De forma habitual, buscamos a segurança em todas as instâncias de nossas vidas. Segurança financeira, afetiva, física e espiritual. Essa busca é válida quando é fundamentada na necessidade de nos mover, para aperfeiçoarmos valores que consideramos frágeis ou desnecessários. Porém, em alguns casos, nos apegamos a essa segurança pelo simples fato de temermos o que virá após essa transformação.
Um exemplo desse processo é a busca por uma melhor qualidade de vida. Temos em nossa sociedade alguns institutos catedráticos que dedicam horas em pesquisas, na busca de normatizar o que seria a qualidade de vida necessária a cada um de nós. A partir desse padrão pré-estabelecido, partirmos para atingir esta meta almejada. Dedicamos horas e esforços até que, quase invariavelmente, chegamos à conclusão de que ficou faltando algo ao final do percurso.
Essa lacuna quase sempre é preenchida por um outro esforço, ainda mais árduo, e muito mais recompensador. Nesta década, surgiu um movimento denominado "Minimalismo", onde a base filosófica estabelece o uso consciente dos bens de consumo, se desapegar de todo e qualquer bem que não tenha serventia, como por exemplo, móveis, roupas, utensílios domésticos, que em 3 meses não tiveram um uso considerável; ou ainda, possuir carros que atendam a necessidade de locomoção e não para definir status social.
Nas passagens neotestamentárias, encontramos recorrentemente a figura dos Fariseus e Saduceus confrontando Jesus, porque consideravam um perigo os ensinos do nazareno. Podemos, a título didático, atualizar as personagens dessas passagens, onde os Fariseus e os Saduceus seriam, respectivamente, os políticos e grandes empresários, ditando regras, impondo metas, alimentando disputas de poder, e levando a sociedade a trocar seus direitos por deveres, impedindo que o povo hebreu pudesse exercer a liberdade de escolha e praticar a força do querer; e do outro lado, Jesus seria o "minimalista", propondo ao seu povo um despertar sobre a necessidade de acumular bens, repensar a importância do ter em detrimento do ser, trazendo um convite ao desapego da matéria.
Esse é um típico movimento que nos chama a atenção para o modelo econômico, de consumo, e de convivência no planeta; a repensarmos o quanto estamos dando importância à necessidade de termos em detrimento de sermos. A experiência de nos humanizar – informações espirituais, ainda estamos iniciando o processo de nos humanizar, no aperfeiçoamento dos instintos em emoções e das sensações em sentimentos – é feita de experimentações, reflexões, e retorno às experimentações. Quando, em algum momento da nossa vida, sentimos a necessidade de tentar entender o que significa este vazio que sentimos, será um belo passo para compreender para onde estamos a trilhar.
Estamos em constante trânsito; sempre nos deslocando de um ponto a outro, de um estado a outro, faz parte do processo de amadurecimento mental, espiritual. E justamente neste processo de transição, somos convidados a pensar o quanto é primaz trocar o porvir pela segurança conquistada. Não proponho dizer "sim" a tudo que nos chega, não. Proponho uma postura espírita, de fato e ato. Do que adianta tanto estudo e tanta palestra, se não somos capazes de adquirirmos autonomia, poder de introjeção e decisão para produzirmos novos valores, que nos habilitará a escolher entre a esperança de atingir metas através de valores que ainda não possuímos e, em contrapartida, a fé de atingir as mesas metas através de valores que já temos noção possuir.
Toda vez que um mentor, um guia, ou um dirigente nos diz que é indispensável estudarmos, na verdade, não é um pedido para nos tornarmos intelectuais, catedráticos ou esnobes pensadores espíritas; na realidade, o desejo deles é que possamos descortinar nossas mentes, aclarando nossas ideias e pensamentos para uma visão generalista e abrangente, olvidando a extensão universal, possibilitando ver o outro como nos vemos, e que esse olhar interno seja de amor em movimento, indulgência e benevolência.
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