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terça-feira, 2 de maio de 2017

INFLUÊNCIAS DE PENSAMENTOS

Por Tiago Navarro

“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois que é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.” (...)”Não pode haver divisão de um mesmo Espírito; mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide.” (...)”Essa força depende do grau de pureza de cada um.”(O Livro dos Espíritos, 2ª Parte, capitulo 1, Questões 89 e 92.)




Como foi dito por Kardec, “Cada Espírito é uma unidade indivisível, mas cada um pode lançar seus pensamentos para diversos lados (...) Dá-se com eles o que se dá com uma centelha, que projeta longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte; ou, ainda, o que se dá com um homem que, sem mudar de lugar e sem se fracionar, transmite ordens, sinais e movimento a diferentes pontos”, deste modo, o pensamento se irradia a distâncias ilimitadas, porém, como vivemos numa realidade material, nos limitamos às percepções físicas, e isso nos restringe a compreender somente alguns metros desse pensamento.

Um espírito mais evoluído[i] conseguirá compreender o pensamento em maior extensão. Seria o mesmo que observar a terra da lua, os continentes perderiam suas delimitações, e passariam a ser um grande todo. Acontece o mesmo com o nosso pensamento. Os 5 sentidos nos fazem acreditar que ele é fragmentário, personalizado às nossas limitações, e que o outro deve sempre se adequar a quem somos.

“O pensamento é, sem dúvida, força criadora de nossa própria alma e, por isto mesmo, é a continuação de nós mesmos. Através dele, atuamos no meio em que vivemos e agimos, estabelecendo o padrão de nossa influência, no bem ou no mal.“ [ii].

Enquanto encarnados, vivenciamos um grande dilema – até que ponto o que pensamos, o que tomamos como verdade, ou o que acreditamos serem opiniões nossas, são de fato, produções pessoais? Asseveram os espíritos, que “Quando um pensamento vos é sugerido, tendes a impressão de que alguém vos fala. Geralmente, os pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. Mas, afinal, não vos é de grande interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibais fazê-la. Não a fazendo, obra o homem com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.” [iii]

Essa é uma problemática que não diz respeito apenas aos médiuns ostensivos, e aos trabalhos mediúnicos, mas todos os que aqui estão encarnados podem perceber essas influenciações de pensamentos. Quantos de nós já não acreditou que, para se enquadrar em algum grupo ou conquistar algum espaço na sociedade, teríamos que passar a testemunhar algum pensamento que não fosse o nosso? Vivemos em um momento onde precisamos definir e defender qual o pensamento que adotamos, se gostamos de A ou B, se queremos que a opinião pública de um lado ou do outro seja absoluta e se torne prevalecente, se queremos morar com nosso pai ou nossa mãe, se é melhor comprar uma casa ou aluga-la, se já é hora de trocar de carro, ou continuar com o seminovo. A quantidade de pensamentos que nos influenciam é enorme, mas nunca perguntamos se já não é hora de combate-los.

“Esta influência é de todos os instantes e mesmo os que não se ocupam com os Espíritos, ou até não creem neles, estão expostos a sofrê-la, como os outros e mesmo mais do que os outros, porque não têm com que a contrabalancem.” (...)”A quantos atos não é o homem impelido, para desgraça sua, e que teria evitado, se dispusesse de um meio de esclarecer-se! Os incrédulos não imaginam enunciar uma verdade, quando dizem de um homem que se transvia obstinadamente: ‘É o seu mau gênio que o impele à própria perda.’ Assim, o conhecimento do Espiritismo, longe de facilitar o predomínio dos maus Espíritos, há de ter como resultado, em tempo mais ou menos próximo, e quando se achar propagado, destruir esse predomínio, dando a cada um os meios de se pôr em guarda contra as sugestões deles. Aquele então que sucumbir só de si terá que se queixar.” [iv]

O grande objetivo da reforma de pensamentos proposta pela doutrina espírita, era e é, justamente, a necessidade eminente de nos conhecermos, de maneira integral, e sem martírios, acessando conteúdos até então ignorados, e/ou negligenciados, para romper o vínculo ”vítima-algoz”, que nos faça despertar o senso de que coabitamos um planeta, e que cada pensamento nosso, e cada ação nossa, repercute em todas as individualidades deste planeta. Neste descortinar de mentes, foi dito pelos Espíritos à Kardec, que o homem, em sua marcha ascensional, precisaria progredir em dois aspectos – na inteligência e na moral, onde o progresso moral “Decorre deste, o progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. Onde o progresso intelectual engendraria o progresso moral, fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos. O progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos, só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. A moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se.” [v]

A partir do momento que vamos percebendo nossas limitações e reconhecendo nossa necessidade de transformação, passamos a usufruir da possibilidade de captar de forma intuitiva porções menos customizadas dos pensamentos emanados ao nosso redor. Pois, “Somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as paixões más; somente esse progresso pode fazer que entre os homens reinem a concórdia, a paz, a fraternidade. Será ele que deitará por terra as barreiras que separam os povos, que fará caiam os preconceitos de casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se considerarem irmãos que têm por dever auxiliarem-se mutuamente e não destinados a viver à custa uns dos outros. Será ainda o progresso moral que, secundado então pelo da inteligência, confundirá os homens numa mesma crença fundada nas verdades eternas, não sujeitas a controvérsias e, em consequência, aceitáveis por todos. A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos, pelos outros, como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados.” [vi]

Esse é o nosso desafio enquanto seres imortais, experienciando existências materiais – estar nela para poder encontrar caminhos que nos impulsionem à frente, aos destinos estabelecidos na nossa criação.






[i]                 A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Essa classificação, aliás, nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta caráter definido. De um grau a outro a transição é insensível, nos limites os matizes se apagam, como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou, também, como nos diferentes períodos da vida do homem. Podem, pois, formar-se maior ou menor número de classes, conforme o ponto de vista donde se considere a questão. Dá-se aqui o que se dá com todos os sistemas de classificação científica, que podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a compreensão. Sejam, porém, quais forem, em nada alteram o fundo da ciência. Assim, é natural que inquiridos sobre este ponto, hajam os Espíritos divergido quanto ao número das categorias, sem que isso tenha nenhuma consequência. Entretanto, não faltou quem se agarrasse a esta contradição aparente, sem refletir que os Espíritos nenhuma importância ligam ao que é puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo. Deixam-nos a nós a forma, a escolha dos termos, as classificações, numa palavra, os sistemas. (Questão 100 de O Livro dos Espíritos, 2ª Parte, Capítulo 1).
[ii]                 LibertaçãoAndré Luiz por Francisco Cândido Xavier, pag. 218.
[iii]                Questão 461 de O Livro dos Espíritos, 2ª Parte, Capítulo 9.
[iv]                Questão 244 de O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Capítulo 23.
[vi]                Item 19 de A Gênese, Capítulo 18.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Ser Espirita é difícil?


Por Miréia Carvalho, SEEB


Ser Espirita é difícil?

Parece que sim.

Quando estamos sofrendo buscamos pessoas, lugares, religiões para nos amparar – temos muito medo. O espiritismo por ser esclarecedor e consolador, é um lugar ótimo, até que nos deparamos com o trabalho, a mudança e as responsabilidades.

Quando voltamos à normalidade, dos momentos sem dores, esquecemos pessoas, lugares e a religião que nos fez tão bem. O discurso proferido é o de que nós somos responsáveis por nós mesmos e ninguém poderá nos fazer feliz. Que dilema...

O tempo todo estamos driblando a nós mesmos. Quer tal reconhecermos que a razão de nossas vidas somos nós mesmos, e que não poderemos viver sozinhos e sem uma religiosidade?

Leon Dénis nos fala que "Deus em sua infinita misericórdia corrige o transgressor de suas Leis através dos sofrimentos necessários e ao mesmo tempo permite a renovação, dando oportunidade de realizar o bem, às vezes sem o saber, resultando em benefícios para si próprios e para a sociedade. Então o sofrimento é real. Não podemos fugir dele, faz parte da Lei do Progresso". Você concorda?

O problema é que somos imediatistas e queremos resultados rápidos, felicidade rápida, saúde perfeita e eterna sem esforços, sem nos vermos, sem nos responsabilizarmos, sem interagirmos com pessoas, sejam fáceis ou difíceis.

Uma forma de fugir da responsabilidade do trabalho é buscar se comparar com o problema dos outros e pensar: "Ah, não é só eu, o outro também tem problemas..." Filhos problemáticos, doença em família, problema de dinheiro, casamentos infelizes e aí... estaciona. Abandona o trabalho espírita, em busca de ilusões.

Hoje somos Espíritos intelectuais, mas com grande dificuldade de construirmos padrões morais em nossas vidas pelos hábitos e vícios de vidas pregressas. Daí o problema da não felicidade. Porque o conceito de não felicidade está subordinado a satisfação de nossos desejos como nos fala Simonetti: "A felicidade não está subordinada à satisfação dos nossos desejos diante da vida e, sim, ao desejo de entender o que a vida espera de nós." Tudo na vida é resultado de exercício, de mudança na forma de pensar e agir.

Portanto, podemos ser felizes, porém a felicidade e a harmonia que buscamos, seja com a natureza, com os animais, com a família, ou na religião abraçada, consiste em fazer os outros felizes – ALTRUÍSMO –, e não em querer que os outros nos façam felizes – EGOÍSMO. Além de negligenciarmos a máxima do comportamento crístico: "Só faça aos outros o que gostaríeis que fosse feito a você".

Por isso é tão difícil ser Espírita. Vivenciar está doutrina com amor, humildade e perseverança.

Como dizia Kardec: "Trabalho, Solidariedade e Tolerância".

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A respeito da médica que se diz espírita e se recusou a atender uma menina de 7 anos que foi violentada pelo tio


Médica sugeriu que vítima foi violentada por problema em "vidas passadas"


Por Vanessa Quadros, SEEB

O CASO: "Uma médica ginecologista foi condenada por danos morais pela Justiça de Mato Grosso por ter dito à mãe de uma menina vítima de estupro que o crime foi cometido por culpa da criança. Segundo o processo, a médica afirmou que a vítima tinha "uma energia sexual que puxou o tio para ter sexo com ela" e que não atenderia a criança, atualmente com sete anos de idade, porque não queria se envolver naquele "problema espiritual".
O caso aconteceu em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá. O processo está sob sigilo e não foi divulgada a data dos fatos. Conforme a decisão, que é da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJMT), a médica terá que pagar indenização de R$ 10 mil à mãe da menina.
Conforme informações do TJMT, a mãe da criança procurou a médica para uma consulta porque a filha estava com sequelas provocadas pelo estupro sofrido pelo tio um ano antes. Porém, por telefone, a ginecologista disse à mulher que não queria fazer o atendimento e que o crime teria sido cometido por culpa da menina. A conversa foi gravada.

“A sua filha não é vítima de nada, ela tem que se responsabilizar”, disse a médica à mãe, segundo consta do processo. Por telefone, a ginecologista disse que era espírita, que a menina havia tido "outras vidas" e que, na vida atual, nasceu "com esse problema para resolver" e que por essa razão "ninguém é vítima de nada". "Se o cara [o agressor sexual] tem uma energia sexual, se liga a uma criança, ela [a criança] vai e pratica". Assim, na avaliação da médica, a menina tem responsabilidade pelo crime, “já [que] nasceu com um problemão para resolver nesta vida”. (Fonte: G1)

Em pleno século XXI, é impressionante que o Espiritismo ainda é utilizado de forma a justificar preconceitos sociais e más condutas de profissionais que deveriam ser exemplos para sociedade de cuidado, amor e benevolência. Uma doutrina que tem como base os ensinamentos de Jesus; que incentiva a igualdade de gênero e a idéia de humildade; uma doutrina que incentiva a idéia de que somos todos espíritos em aprendizado; onde deixa bem claro que não podemos nos colocar como ditadores da moral alheia; que coloca bem claramente que nós não temos como saber as vidas passadas das criaturas, nem as nossas, salvo exceções, e a moral de ninguém, ainda é erroneamente colocada como um pseudo-catolicismo punitivo, que utiliza da idéia do "olho por olho, dente por dente", incentivando que a vingança e as provações provocadas ao espírito encarnado são completamente providenciais e justas pela conduta obtida em vidas passadas, como se isso justificasse de alguma forma as dores dessas almas.

Existe uma enorme diferença entre a justiça de Deus (leia-se de Deus, e não da humanidade), que é baseada no livre-arbítrio de cada um e nas Leis de Deus que estão em nossa consciência, e a visualização e identificação de condutas que ferem o livre-arbítrio do ser para o ser, como o estupro e o assassinato, que, além de condutas que vão de encontro as leis humanas e dos direitos humanos, são contrárias às leis morais descritas no Livro dos Espíritos. 

Mas, o que é livre-arbítrio? O que são leis de Deus e leis morais? Onde se aplicam, e como podemos relacionar essa notícia com o Espiritismo e o que a doutrina realmente diz? 

Vamos mostrar um pouco de como o verdadeiro Espiritismo se aplicaria nessa história, e tentar mostrar o que é que a doutrina Kardecista realmente diz, e não o que pessoas que desconhecem da codificação acham que ela diz. 

LEI DE CONSERVAÇÃO:
719. O homem deve ser censurado por procurar o bem-estar? 
O bem estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação. Ele não condena a procura pelo bem-estar, desde que não seja conseguido à custa de outras pessoas, nem venha diminuir as vossas forças físicas e morais. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: uma garota de 7 anos foi estuprada (leia-se estuprada; ou seja, teve sua liberdade censurada por alguém, foi violada, violentada) e estava sofrendo de sequelas do acontecimento. Seria errado ela procurar alívio de suas dores físicas? (Não entramos nem no mérito de merecimento, visto que, qualquer pessoa que acredite na Lei de Amor e que tenha o mínimo de empatia, vai compreender do que estamos falando nesse momento)

720. As privações voluntárias, que visam a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?
Fazei o bem aos outros e mais mérito tereis. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: uma médica que se diz espírita, está fazendo o bem ao privar o alívio do bem-estar de uma jovem que está em sofrimento? 

754. A crueldade não resulta da ausência de senso moral?
Dizei que o senso moral não está desenvolvido, mas não digais que esteja ausente, porque ele existe, em principio, em todos os homens. Mais tarde, esse senso moral fará com que os homens cruéis se tornem seres bons e humanos. O senso moral, portando, existe no selvagem, mas nele está como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: Como visualizar o estupro, e o que seria esse ato de crueldade, independente de qualquer lei de causa e efeito que possa ser mencionado futuramente. 

LEI DE IGUALDADE:
817. O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?
Deus não deu a ambos o conhecimento do bem e do mal e a faculdade de progredir?

818. De onde procede a inferioridade moral da mulher em certos países?
Do domínio injusto e cruel que o homem assumiu sobre ela. É resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito.
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: Vivemos hoje em uma Cultura do Estupro. O que é isso? É a idéia de que as mulheres podem ser objetificadas e tem que ser submissas ao homem, reivindicando de sua liberdade para atender os mais diversos desejos morais e sexuais. Quando a mulher não é submissa, ela "pode" ser estuprada, pois a sociedade fecha os olhos e culpabiliza a mulher pelo estupro, justificando o mesmo com a sua roupa, conduta social, ou, utilizando das palavras da médica "vidas passadas". É bom deixar claro que o estupro é uma violação ao livre-arbítrio da criatura, e que diz mais respeito a moral do estuprador do que da mulher estuprada. (Nesse caso, infelizmente, não era uma mulher, era uma criança de 7 anos...)

822. Sendo os homens e mulheres iguais perante a Lei de Deus, devem sê-lo igualmente perante as leis humanas?
O primeiro princípio de justiça é este: "Não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem.
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: A idéia de que não se deve fazer ao outro o que não gostaria que fosse feito a você implica na médica verificar se a atitude de não-benevolência e não-caridade para com a menina é algo que ela gostaria que fosse repetida com ela ou com a filha ou filho dela. Nada dito aqui vai de encontro com a justiça divina, cujo propósito é simples e puramente a consolação da dor dos aflitos. 


LEI DE LIBERDADE:
826. Em que condições o homem poderia gozar de absoluta liberdade? 
Nas do eremita do deserto. "Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitados, e portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta."

827. A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o direito de ser senhor de si mesmo?
De modo algum, pois é um direito que lhe vem da natureza. 
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: Entendendo que, homens e mulheres são iguais perante Deus, e que ambos tem liberdade para serem senhores e senhoras de si, um homem que se apodera do direito de dizer "não" de uma mulher, ou do direito de dizer "não" de uma criança, ou da falta de reconhecimento de que uma criança não tem condições físicas e psicológicas para arcar com um ato sexual, está usurpando o direito de liberdade das mesmas. Indo assim, de encontro com as leis de liberdade contidas no Livro dos Espíritos. Onde está a responsabilidade da garotinha? Em lugar nenhum. Ela foi vítima de uma situação de violência, e deveria ser acolhida e ter suas dores físicas e psicológicas respeitadas, para que não se usurpe dela também, a vontade de viver. 

LEI DE AMOR, JUSTIÇA E CARIDADE:

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, tal como Jesus a entendia?
Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. 
OBS: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos)

Como se aplica na história: A médica recusou atendimento para uma criança de 7 anos devido a sua suposta mediunidade, que indicaram atitudes realizadas pela criança em uma vida passada. Ela julgou a mesma pelos atos que ela supostamente cometera, e ao invés de perdoar, ela faltou com a caridade e negou um serviço médico. Ela não foi indulgente com as supostas imperfeições, visto que a mediunidade é uma ferramenta que necessita de estudo e investigações e não pode ser levada a ponta de faca, e nem ser utilizada para julgar ninguém, nem espíritos desencarnados, e nem encarnados (basta checar o livro dos médiuns e as obras imensas que falam sobre mediunidade). 

***

Uma real atitude espírita é oferecer a mão para ajudar não importa a quem, respeitando os direitos do próximo e os nossos. Eu espero que esse texto esclareça bastante, tanto a respeito da conduta espírita Kardecista, quanto a conduta não-espírita dessa médica para com uma criança e sua mãe. 

Apesar de estarmos nos posicionando nesse momento, defendendo a doutrina kardecista, não estamos em posição de cobrar absolutamente nada da conduta moral de ninguém. O objetivo desse texto é elucidar às pessoas os verdadeiros posicionamentos espíritas e evitar que o nome de Allan Kardec e da Doutrina Espírita Kardecista sejam indevidamente utilizados. 

Estamos também nos posicionando quanto essa cultura de estupro que assola o Brasil, e oferecendo apoio e esclarecimento a vítimas de quaisquer tipo de violência. Acreditamos na justiça divina e acreditamos que todos nós temos a força necessária dentro de nós mesmos para passar pelas mais diversas dificuldades, basta termos fé e acreditarmos em nós mesmos. Vamos transformar o mundo e distribuir mais perdão, caridade e amor. 

Vanessa Quadros, SEEB