Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio, desenvolver a sua inteligência. Tornou-se um autodidata sério e competente.
Aos 12 anos, concluiu o curso primário, mas a situação modesta da sua família não lhe permitiu grandes estudos. Desde cedo teve problemas de saúde física, com os olhos principalmente. Aos 16 anos, salientou-se como um dos melhores oradores e ardente propagandista. Aos 18, tornou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes, situação que se manteve até algum tempo após sua aposentadoria.
Era seu hábito olhar com interesse para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o chamado acaso fez com que sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro era O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, entregou-se com avidez à leitura. "Nele encontrei a solução clara, completa e lógica acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas".
O seu espírito, nessa hora, sentiu-se sacudido em face dos compromissos assumidos no Espaço, para iniciar, em breve, o trabalho de propagação das verdades kardequianas.
Encontrava-se em seus trabalhos de experimentações, quando um importante acontecimento se verificou em sua vida: Allan Kardec viera passar alguns dias na pacata cidade de Tours, com seus amigos. Todos os espíritas turenses foram convidados a recebê-lo e a saudá-lo.
Em 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um evento de capital importância produziu-se em sua vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele espírito que, durante meio século, havia de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual. Era o espírito Jerónimo de Praga, que lhe disse: "Vai meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar".
E como Léon Denis indagasse se o seu estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa, recebeu esta outra afirmativa: "Coragem, a recompensa será mais bela".
A partir de 1884, achou conveniente fazer palestras visando à maior difusão das idéias espíritas. Escreveu, em 1885, o trabalho O Porquê da Vida, no qual explica, com nitidez e simplicidade, o que é o Espiritismo. O êxito de seu livro Depois da Morte situara-o como escritor de primeira ordem. Os grandes jornais e revistas ecléticas solicitavam-no e as tiragens sucessivas desse livro esgotavam-se rapidamente.
A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi enfraquecendo dia-a-dia. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava com calma e resignação a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude.Mantinha volumosa correspondência e jamais se aborrecia. Amava a juventude, possuía a alegria da alma. Era inimigo da tristeza. O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande dificuldade para Denis consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar os amigos.
Em 1911, após despender não pequeno esforço no preparo da nova edição de O Problema do Ser, do Destino e da Dor, ficou gravemente doente com uma pneumonia. Foi o tratamento a tempo do seu médico que, num curto espaço de tempo, o colocou de novo em pé.
Léon estava parcialmente cego. Após a Primeira Guerra Mundial, aprendeu braile, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito.
Em 1915, iniciava ele uma nova série de artigos, repassados de poesia profunda e serena, sobre a voz das coisas, preconizando o retorno à natureza. Nesta época, um forte vento soprava contra a Codificação Kardequiana. O fenomenismo metapsiquista espalhava aos quatro ventos a doutrina do filósofo puro. Heuzé fazia muito barulho através do L'Opinion, com as suas entrevistas e comentários tendenciosos. Afirmava prematuramente que, à medida que a metapsíquica fosse avançando, o Espiritismo iria perdendo terreno. A sua profecia, no entanto, não se realizou. Aliás, como tantas outras que profetizaram o fim do Espiritismo. Após a vigorosa resposta de Jean Meyer na Revue Spirite, Léon Denis, por sua vez, entrou na discussão, na qualidade de presidente de honra da União Espírita Francesa, numa carta endereçada ao "Matin", na qual estabelecia, com admirável nitidez, a diferença entre Espiritismo e Metapsiquismo. A partir desse momento, Léon Denis teve que exercer grande atividade jornalística para responder às críticas e ataques de altos membros da Igreja Católica, saindo-se, como era de esperar, de maneira brilhante.
Em março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Neste mesmo mês, a Revue Spirite publicava o seu derradeiro artigo.
A pneumonia atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar de muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: "É preciso terminar, resumir e... concluir". Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Neste preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças para que pudesse articular outras palavras. Às 21h, o seu espírito calou-se.
Publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 09. Escrito por Mauro Bueno
Publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 09. Escrito por Mauro Bueno
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