quinta-feira, 7 de abril de 2011

A mensagem de Tetéu

Por Fábio Fideles, A Tribuna do Norte, Natal

Quem visitar a cidade natal de Chico Xavier encontrará uma típica e aprazível localidade mineira que preserva parte significativa da memória do Espiritismo, não só em seus arquivos ou logradouros relacionados com a vida do médium mineiro.
Célia Diniz, atual presidente do Centro Espírita Luiz Gonzaga, instituição em que Chico Xavier iniciou suas atividades espirituais, é bem a memória e o exemplo das marcas de esperança que Espiritismo pode produzir.
Corria o ano de 1983 quando seu filho, o pequeno Rangel Rodrigues Diniz, passeava em frente a sua casa. Vitimado por uma simples queda, sofreria intensas conseqüências daquele acontecimento aparentemente banal. Passados três dias, a partir do surgimento das primeiras convulsões, Célia e seu marido receberam, atônitos, a noticia do falecimento do amado Tetéu que, na época, contava com incompletos três anos de idade.
Nascido em uma família intimamente ligada ao movimento espírita da cidade de Pedro Leopoldo, Tetéu deixaria intensas saudades e enormes lições não apenas para seus parentes mais próximos.
Depois da triste ocorrência, Célia visitaria Chico Xavier, já estabelecido na cidade de Uberaba. Na atividade de psicografia, o médium veio a captar, em um momento emocionante, as palavras de Tetéu em uma mensagem profundamente elucidativa. Citando a presença do espírito Lico Diniz, pai de Célia e amigo do próprio Chico Xavier, Tetéu escreveu:

“Aqui o vovô Lico me disse que eu não fui para a nossa casa para ficar muito tempo e que minha cabeça não me permitia passear muito. Estou dizendo isso para o papai e a mamãe não ficarem preocupados. Papai Aguinaldo, o vovô Lico pede para você não desanimar com o serviço e não deixe a Tia Bete desmarcar as consultas. Papai, se eu estivesse aí, com a boca doente, você me trataria, pois os meninos e a gente grande que o procuram conforme penso hoje, são como eu mesmo. Já vi você falando com a vovó Dite que está desanimado, não fique assim, eu estou vivo e vou crescer. 
(...)
"Mamãe Célia, estou feliz com a fé que suas preces me oferecem.
Papai Aguinaldo, peço para que o seu coração esteja sorrindo. Vovó Lia abraçará todos por mim." 
Mais tarde, o próprio Chico comentaria sobre a situação espiritual de Tetéu e a necessidade de superação de maiores dores:
“O seu filhinho, hoje, é um espírito profundamente agradecido a você, pois você deu a ele um corpinho que funcionou como um escoadouro do aneurisma que ele trazia no cérebro perispiritual."
Em outra oportunidade, o médium serviu de intermediário para um recado do Sr. Lico que requisitava equilíbrio diante da dor e dificuldade:
 “Seu pai manda lhe dizer para agüentar a dor com dignidade. (...) Dê graças a Deus que, para você, o Evangelho tenha chegado antes da dor. Você não imagina o que passam as mães para as quais o Evangelho só chega depois. Dê graças a Deus!"
A carta de Tetéu, posteriormente anexada ao livro "Caravana de Amor", publicado pela Editora IDE, e inspiradora de uma das histórias relatadas pelo filme "As mães de Chico Xavier", foi exibida na Cidade do Natal na exposição "Chico Xavier: um homem chamado amor", causando muita comoção. A própria Célia não deixou de anotar casos curiosos ocorridos nessa oportunidade, conforme relatou em uma palestra proferida em Pedro Leopoldo, por ocasião do II Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier e sua obra, nos seguintes termos:
“Eu estava no Rio Grande do Norte, com uma exposição sobre Chico Xavier, a mensagem do meu filho lá na vitrine e vocês não imaginam o impacto das pessoas verem a letra de Chico. E elas fotografavam, persignavam-se, rezavam, pediam para tirar cópia! (...) Mas, uma repórter chegou e falou: O que é que o seu filho fala nessa mensagem que não vai dar pra eu ler? E eu respondo: Bem, a mensagem fala como é o mundo espiritual, como são as escolas... E ela disse: Que lindo! Morrer é isso? Todo mundo pode ir pra lá ou só os seguidores de Chico Xavier?
Minha querida (respondi), ninguém vai perguntar no que você acreditava, que religião você seguia, qual era sua fé. Eles vão nos perguntar o que fizemos para que o mundo se tornasse melhor (...) eles vão perguntar como lidamos com o nosso semelhante e não que religião tínhamos."    

Por três vezes estive em Pedro Leopoldo e encontrei, em Célia Diniz, a expressão de dinamismo daqueles que sabem de suas graves responsabilidades para a manutenção da memória e vivência espírita materializada na vida de Chico Xavier.
Sempre disposta, nos levava aos locais relacionados com a vida do médium encaixando, em seus horários, atenções e gentilezas muito além dos próprios deveres. Em sua expressão, podíamos sentir alguém que convive com as marcas da separação de afetos muito queridos, mas nunca traços de amargura ou rancor perante a vida. 
"Nós sofremos e choramos apenas a saudade. Nenhuma outra dor!" São palavras de Célia sobre os sentimentos presentes nos corações suavizados pelas lições do Espiritismo.
O aprendizado que, pessoalmente, recolhi no contato com a mãe de Tetéu, é que a saudade pode comparecer para aqueles atingidos pela separação determinada pela morte física, mas a esperança do reencontro e a certeza de que tudo se encadeia no universo serão maiores para aqueles que tiverem olhos para ver e ouvidos para ouvir.

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