e se vejam no outro.
Importante na crise é não perdermos o sentido de trans-formar que significa formação contínua e co-partilhada entre os integrantes do grupo, propiciando o exercício nas atitudes de mudança. Não esquecer que a mudança e a resistência à mudança são pólos opostos do processo de transformação. Quando resisto sofro e quando sofro tenho que culpar alguém.
É um fazer que implica em trans-formação: movimento que vai além da ação de alguém sobre o outro, é um processo de estruturação permanente. É um movimento em que se articulam mudanças e resistências das próprias pessoas, entre elas, e delas com o fazer conjunto. 
A transformação supõe que as pessoas queiram juntas, enfrentar o novo, propondo-se a desenvolver capacidades inovadoras de envolver-se com a realidade para transformá-la. É um movimento que inclui o conhecido e o desconhecido, a progressão (entendimento e mudança) e regressão (crise e resistência), com os acertos e os equívocos.
Desta forma, a crise em um grupo não deve ser entendida como algo ruim, mas como uma forma de desenvolvimento onde o fazer conjunto comporta acertos e desacertos, articulações e desarticulações nas relações interpessoais. São situações de conflito na resolução de problemas que vão surgindo no grupo. A crise é própria do desenvolvimento humano, são crises evolutivas que nos permitem aprender novos modos de pensar, sentir e agir. As crises são também graves acontecimentos que rompem padrões tradicionais de comportamento. São momentos de instabilidade onde a ORDEM MAIOR deixa de existir e a NOVA ORDEM ainda não é suficiente clara para fornecer parâmetros de novos comportamentos. São distintos níveis afetados e ativando os mecanismos de mudança. 
Se os componentes do grupo se colocarem de maneira ativa e criativa, ao invés de impotentes e passivos, resgatarão sua história pessoal, grupal e institucional. Neste resgate fortalecerão a própria identidade, e sairão da crise o que implicará em MUDANÇAS, individuais e grupais. Não esqueçam que o maior corajoso é aquele que tem coragem de vencer a si mesmo.

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