quarta-feira, 25 de maio de 2011

ARQUIVO REVISTA ÉPOCA: A FAMÍLIA GASPARETTO PARTE 1

A família do Além

Edição 261 19/05/2003

Quem são os Gasparettos, o clã muito vivo que transforma mediunidade em bom negócio


POR SOLANGE AZEVEDO, com fotos de MAURILO CLARETO 



ESTRELAS
A mãe, Zibia, foi uma espírita tradicional durante anos. Passou a dedicar-se exclusivamente aos negócios por influência do filho Luiz


Os Gasparettos são - em carne e osso - uma tradicional família de descendentes italianos entre as tantas que povoam bairros de classe média de São Paulo. Habitam três casas distribuídas em um só terreno no bairro do Ipiranga, na Zona Sul da cidade, reúnem-se para longos almoços de fim de semana, falam gesticulando e tocam um negócio familiar. Mas a vida desta família pouco tem a ver com o dia-a-dia dos 176 milhões de brasileiros. Num domingo desses, por exemplo, a matriarca, Zibia, estava descansando na sala após o almoço, enquanto Irineu dedilhava um violão. Outro filho, Luiz, levantou-se e disse: 'Ele chegou. Vou pintar'. Rumou para outro cômodo, onde o esperavam tintas e uma tela em branco. 'Ele' não era um colega do ramo das artes, nem um amigo que serviria de modelo, nem um professor de artes plásticas.
Tratava-se do espírito de um gênio da pintura que estaria vindo diretamente do Além e iria ajudá-lo a manusear os pincéis. Minutos depois, Luiz voltou à sala e disse ao irmão: 'Apareceu no ateliê um baixinho, troncudo. Ele está dizendo que fez aquela música, 'Chão de Estrelas''. Animado, Irineu nem vacilou: 'É Orestes Barbosa!' Luiz voltou para sua oficina e avisou ao espectro do sambista: ele procurara o médium errado. 'Se é música, o senhor se enganou de sala.'
A matriarca, Zibia Gasparetto, vendeu mais de 5 milhões de livros e está há 10 anos na lista dos mais vendidos. Empatou com Luis Fernando Verissimo
Cenas assim são corriqueiras na família de Zibia Gasparetto. Aos 76 anos, ela é a grande dama da literatura transcendental no Brasil. Há dez anos freqüenta a lista dos mais vendidos no ramo dos livros esotéricos, religiosos e de auto-ajuda. Suas 24 obras, ditadas por espíritos dispostos a enviar ensinamentos aos vivos, venderam, no conjunto, mais de 5 milhões de exemplares. A façanha só foi superada pelo maior médium brasileiro, Chico Xavier, com seus 25 milhões, e por seu sucessor no mercado editorial, o baiano Divaldo Pereira Franco, que chegou à marca dos 7,5 milhões.

Nesse mundo paralelo, o que diferencia Zibia é a inauguração de um novo gênero. Ela montou uma linha de produção de livros sem pretensões literárias, com toques de auto-ajuda e linguagem adaptada para quem não é iniciado no espiritismo. Conta histórias recheadas de diálogos, fala como uma tia sempre pronta a dar conselhos que ajudam a encarar dificuldades - e atrai chusmas de leitores de classe média. Com seu neo-espiritismo, Zibia vende mais que o humorista Ziraldo, cujos livros são indicados na rede escolar. E empata com Luis Fernando Verissimo. Na retaguarda desses romances açucarados em que a morte não é barreira para o amor verdadeiro, ela conta com uma família que - ao contrário dos espíritas puros - não tem pudores de ganhar dinheiro com a mediunidade. Entre psicografias, cursos e diálogos insólitos com fantasmas, os Gasparettos montaram um pequeno império.
POP STAR MEDIÚNICO
Luiz Gasparetto faz programas na TV e no rádio, às vezes incorporado pelo espírito do mulato Calunga (terceira foto da esq. para dir.), faz shows (primeira foto à esq.), escreve livros de auto-ajuda (foto à dir.) e pinta quadros inspirados pelos grandes mestres, como o atribuído a Leonardo da Vinci (segunda foto da esq. para a dir.)

''Buda era simplesmente um professor de auto-ajuda. Fazia a mesma coisa que eu faço. Se eu tenho o dom, por que não posso ganhar dinheiro com isso?''
LUIZ GASPARETTO, médium que ganha R$ 40 mil em um único dia de curso
O clã do outro mundo é formado por quatro filhos de Zibia com o empresário Aldo Gasparetto. Todos são médiuns gabaritados, daqueles com alta capacidade de receber pessoas desencarnadas, como se prefere denominar os mortos nessa área. 'Pela informação que tive dos espíritos, eu e meus filhos nos reunimos antes de nascer para fazer um trabalho juntos', explica ela. O filho mais famoso, Luiz, de 53 anos, fez carreira internacional emprestando as mãos - e às vezes os pés - a gênios falecidos. Entre eles estariam nomes como Van Gogh e Picasso. Com um índice de produtividade de fazer inveja a qualquer artista vivo ou morto, já pintou mais de 30 mil telas. Chegou ao recorde pessoal de concluir seis obras em apenas 15 minutos. Irineu, de 50 anos, é uma compilação ambulante da MPB. Incorpora várias gerações de sambistas, de Catulo da Paixão Cearense a Pixinguinha. Os outros dois filhos, Pedro, de 55 anos, e Silvana, de 45, vêem e ouvem espectros conversadores, mas preferem se dedicar à administração dos negócios. O mais velho toca um curtume herdado do pai em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A filha é o braço direito da mãe na editora. 'É uma família meio doida', admite Zibia. 'É comum ficarmos conversando em casa sobre o que disse esse ou aquele espírito.'
O domingo em que o espírito de Orestes Barbosa teria passeado pelo casarão da família Gasparetto, por exemplo, nem seria lembrado não fosse ele ter atravessado o samba e se enganado de sala. Mesmo avisado do engano, o atrapalhado Orestes Barbosa deixou uns versos com o médium errado e se foi. Antes de terminar o domingo, ainda apareceu por ali Ataulfo Alves. 'Ele trouxe a melodia. Houve uma parceria mediúnica', garante Irineu. Não foi a primeira vez que Irineu diz ter composto músicas com medalhões da MPB. Em 1997, lançou um CD em parceria com várias almas ilustres.


Com quase 40 anos de carreira, Zibia Gasparetto tornou-se a mais bem-sucedida escritora brasileira. Desde 1965 vendeu mais de 5 milhões de livros
ANO
LIVRO
VENDAGEM
1965
O Amor Venceu
420 mil
1968
O Morro das Ilusões
300 mil
1982
Bate-papo com o Além
100 mil
1984
O Matuto
260 mil
1985
Esmeralda
230 mil
1986
Entre o Amor e a Guerra
210 mil
1986
Pedaços do Cotidiano
120 mil
1987
O Mundo em que Eu Vivo
80 mil
1987
Laços Eternos
590 mil
1988
O Fio do Destino
190 mil
1988
Voltas que a Vida Dá
210 mil
1989
Espinhos do Tempo
180 mil
1992
Quando a Vida Escolhe
240 mil
1993
Somos Todos Inocentes
20 mil
1995
Pelas Portas do Coração
250 mil
1996
A Verdade de Cada Um
230 mil
1996
Sem Medo de Viver
260 mil
1997
Pare de Sofrer
120 mil
1998
Conversando Contigo!
50 mil
1998
O Advogado de Deus
210 mil
1999
Quando Chega a Hora
19 mil
2001
Ninguém É de Ninguém
340 mil
2001
Quando é Preciso Voltar
200 mil
2002
Tudo Tem seu Preço
220 mil

ARQUIVO REVISTA ÉPOCA: A FAMÍLIA GASPARETTO PARTE 2

Obras psicografadas são mais antigas que Allan Kardec, o fundador da doutrina. Mas, no Brasil, os Gasparettos inovam com um marketing espírita que inclui lançamentos de livros, CDs e fitas cassete, programas de rádio e TV, palestras e cursos. A matriarca fez uma opção clara pelo mercado a partir de 1995, quando se afastou da militância religiosa. Deixou o comando do centro espírita Os Caminheiros, que desenvolvia obras sociais na periferia de São Paulo e atendia mais de 1.000 pessoas por dia, para dedicar-se a uma editora própria, a Vida & Consciência, que se tornou uma das maiores do ramo no país. Só com a venda dos livros pode faturar R$ 17 milhões por ano, sem contar a gráfica, que presta serviço a editoras, como Siciliano e Saraiva.

Nada demais para quem vive num mundo capitalista, no qual acumular fortuna não é um sacrilégio, mas um dom. Para o espiritismo puro, porém, usar os 'seres de luz' com objetivo pecuniário equivale a usar um morto para ser muito vivo. Teoricamente, o escritor espírita é apenas um instrumento entre quem foi e quem fica, sem mérito nem pelo estilo nem pelo conteúdo da obra. Por isso, dizem os espíritas, ganhar dinheiro com esse tipo de livro é moralmente questionável. Chico Xavier nunca embolsou um tostão e o baiano Divaldo Pereira Franco doa o que ganha a instituições de caridade, vivendo da aposentadoria de R$ 980 como funcionário público. 'Espíritas têm de trabalhar com o suor do rosto para viver', defende Franco. 'Os bons espíritos mandam mensagens e não cobram nada. Se nos beneficiarmos desse dom, estaremos cometendo um crime.'
''Os espíritos me aconselharam a dedicar-me à divulgação das idéias. Eles me mandaram abrir uma gráfica e deixar outras pessoas assumirem as obras sociais''
ZIBIA GASPARETTO, justificando o abandono do centro espírita para se dedicar aos negócios
Para escapar das críticas sem perder os adeptos de sua linguagem simples, com tramas de suspense, Zibia define-se hoje como 'espírita independente'. Transferiu a responsabilidade da opção pela livre iniciativa para os mortos. 'Os espíritos me aconselharam a dedicar-me à divulgação das idéias', justifica. 'Eles me diziam: 'Você precisa abrir uma gráfica'.' Pelo jeito, Adam Smith, Henry Ford e John Pierpoint Morgan devem ser algumas dessas almas inquietas, pois a estratégia deu certo. Zibia conquistou as grandes livrarias e as listas dos mais vendidos. Derrubou as muralhas da doutrina e abriu um filão no mercado que não pára de crescer. Na última Bienal do Livro em São Paulo, em 2002, por exemplo, uma pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores mostrou que, entre 1.700 visitantes, os livros espíritas ficaram em segundo lugar como área de interesse. Só perderam para a categoria romance.
Zibia, enfim, captou bem as vibrações do mercado ao investir numa espécie de romance do Além. Perdeu fãs mais rigorosos, como a bancária Maria Bacchiega, que se tornou espírita depois de ler uma de suas obras antigas. 'Entrei na doutrina porque achava os livros dela muito bonitos, mas depois ela fugiu dessa linha e parei de comprá-los', critica. As baixas, no entanto, são compensadas pelo número crescente de novos leitores que, sem crença definida, buscam na possibilidade da vida depois da morte não um preceito filosófico, mas um alento para as dores deste mundo. 'Ela hoje pega mais leve nas causas espíritas que os outros autores, tem um estilo mais romanceado. Não sou espírita e gostei de seu lançamento mais recente, Tudo Tem Seu Preço', diz a webmaster Vera Moraes.
O filho Luiz foi o guia espiritual da família Gasparetto na transição da caridade para o business. Foi por influência dele que a família tratou de trocar a ortodoxia da doutrina pela individualidade da auto-ajuda - e chamou isso de 'metafísica'. Ele também deixou de falar em mediunidade. Prefere 'sexto sentido'. No passado, Luiz já emprestou as cordas vocais ao impressionista francês Toulouse-Lautrec para que desse uma entrevista na TV Cultura. Mas hoje ele dá pouca atenção a espíritos de mestres como Leonardo da Vinci porque está dividido entre atividades mais rentáveis: cursos para platéias que chegam a mais de 3 mil pessoas e um programa na Rádio Mundial, em São Paulo. Contratado pela diretora Miriam Morato, é o apresentador mais importante da emissora. Em breve estreará na TV CBS, em UHF, e na NET. 'Se eu tenho dom, por que não vou ganhar dinheiro com isso?', desafia. 'O espiritismo é estruturado em cima do assistencialismo, que é um veneno. Achavam Chico Xavier lindo porque se sacrificava. Podem me odiar, mas ninguém vai se aproveitar de mim. Hoje não tenho religião.'
''O espiritismo é estruturado em cima do assistencialismo, que é um veneno. Achavam Chico Xavier lindo porque se sacrificava. Podem me odiar, mas ninguém vai se aproveitar de mim. Hoje não tenho religião''
LUIZ GASPARETTO
Luiz chega a ganhar R$ 40 mil em um único dia de curso e sonha em ser um pop star da auto-ajuda. Compra suas roupas em Los Angeles, onde mantém uma casa, gosta de novidades gastronômicas, só anda com motorista e aposta na imagem de self made-man. Está longe de ter a fama da mãe, mas tem se esforçado para ser seu herdeiro. Fiel aos preceitos divulgados em seus livros e cursos - 'O que conta é a idéia que a pessoa faz dela própria' -, difunde um excelente conceito de si mesmo. 'Sou a pessoa mais interessante que conheço', garante.
Longe das críticas, a família Gasparetto vive em alegre turbulência. Além dos cinco membros de carne e osso, há os respectivos espíritos que freqüentam o corpo de cada um. Curiosamente, eles respeitam o horário comercial para fazer contato, como convém a seres de luz evoluídos. Lucius, por exemplo, que ditou 18 dos 24 livros de dona Zibia, visita sua anfitriã de segunda a quinta-feira e foi um membro do parlamento inglês - uma das poucas revelações que deixou escapar sobre suas muitas encarnações. Trata-se de um espírito de temperamento reservado, que não gosta de falar do passado. Zibia, mulher de educação antiga, filha de um cafeicultor da região de Campinas que quebrou na crise de 1929, prefere não se meter na vida - opa! - do amigo celestial. 'É feio ficar perguntando, não gosto de constrangê-los.'
NEGÓCIOS
Pedro (à esq.) e Irineu (meio) administram um curtume em Mogi das Cruzes e a Fundação Aldo Gasparetto, que profissionaliza 25 jovens carentes. Pedro vê e ouve os espíritos. Irineu 'recebe' letras e melodias de grandes nomes do além-samba. Em nome deles, gravou seleções em CD (à dir.)
Luiz tem como visitante mais assíduo de seu corpo esculpido por horas de balé e biodança um caboclo mineiro chamado Calunga. Sem dentes, descalço e vestido de linho bege, ele é 'um fantasma meigo e violentamente sábio'. Em meio à série Calunga, composta de dez fitas cassete com orientações espirituais, estão títulos como Tá Tudo Bão eSentado no Bem. Calunga incorpora em Luiz durante os programas de rádio e apresenta aos ouvintes 'as mais belas e elevadas verdades da vida'. A maior das revelações 'na perspectiva dos desencarnados' é: 'O importante é ter paz no coração'.
''Os bons espíritos não cobram nada e são eles os autores. Se nós nos beneficiarmos, estaremos cometendo um crime''
DIVALDO PEREIRA FRANCO,apontado como o sucessor de Chico Xavier e já vendeu 7,5 milhões de livros. Vive de sua aposentadoria
Irineu, o músico, é mais tímido. A família descobriu que ele era intérprete mediúnico dos mestres falecidos em uma festa. De repente, ele mudou de fisionomia e murmurou canções. Logo fazia shows incorporando estrelas do além-samba. 'E eu nem curtia música brasileira. Gostava era de Beatles e Elvis', diz. Os gringos até apareceram para ditar alguns versos. Mas não deu muito certo. 'Meu inglês é muito ruim', desculpa-se o médium. Nessas ocasiões, ele recebe a ajuda do irmão, poliglota. Numa delas, apareceu John Lennon. 'Levei um susto, o cara estava em meu quarto', conta Luiz. Dia desses apareceu Dolores Duran, a musa que, aos 29 anos, chegou em casa ao amanhecer e disse à empregada: 'Estou cansada. Vou dormir até morrer'. Mulher de palavra, teria restado à cantora mandar suas composições por Irineu. O médium anotou os versos e mostrou ao irmão. 'Se essa é Dolores, piorou muito', disse Luiz, em um dos raros momentos de crítica às almas.
Até 1950, a família era tradicional, pacata mesmo. Aldo Gasparetto, um ex-seminarista, era representante comercial. Zibia, que trabalhou num banco até se casar, era católica distraída. A vida de classe média transcorria sem sobressaltos, dois filhos crescendo com saúde, quando Zibia saltou da cama e saiu andando num passo de homem, discursando em alemão. O marido demonstrou possuir nervos titânicos. Nem correu. Apenas chamou a vizinha, espírita. Depois de uma oração, Zibia voltou ao normal. 'Aldo ficou preocupado porque eu não era dada a chiliques', conta. 'Aparentemente era uma pessoa normal, equilibrada.' Em busca de respostas, os Gasparettos mergulharam na doutrina espírita. Zibia estudou até a 4a série, mas lia desde os 5 anos. Fã de Agatha Christie, escrevia contos policiais. Acabou dedicando-se a outros mistérios pelas mãos de Lucius, que se revelou um espectro fiel, mas lento. Levou cinco anos para ditar o primeiro livro, O Amor Venceu. Hoje, com as novas necessidades do mercado editorial, aumentou a produtividade para cerca de um romance por ano. Aldo Gasparetto morreu do coração, em 1980. Os filhos dizem que aparece para dar palpites sobre a administração dos bens. Como nos romances de Zibia, a morte não é barreira para o amor. Nem para os negócios.
COLABORARAM TIAGO CORDEIRO E ROSÂNGELA BAÍA

SBT REPÓRTER: A HISTÓRIA DE ALANA

São Gonçalo, baixada fluminense. É na Igreja Pentecostal dos milagres, que a garotinha, mais conhecida como a missionária Alani, faz seus cultos. Sempre acompanhada de sua fiel boneca, Alani senta e aguarda sua vez de subir ao altar. Seu pai, o pastor Adauto, é quem abre todas as sessões. Logo, os fiéis que estão com problemas, são chamados para a frente do altar. E chega a hora e vez de Alani. Ela toca as mãos nas pessoas com o objetivo de curá-las. As cenas não mudam. As pessoas são tocadas por Alani. O pai pergunta se a dor melhorou. Emocionadas, elas dizem que sim. A fama da missionarinha percorreu o mundo.

Emissoras de tvs  e jornais de vários países já foram até à igreja para reportagens e entrevistas. As imagens foram gravadas por uma equipe da National Geographic Channel. Fotos foram tiradas durante o trabalho da equipe de reportagem a
mericana. A rede de notícias americana CBS também veio registrar o trabalho de Alani. Eles chamaram de fenômeno da fé. O jornal inglês The Guardian também fez uma grande reportagem sobre a missionarinha brasileira. 



Cabrini investiga a história de Alani - Parte 1 - 11/05/11


























terça-feira, 24 de maio de 2011

AGENTE DA PROVIDÊNCIA

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A oração constitui um hábito da maior parte das pessoas.

Conscientes de sua fragilidade, elas buscam manter contato com o Ser Supremo.

Muitas pedem auxílio em questões materiais, como a conquista de um emprego ou a cura de uma enfermidade.

Outras rogam por forças em momentos difíceis.

Há quem busque junto ao Alto inspiração para bem conduzir sua existência, em um contexto de dignidade.

Também não falta quem se lembre de orar em agradecimento por dádivas recebidas.

Ou apenas como forma de entrar em contato com as esferas superiores da Espiritualidade.

O Evangelho relata diversas passagens nas quais o Cristo orou.

Jesus era puro e sábio e mesmo assim não desdenhou o recurso da oração.

Trata-se de um eloqüente sinal de que orar é imprescindível ao viver humano.

Ao compor a oração dominical, o Mestre salientou que o homem deve perdoar, a fim de ser perdoado.

Em outro momento, afirmou que o homem deve fazer ao próximo o que gostaria que ele lhe fizesse.

Conclui-se que sempre se deve estar disposto a dar o que se deseja receber, em termos de auxílio e compreensão.

O Espiritismo ensina que os Espíritos são agentes da Criação.

Eles encarnam com a finalidade de evoluir e amealhar conhecimentos e virtudes.

Assim, adquirem condições de fazer a parte que lhes cabe na obra da Criação.

Os Espíritos fazem parte da natureza.

A inteligência humana integra o Plano Divino.

Todo homem tem a missão de colaborar no aperfeiçoamento do mundo em que vive.

Os projetos da Divindade se realizam pela ação de Suas criaturas.

Minúsculos animais, ao atuarem de forma inconsciente, auxiliam na elaboração de arquipélagos.

A luta de incontáveis homens levou à supressão de práticas injustas, como a escravidão e a tortura.

Cientistas estão sempre a descobrir a cura de doenças que infelicitam a Humanidade.

As inovações tecnológicas, fruto do labor humano, tornam a vida mais fácil e interessante.

Assim, a Providência Divina manifesta-se por intermédio do homem.

Certamente, a tal não se circunscrevem os recursos divinos.

Mas o atuar humano insere-se na forma natural pela qual as bênçãos do Criador atingem a Terra.

A sua tarefa é tornar melhor o Mundo em que habita.

E sempre deve fazer ao próximo o que deseja que lhe façam.

A resposta a suas orações habitualmente não vem de forma retumbante e mística.

Ela, em regra, assume o contorno de pequenos acontecimentos que o auxiliam e esclarecem, pela atuação de terceiros.

Desse modo, você pode e deve ser a resposta à prece que seus semelhantes dirigem ao alto.

Preste atenção nas dificuldades dos homens que o rodeiam.

Muitos precisam de um conselho prudente e sensato, a fim de não cometerem desatinos.

Outros necessitam de uma palavra de compreensão, após errarem gravemente.

Alguns estão em vias de desistir, após alguma derrota, e carecem de incentivo e esperança.

Você tem tanto para dar!

Conte seus tesouros e alegre-se em reparti-los.

Deixe que o bem se manifeste por suas mãos.

Seja um agente da Providência.

Esta é a sua missão.

Ao realizá-la, você alcançará paz e plenitude.

Pense nisso.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Espíritas e católicos em fraterna comunhão

João Baptista Herkenhoff

Não sou espírita. Sou católico. Tenho, contudo, grande simpatia pela doutrina espírita. Nem sempre pensei assim. Nasci numa família católica, em Cachoeiro de Itapemirim. Na infância e adolescência respirei um ambiente religioso que não transigia em questões dogmáticas. Só bem adiante é que surgiu João XXIII, o Papa que abriu o diálogo da Igreja Católica com todas as religiões e correntes de opinião.

O que me encanta na doutrina espírita é a abertura para o próximo, a generosidade. Creio que isto é a síntese do Cristianismo. Neste ponto parece-me que podem comungar católicos, espíritas, protestantes e ateus. Incluo seguramente ateus nesta desejada comunhão porque, segundo minha visão, quem ama o próximo, tem paixão pela Justiça, sonha com um mundo de igualdade, esta pessoa vive a essência da Fé porque a Fé é vida, e não explicitação verbal. Vejam bem. Eu não desconheço que há aqueles que optam consciente e racionalmente pelo Ateísmo. Respeito esta escolha. Apenas vislumbro a chama da Fé na vida de todo aquele que se consome no amor ao outro, indepentemente de uma subjetiva afirmação teísta.
Se nos debruçarmos sobre os diversos municípios do meu Estado (Espírito Santo) para descobrir, em nossas cidades, instituições que se abrem para o próximo, que se condoem de presos e de prostitutas, que buscam encaminhar crianças, que se dedicam ao cuidado de seres humanos marcados por deficits físicos ou mentais, veremos que muitas dessas instituições, ou a maioria delas, são levadas avante por seguidores do Espiritismo. Acredito que o mesmo fato ocorra em outros Estados do Brasil.
Segundo o relato bíblico, no julgamento final, Jesus Cristo não chamará as pessoas para o lado dos escolhidos, segundo um determinado timbre ou rótulo religioso, mas segundo as obras:
“Vinde a mim, benditos de meu Pai, que me deste pão quando tive fome; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vetistes; enfermo e me visitastes; estava preso e viestes a mim”.

Quando fui juiz de Direito, os desembargadores que melhor entenderam meu trabalho e minhas ações eram espíritas. Cito com reverência dois desses desembargadores: Carlos Teixeira de Campos e Mário da Silva Nunes. Foi graças ao apoio deles que consegui resistir.
Uma decisão que proferi libertando uma pobre prostituta, envolvida com drogas, porque ela seria Mãe, tornou-se nacionalmente conhecida em razão da divulgação dessa sentença pela internet, num site espírita.
Transcrevo a seguir um pequeno trecho do decisório.
“É uma dupla liberdade a que concedo: liberdade para Edna e liberdade para o filho de Edna que, se do ventre da mãe puder ouvir o som da palavra humana, sinta o calor e o amor da palavra que lhe dirijo, para que venha a este mundo tão injusto com forças para lutar, sofrer e sobreviver.
Este Juiz renegaria todo o seu credo, rasgaria todos os seus princípios, trairia a memória de sua Mãe, se permitisse sair Edna deste Fórum sob prisão.
Saia livre, saia abençoada por Deus, saia com seu filho, traga seu filho à luz, que cada choro de uma criança que nasce é a esperança de um mundo novo, mais fraterno, mais puro, algum dia cristão.”

Os espíritas compadeceram-se de Edna e entenderam porque o juiz a libertou, ainda que, naquele momento histórico (1976), fosse a droga considerada, mesmo o simples consumo, um crime gravíssimo. Através de flagrantes de droga foram colhidos pela rede das prisões muitos opositores do regime politico vigente.
João Baptista Herkenhoff é Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha. Autor de Dilemas de um juiz – a aventura obrigatória. Rio, GZ Editora, 2010. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ARQUIVO VEJA: Criado na França, o espiritismo só deu certo no Brasil

REVISTA VEJA, Edição 1659, 26/7/2000

À nossa moda

Criado na França, o espiritismo deu certo
apenas no Brasil, onde a doutrina mística com
pretensões científicas é culto da classe média


Flávia Varella

Mário Covas, governador do mais rico e populoso Estado do Brasil, é católico, mas busca aconselhamento com os espíritos quando está com problemas pessoais. O general Alberto Cardoso, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, homem poderoso na equipe do presidente da República, criou o hábito de incorporar espíritos e orientar com voz do além os desesperançados que o procuram. Herbert Steinberg, professor de pós-graduação e dono de uma importante consultoria de empresas, nasceu judeu, virou católico e agora reúne a família pelo menos uma vez por semana para ler e discutir a Bíblia sob a ótica do espiritismo. O médico Ronaldo Gazolla, secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro há nove anos, controla dezesseis hospitais, 110 postos de saúde e 30 000 funcionários, mas não deixa de ir toda quarta-feira ao centro espírita que preside, onde ergue as mãos e canaliza energias positivas, num chamado passe, que acredita contribuir para a cura de enfermos da alma e do corpo.
O segundo ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso, o cardiologista gaúcho Carlos César de Albuquerque, vê e recebe espíritos. O autor das telenovelas de maior sucesso do país, Benedito Ruy Barbosa, diz que seu pai o acompanha e orienta desde que morreu, quando ele tinha 12 anos, e, por isso, sempre dá um jeito de promover um reencontro de personagens mortos em seus enredos televisivos. Tande, campeão olímpico, estava convicto de que integraria a seleção brasileira muito antes de começar a jogar vôlei, por causa da mensagem recebida por seu pai, um militar médium vidente. A dona do rebolado mais admirado do país, Scheila Carvalho, acredita que foi princesa em outra encarnação e tem o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo  em sua cabeceira. O escritor brasileiro que mais vende livros  cerca de 30 milhões de exemplares , Chico Xavier, não escreve seus textos, psicografa.



Herbert Steinberg
Consultor e professor, nasceu judeu, virou católico e agora é espírita, como toda a família: "A doutrina é lógica e convence"

Está aí um retrato possível da elite brasileira. Um retrato da elite, por sinal, possível apenas no Brasil. Primeiro, porque em nenhum lugar do mundo há tantos espíritas, a ponto de se poder fazer uma lista deles olhando apenas para o pódio dos bem-sucedidos, famosos e poderosos. Segundo, porque só aqui católicos, judeus ou protestantes atestam a comunicação com os mortos e a reencarnação sem se ruborizar e sem medo de ser expulsos de sua igreja, sinagoga ou templo. De acordo com a Federação Espírita Brasileira, são 8 milhões de adeptos e 30 milhões de simpatizantes. Pesquisas de opinião pública indicam um número menor: 3% da população, ou 4,8 milhões de pessoas. Mas essas são apenas as que se declaram espíritas ao pé da letra. Não estão incluídos aí todos os freqüentadores de centros, muito menos o total de simpatizantes.
Num país onde até o presidente da República, declaradamente ateu, gosta de se descrever como um intelectual com pitadas de candomblé, é evidente o apelo das religiões mediúnicas, mesmo quando há um choque doutrinário com os cultos dominantes. Uma enquete feita pela Vox Populi há quatro anos revelou que 59% dos brasileiros acreditam na existência de espíritos  conceito aceito apenas pelo kardecismo e pelas religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé. Na França, onde o espiritismo nasceu, pelas mãos do pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, vulgo Allan Kardec, a única associação de seus seguidores conta com pouco mais de 150 sócios. "Aqui, como em toda a Europa, o espiritismo é desconhecido. Não é considerado uma coisa séria", admite Jacques Peccatte, presidente do Círculo Allan Kardec, instalado na cidade de Nancy. "A doutrina kardecista só é desenvolvida de fato no Brasil."
Desenvolvida e adaptada às condições locais por Chico Xavier, que tropicalizou os princípios doutrinários difundidos pelo francês no século XIX, dando-lhes um apelo mais sentimental, humano, bem adaptado à alma nacional (veja quadro). Aqui, o espiritismo não apenas se estabeleceu como passou a fazer parte da cultura brasileira. Sem o estardalhaço nem os números explosivos das igrejas evangélicas, o espiritismo está sempre ampliando o contingente de adeptos, com uma característica peculiar: ele se difunde principalmente nas classes sociais mais altas. Cinco anos atrás, havia 5.500 centros espíritas espalhados pelo país (concentrados nas regiões Sul e Sudeste). Hoje, são mais de 9.000. Nas salas de aula da Federação Espírita de São Paulo, 11.300 alunos sentam-se para aprender desde os fundamentos do kardecismo até como ser médium ou como se tornar um expositor da doutrina. Há dez anos, eram menos de 6.000.


Benedito Ruy Barbosa
Desde que sua mãe viu o marido, que tinha morrido, sentado a seu lado, o autor tornou-se espírita e passou a sentir a presença do pai

Outro termômetro da expansão recente do espiritismo é a publicação de livros relacionados com o assunto. A leitura é o mais importante recurso de evangelização espírita. O motivo está na própria natureza dessa religião, cujos princípios, de acordo com os crentes, foram transmitidos por meio de inúmeras "comunicações" do além, transcritas pelos médiuns. "Aprende-se o espiritismo lendo", afirma o presidente da federação paulista, Durval Ciamponi, autor de cinco livros - encontrar um expoente do espiritismo que não tenha escrito livros é tão difícil quanto achar um pastor evangélico que não cante. Pois há cada vez mais gente interessada na literatura kardecista, uma barreira natural na seleção de classe. "O espiritismo é uma religião letrada", afirma o sociólogo Lísias Nogueira Negrão, presidente do Centro de Estudos da Religião Duglas Teixeira Monteiro. "Mais do que uma religião, o espiritismo se pretende uma ciência, uma filosofia. Por isso, e por ter alta capacidade de persuasão pela lógica, atinge as classes sociais mais instruídas." Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas mostra que os espíritas pertencem, primordialmente, às classes média e alta. Sua renda familiar é 150% maior que a média nacional (só perde, entre as religiões, para o judaísmo) e a escolaridade de seus adeptos também é a segunda no ranking  em média, dez anos de estudos completos. Essa é uma característica da doutrina, desde sua chegada ao Brasil, na segunda metade do século XIX, com a circulação de livros em grupos restritos da elite nacional. Saber ler e ter condições de comprar livros era privilégio mais exclusivo ainda do que hoje.
Meritocracia espiritual – Os primeiros advogados, militares, jornalistas, médicos convencidos pelos preceitos de Kardec ainda no século XIX criaram uma tradição. A Cruzada dos Militares Espíritas, fundada em 1944, tem hoje 5.000 participantes, entre eles generais e coronéis. "O número de militares espíritas saltou nos últimos seis anos, e as adesões não param", diz o coronel Ruy Kremer, presidente da entidade, que orienta a ação de 432 delegados organizadores de grupos de estudos em quartéis, navios ou em qualquer ponto em que haja um militar a serviço. Há associações de médicos espíritas em 21 Estados. "Com o espiritismo, aprendi a reconhecer minha capacidade intuitiva, que me auxilia nos diagnósticos, e descobri que tenho o dom da cura pelas mãos", afirma o oncologista mineiro Renato Nogueira, espírita há três anos.
A doutrina é ancorada na crença da reencarnação e da comunicação com "entidades espirituais desencarnadas", ou seja, pessoas que já morreram. Os adeptos acreditam que os espíritos dos mortos voltam à Terra e se encarnam em novos seres humanos, no nascimento. Por trás disso está a idéia oriental do carma: volta-se à vida terrena para pagar pelos erros cometidos em encarnações anteriores, num processo contínuo, até zerar tudo, atingindo-se um estado de plena perfeição moral. Com base nessas crenças, a doutrina oferece explicações para as eternas dúvidas humanas: de onde viemos, para onde vamos, qual o sentido da vida, por que somos atormentados por tantos padecimentos. A busca de respostas chega a níveis radicais. No Livro dos Espíritos, que Allan Kardec dizia ter escrito depois de ouvir inúmeras entidades, há mais de 1.000 perguntas e respostas. Daí a aura de ciência que o espiritismo sempre reivindicou.

"O espiritismo nasceu com uma linguagem adequada à ciência da época. As idéias eram bem sistematizadas e aplicavam à trajetória pessoal de cada um o evolucionismo, muito em voga", explica José Luiz dos Santos, antropólogo da Universidade de Campinas e autor do livro Espiritismo, uma Religião Brasileira. Ainda hoje a teoria funciona. O fato de estarmos na Terra para melhorar, ou seja, evoluir espiritualmente, e zerar a contabilidade de erros de encarnações passadas explica ter ou não dinheiro, sofrer ou ser feliz, morrer jovem ou com idade avançada. A fórmula para evoluir também é simples: fazer o bem. Assim, ajudar em obras assistenciais e ser caridoso são atividades imprescindíveis para um espírita.
"Foi só no kardecismo que encontrei as respostas que procurava. A teoria toda faz sentido e me convence", afirma Herbert Steinberg, empresário e professor de gerenciamento estratégico em um curso de MBA. Antes de ler os primeiros livros com mensagens de Chico Xavier, Steinberg se desiludira com sua religião de família, o judaísmo, e com o catolicismo, ao qual se converteu num rompante juvenil. "Não preciso de mais provas: o astral das pessoas e a sincronicidade de alguns acontecimentos já são pistas suficientes para mim de que existe algo além da vida que enxergamos."

"Nova era" – O espiritismo oferece muitos esclarecimentos, tem poucos dogmas e nenhuma hierarquia. Na prática, demonstra uma flexibilidade que vem ajudando em sua propagação. A moda do esoterismo e da curiosidade pelo sobrenatural, englobada sob a denominação genérica de fenômenos da "nova era", é capitalizada com entusiasmo. Os americanos Brian Weiss, autor de Muitas Vidas, Muitos Mestres (quase 2 milhões de exemplares vendidos), e James van Praagh, autor de Conversando com os Espíritos (1,5 milhão de exemplares), por exemplo, são recebidos como sumidades. Dão palestras em auditórios, centros de convenções e centros espíritas. Embora não sejam kardecistas, são citados como prova da veracidade e da universalidade da doutrina. O mesmo aconteceu com filmes como Ghost e O Sexto Sentido, com o famoso menino que vê "gente morta"  ou espíritos desencarnados. "Um dos segredos do crescimento do espiritismo é a incorporação de tudo o que diga respeito a espíritos. Seus praticantes pegam temas em voga, como terapia de vidas passadas ou fotografia da aura, e os analisam sob a visão do kardecismo. Com isso, vão ganhando adeptos entre aqueles que gostam de estar na moda", afirma o antropólogo José Luiz dos Santos.
Embora professe fenômenos fantásticos, como a possibilidade de viajar para outros mundos e falar com mortos, quem procura o kardecismo em busca de emoções arrepiantes sai decepcionado. Uma sessão espírita é como um "workshop". Em geral, começa com uma palestra sobre um tema evangélico, evolui para uma discussão amigável e termina com um "passe". O passe é uma transmissão de energia que, crêem os adeptos, ajuda a resolver problemas físicos, psicológicos e espirituais. Não é preciso incorporar espíritos para dar o passe, embora a energia venha deles. Não há, portanto, cenas empolgantes, nem ao menos muito curiosas, numa sessão comum, daquelas que as pessoas freqüentam semanalmente.
As sessões de cura espiritual ou de desobsessão, mais instigantes, quase sempre são feitas em salas isoladas. A desobsessão serve para afastar espíritos incômodos. Um médium incorpora um espírito que tenta convencer o "espírito errante" a abandonar sua vítima. Para a cura, além dos passes, existem as cirurgias espirituais, propaladamente feitas por espíritos de grandes médicos mortos. Mas depois de escândalos como o de Rubens Faria Júnior, o mais recente incorporador do famoso doutor Fritz e acusado de charlatanismo, as cirurgias em que o corpo do paciente é aberto praticamente sumiram. Restaram apenas as curas por energia. Vários centros agora oferecem também sessões de cromoterapia, modismo esotérico incorporado sem preconceito pelos kardecistas. Adaptar-se aos tempos, afinal, é um preceito doutrinário do espiritismo.



Ronaldo Gazolla
Médico e secretário de Saúde do Rio, ele recebe mensagens de espíritos: há trinta anos era materialista convicto; hoje, preside um centro
General Cardoso
O ministro e médium faz parte de uma tradição nas Forças Armadas: a Cruzada dos Militares Espíritas foi fundada em 1944 e hoje abriga 5 000 adeptos

Tande
O campeão olímpico de vôlei segue a religião desde criança: mensagem recebida pelo pai, militar e médium, já antecipava o futuro como esportista
Carlos Albuquerque
O ex-ministro da Saúde de FHC procurou ajuda para controlar a mediunidade: "Eu via os espíritos com meus pacientes"


O mundo, daqui e do além,
segundo o espiritismo

Para onde vamos
No livro Nosso Lar, psicografado por Chico Xavier, é descrita a colônia espiritual para onde vão os espíritos dos brasileiros que morrem. Tem formato de estrela, localiza-se no céu, mais ou menos sobre o Estado do Rio de Janeiro, e tem hospitais, escolas, governo com ministérios e muita burocracia. Lá os espíritos passam por um processo evolutivo e aguardam até reencarnar mais uma vez.
Sofrimento
A dor, o sofrimento e as mazelas humanas são conseqüência de maldades cometidas em outras vidas. Nada fica impune. Quem morre sem reparar os erros praticados carrega a pendência para a próxima encarnação, na qual vai sofrer. Nessa perspectiva, não há injustiça.
Jesus Cristo
É o espírito mais evoluído que já viveu na Terra. Foi concebido fisicamente por José e Maria para difundir ensinamentos espirituais. O que os católicos chamam de milagres são fenômenos físicos, naturais aos espíritos evoluídos.
Comunicação com o além
A forma mais conhecida é a psicografia. Os espíritos ditam mensagens aos médiuns, que as escrevem automaticamente. Alguns dizem que apenas o braço é tomado; outros, que vêem legendas passando pela cabeça.
Viagem astral
Pessoas sensitivas podem transportar-se para outros lugares sem levar o corpo consigo. Podem visitar lugares no espaço onde vivem os espíritos ou viajar milhares de quilômetros na Terra mesmo para, por exemplo, impedir que alguém se suicide.
Extraterrestres
A existência de vida em outros planetas faz parte da doutrina transmitida por Allan Kardec. Pode haver planetas habitados por seres encarnados em corpos, como na Terra, e também mundos em que vivem espíritos desencarnados.
Homossexualismo
Um espírito que não sabe viver dentro do sexo em que encarnou terá de reencarnar tantas vezes quanto necessárias para aprender. Segundo o presidente da Federação Espírita de São Paulo, Durval Ciamponi: "É uma distorção comportamental de alguém que teve muitas vidas passadas num determinado sexo e tem dificuldade em se adaptar a um corpo de outro sexo. Tem de corrigir".

Mistura entre os extremos

Em 1848, as irmãs Margaret e Kate Fox começaram a ouvir pancadas e ruídos vindos do chão e das paredes de sua casa em Hydesville, no Estado de Nova York. Intrigadas, estabeleceram um código com base no número de batidas e receberam a informação de que quem produzia os barulhos era o espírito de um homem assassinado e enterrado debaixo da casa. O caso virou tema de debates e investigações infindáveis. As irmãs Fox percorreram vários países mostrando seu aparente poder de comunicação com os espíritos. Na mesma época, na Europa, o fenômeno das mesas girantes virou uma diversão da burguesia. Ao colocar as mãos sobre a mesa, ela se mexia. Devido à manifestação de espíritos, supunhase. Depois, desenvolveu-se um método, com as letras do alfabeto, para receber "respostas" das tais entidades.
Os cultos esotéricos pululavam num ambiente contraditório. O cientificismo era o pano de fundo do pensamento da época. O evolucionismo e o positivismo afloravam. Ao mesmo tempo, a paixão pelo sobrenatural se propagava. Das colônias orientais da França e Inglaterra chegavam conceitos como corpo astral, energia vital, reencarnação e carma. Em 1875, a russa Helena Blavatsky fundou em Nova York a Sociedade Teosófica, que misturava elementos do ocultismo com tradições indianas. O pedagogo francês Hippolyte Rivail  Allan Kardec, acreditava ele, era o nome que teve em outra encarnação, como druida ou sacerdote celta  tentou unir os dois extremos: deu uma roupagem científica a esse furor esotérico e criou o espiritismo, em 1857.
Na França, a doutrina feneceu. No Brasil, onde o catolicismo dava destaque ao inexplicável e as culturas indígena e africana abriam caminho às manifestações de espíritos, o kardecismo vicejou. "Aqui se valorizou o lado religioso de moralização, com ênfase na caridade e no serviço dos passes ditos terapêuticos", explica o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP. Ajudaram a difundir o espiritismo médiuns famosos, como José Arigó, que realizava cirurgias sob orientação do espírito do doutor Fritz, e principalmente Chico Xavier. Hoje um discípulo seu, Divaldo Pereira Franco, é o líder mais popular. E justamente na Bahia dos orixás. Já psicografou 500 espíritos e publicou 125 livros.
Anos depois de causar furor as irmãs Fox se desmentiram. Disseram que os espíritos eram invenção delas. No Brasil, ninguém ligou.

Com reportagem de Eduardo Nunomura, de São Paulo, Marcelo Carneiro,
do Rio de Janeiro, Leonardo Coutinho, de Belo Horizonte, Monica Bidese,
de Porto Alegre, e Daniella Camargos, de Salvador

terça-feira, 17 de maio de 2011

Conversa com um espírito do mal

 

Por Luiz Carlos Formiga

Prezados irmãos. Que Jesus nos abençoe e nos fortaleça no seu amor.

No livro “Não há mais tempo”, organizado pelo Espírito Klaus, nós publicamos uma comunicação de um verdadeiro representante das organizações do mal e percebemos que há uma grande diferença entre o que nós classificamos como Espíritos obsessores e os verdadeiros representantes das trevas. Eu estava presente na reunião na qual essa entidade se manifestou.

Quando o Espírito incorporou a doutrinadora disse:

“Seja bem vindo meu irmão!”.

Ele respondeu:

“Em primeiro lugar não sou seu irmão, em segundo lugar eu conheço o seu sentimento. Sei que você não gosta nem das pessoas que trabalham com você na casa, que dirá de mim que você não conhece. Por isso duvido que eu seja bem vindo aqui”.

Ela ficou um tanto desconsertada, porém, disse:

“Mas meu irmão, veja bem, isto aqui é um hospital”.

“Muito bem, agora você vai dizer que eu sou o doente e que você vai cuidar de mim, não é isto?”.

“Sim”.

“Pois bem, e quem garante para você que eu sou um doente? Só porque eu penso diferente de você? Aliás, o que a faz acreditar que possa cuidar de mim? Quem é que cuida de você? Porque suponho que quando alguém vai cuidar do outro, este alguém esteja melhor que o outro e, francamente, eu não vejo que você esteja melhor que eu. Porque eu faço o mal? Porque sou combatente das idéias de Jesus? Sim, é verdade, mas admito isto, enquanto que você faz o mal tanto quanto eu e se disfarça de espírita boazinha”.

Outro doutrinador disse:

“Meu irmão, é preciso amar”.

“Acabou o argumento. Quando vocês vêm com esta ladainha que é preciso amar é que vocês não têm mais argumentos”.

“Mas o amor não é ladainha meu irmão”.

“Se o amor não é ladainha por que o senhor não vai amar o seu filho na sua casa? Aliás, um filho que o senhor não tem relacionamento há mais de 10 anos. Se o senhor não consegue perdoar o seu filho que é sangue do seu sangue, como é que o senhor quer falar de amor comigo? O senhor nem me conhece.

Vieram outros doutrinadores e a história se repetiu até que, por último, veio o dirigente da casa e com muita calma disse:

“Não é necessário que o senhor fique atirando estas verdades em nossas faces. Nós temos plena consciência daquilo que somos. Sabemos que ainda somos crianças espirituais e que precisamos aprender muito”.

O Espírito respondeu:

“Até que enfim alguém com coerência neste grupo, até que enfim alguém disse uma verdade. Concordo com você, realmente vocês são crianças espirituais e como crianças não deveriam se meter a fazer trabalho de gente grande porque vocês não dão conta”.


COMO É QUE OS GRUPOS ESPÍRITAS PODEM SE DEFENDER DO MAL?

• Havendo muita sinceridade, amizade verdadeira e, principalmente, muito amor entre todos os colaboradores do grupo.

• Existindo a prática da solidariedade, carinho e respeito para com todas as pessoas que buscam o grupo ou para estudar ou para serem orientadas ou para receberem assistência espiritual..

• Havendo muito comprometimento com a causa espírita.

• Realizando, periodicamente, uma avaliação dos resultados obtidos, para verificar se os três itens anteriores estão realmente acontecendo.

Juventude espírita em livro


Da revista eletrônica O CONSOLADOR - http://www.oconsolador.com/

“Juventude não é sinônimo de irresponsabilidade, desequilíbrio, vazio, conflitos...”

Flávio do Amaral Castelhano (foto), natural de Piabetá, Magé-RJ, onde também reside, é Diretor Presidente do Centro Espírita Cultivadores do Evangelho. Formado em Administração de Empresas, atua junto ao Lar Fabiano de Cristo, como Assistente Financeiro. Recentemente lançou uma obra que apresenta inúmeros questionamentos feitos por mocidades espíritas do Estado do Rio de Janeiro, respondidos por escritores diversos, como ele explica na entrevista seguinte. 

De onde surgiu e como se chama o livro que reúne temas e perguntas sugeridos pelos jovens? 
Surgiu de um convite feito pelo meu grande amigo Celso Pinheiro, vice-presidente da Editora Lorenz e Presidente do Grupo Espírita Esperantista Hora da Paz. Inicialmente, pretendíamos elaborar um livro todo escrito pela juventude; entretanto, o projeto foi ganhando uma outra roupagem, quando decidimos que os jovens deveriam questionar (à semelhança do que fez Kardec) sobre assuntos ligados ao seu interesse, enquanto outros deveriam responder. Daí o nome do projeto e do livro: “O Jovem Espírita quer Saber”.

De qual instituição participam esses jovens? E qual a editora que o publicou?
Como vemos na apresentação, esse foi um livro feito por muitas mãos, num total de 33 Mocidades Espíritas espalhadas por todo o nosso Estado do Rio de Janeiro e de fora. A editora é a Lorenz (editora de livros espíritas e esperantistas, fone (21) 2221-2269 ou editora_lorenz@uol.com.br), que tem feito um trabalho de divulgação e projeção do livro espírita no meio espírita e não-espírita de maneira significativa, em conjunto com o Grupo Espírita Esperantista Hora da Paz. 

Quantos autores assinam a obra? Quem são?
O time de convidados é de primeira grandeza. No total são 25 escritores, a saber: José Raul Teixeira, Richard Simonetti, Ney Lobo, Izaura Hart, José Passini, Sérgio Felipe de Oliveira, César Soares dos Reis, André Trigueiro, Orson Peter Carrara, Wagner Gomes da Paixão, Sandra Borba, Darcy Neves Moreira, Dalva da Silva Souza, José Carlos Leal, Eduardo Ferreira, Plínio Oliveira, Jorge Damas, Milton Menezes, Carlos Augusto Abranches, Cristian Macedo, Nadja do Couto Valle, Alexandre Machado, Érika Ferraz, Marcel Mariano e Marcelo Teixeira. 

Quais os temas abordados?
Namoro; sexo; homossexualidade; alimentação; drogas lícitas e ilícitas; depressão; suicídio; aborto; morte; gravidez na adolescência; conflito de gerações; casa espírita; mediunidade; arte; Esperanto; violência; liberdade; meio ambiente; Terra, mundo de regeneração?; entre outros temas palpitantes. 

Que detalhes da obra você gostaria de destacar?
Acreditamos que nossos maiores divulgadores serão os próprios escritores. Muitos deles estarão propagando em seus respectivos Estados. Gostaria de destacar que, além do excelente conteúdo doutrinário da obra, ela possui muitas fotografias, tanto dos jovens que participaram do livro quanto dos escritores. Colocamos fotos dos escritores jovens, tornando o livro atraente, não apenas pelo conteúdo, como também pela estética e pela curiosidade. 

Como foi feita a escolha dos entrevistados?
Não houve propriamente um critério rigoroso para elegermos os escritores. Uma coisa é certa, todos possuem larga folha de serviço à causa espiritista, conhecimento, vivência e autoridade para dialogar com a nossa querida juventude espírita. 

Quais as expectativas dos jovens com relação à obra?
As maiores e melhores possíveis. Afinal, é um livro em que eles estão participando, aguardando respostas para os seus questionamentos, inquietações e conflitos; e não apenas os jovens, mas os educadores, pais, iniciantes, estudiosos da doutrina, “jovelhos” etc. Todos nós queremos saber mais e mais... para vivermos melhor e nos tornarmos melhores. 

Por falar em jovens, como você vê hoje o envolvimento dos jovens com o panorama atual da sociedade?
Se por um lado vemos jovens mal saídas da infância grávidas, jovens violentos, jovens imaturos, jovens vazios, jovens conflitados etc., por outro, temos jovens idealistas, jovens cientistas, jovens professores, jovens piedosos, jovens doadores, jovens médiuns, jovens estetas... O grande problema é que o mal toca trombeta, faz barulho, grita..., o bem continua falando baixinho, dentro de uma timidez que poderíamos chamar de omissão e, em alguns casos, de covardia.
 Toda mudança para ser legítima precisará ter raiz e solidez dentro de cada um de nós, daí a necessidade de incentivarmos o bem, falarmos do bem, divulgarmos o bem, apoiarmos o bem e, sobretudo, vivermos no bem...
Juventude não é sinônimo de irresponsabilidade, desequilíbrio, vazio, conflitos..., ao contrário, a juventude, quando bem orientada, é oxigênio novo nos pulmões cansados do mundo que agoniza e, quando vitalizada por Jesus, torna-se sadia, equilibrada, vigorosa, responsável, enfim, torna-se a carta viva que irá levar ao mundo a mensagem fulgurante do verdadeiro Amor. 

Algo mais que gostaria de acrescentar?
Gostaria de agradecer pelo espaço, em nome da Editora Lorenz e dos companheiros do Grupo Espírita Esperantista Hora da Paz. Agradecendo também a todos que colaboraram com a concretização deste trabalho, todo ele feito voluntariamente: jovens, escritores, toda a revisão e prefácio do Marcelo Alves Teixeira, capa e diagramação de Rogério Mota. Importante ressaltar que toda a renda do livro será destinada para obra social e cultural mantida pelo Grupo Espírita-Esperantista Hora da Paz (Rua Primeira, 258, Santa Cruz - Rio de Janeiro - RJ - CNPJ 32380818/0001-73 - cppaco@globo.com).



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Arquivo Superinteressante: Eles vêem espíritos

Para a ciência, ver e ouvir fantasmas não tem nada de sobrenatural: tudo é criado pelo cérebro. Agora os cientistas tentam explicar por que tanta gente, em diferentes épocas e civilizações, afirma ver espíritos

por Texto Aryane Cararo

SUPERINTERESSANTE Edição 237março/2007



No rádio tocava Oceano, de Djavan. Maurício ia de São Paulo a Santos e acabava de entrar no primeiro túnel da Rodovia dos Imigrantes. Foi quando sentiu um calafrio e ouviu:

– Ai, gosto tanto dessa música.

– Tia, o que a senhora está fazendo aqui?, disse Maurício, reconhecendo a voz.

– Ué, estou indo para a praia, responde a tia, com naturalidade.

– Mas a senhora não pode. A senhora está morta faz uma semana.

Dona Rosa, a tia de Maurício que apareceu no carro de repente, reclamava de que estava perdida e ninguém tinha ido buscá-la. “Só vi o Zé [o irmão dela], mas parecia que ele estava de fogo”, disse. Sem saber o que fazer, o sobrinho sugeriu que  ela aguardasse pa ra seguir seu caminho. Antes de sumir do veículo, a mulher agradeceu a coroa de flores e só não deixou mais perplexo o administrador e engenheiro eletricista Maurício Casagrande porque essa não era a primeira vez que algo parecido acontecia. As primeiras manifestações estranhas apareceram na infância, mas foi depois dos 27 anos que ele passou a protagonizar cenas de horror: acordava durante a noite e via figuras cadavéricas no quarto, ouvia vozes e começou a adivinhar data e hora da morte de pessoas próximas. Entre o susto e o incômodo, buscou ajuda médica com psicólogos, psiquiatras, neurologistas. Nun ca encontrou nada errado.

Para a ciência, espíritos não existem. Nossa personalidade, nossa inteligência, nosso caráter, tudo é determinado pelas conexões cerebrais. Quando morremos, as células têm o mesmo fim, sem deixar possibilidade para alma ou fantasmas aflorarem. Mas os próprios cientistas reconhecem que relatos de experiências sobrenaturais e de contato com os mortos, como odo engenheiro Maurício, estão presentes em diversas civilizações e são quase tão antigos quanto a escrita. A possessão por deuses e demônios aparece desde 2000 a.C. O Tratado do Diagnóstico Médico e do Prognóstico, um conjunto de 40 pedras babilônicas dedicadas à medicina, descreve as alucinações auditivas e as ausências súbitas com um caráter sobrenatural. Hieróglifos também revelam que os egípcios acreditavam que mortos ou demônios entravam no corpo dos vivos e provocavam tais sintomas. O caráter sagrado também esteve presente na Grécia antiga, onde alucinações eram chamadas de “doença sagrada” ou “doen ça da Lua”. Com o advento do cristianismo, os inúmeros deuses deixaram de ser a causa para esses fenômenos. Surgiram as explicações naturais, como a de que a Lua provocava o aquecimento da Terra e isso faria o cérebro derreter, gerando as crises. Na Idade Média, quem tinha alucinações era considerado herege. Joana D’Arc, queimada em 1431 quanto tinha 29 anos, começou a ouvir vozes e perceber luzes estranhas ainda adolescente. Hoje, os espíritos inspiram todo um gênero de cinema – os filmes de terror –, sem falar em contos da literatura universal, novelas e conversas em família. Com tantas histórias distantes, porém parecidas, é muito fácil acreditar que há algo além ao nosso redor.

Apesar de tantos relatos semelhantes, só nos últimos 20 anos é que o assunto saiu dos filmes de terror e voltou a ocupar as páginas de estudos científicos sérios. As pesquisas focam desde o perfil dos chamados médiuns a análises neurológicas que relacionam alucinações a epilepsia e ao fenômeno do déjà vu. Ainda não existe uma explicação definitiva do fenômeno da mediunidade, mas há conclusões suficientes para destruir vários mitos sobre o tema.

Quem vê gente morta?

Primeiro mito: o de que pessoas que afirmam ver espíritos são malucas. Em boa parte dos casos, quem vive esse fenômeno são profissionais com ensino superior, pais e mães de famílias de classe média e alta, que mantêm a experiência em segredo e recorrem a dezenas de médicos para saber o que está acontecendo. Em 2005, o psiquiatra Alexander Moreira de Almeida, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e membro do Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper) da USP, aplicou testes psicológicos em 115 médiuns da capital paulista. A maioria deles era formada por pessoas que afirmavam incorporar espíritos, falar coisas que estão sendo ditas por mortos, ter visões e ouvir vozes. Almeida descobriu que pessoas bem instruídas e ocupadas formavam sua amostra: 46,5% tinham escolaridade superior e apenas 2,7% estavam desempregados. “Esses dados mostram que não são pessoas desajustadas socialmente”, diz. A maior revelação veio dos resultados do SQR (Self-Report Psychiatric Screening Questionnaire), um questionário aplicado para detectar transtornos mentais. Quanto mais respostas positivas, mais alta é a probabilidade de a pessoa ter um transtorno. “Em menos de 8% delas o resultado deu positivo, o que é muito pouco. Na população brasileira, esse índice fica entre 15% e 25%.” Outra surpresa veio com o teste de Escala de Adequação Social. O psiquiatra verificou que os médiuns que relatavam incorporar espíritos com uma freqüência maior eram os mais ajustados socialmente e também aqueles que menos tinham sintomas de transtornos psiquiátricos.

A notícia é um alívio para quem sofre a pressão de viver experiências mediúnicas e se pergunta o tempo todo onde está o limite entre a loucura e a sanidade. “Sou um cara cético. Até hoje me pergunto se o que vejo não é criação da minha cabeça”, diz Maurício Casagrande. “Quando as imagens ficaram mais freqüentes, achei que estava ficando esquizofrênico e fui procurar ajuda na medicina.” Maurício chegou a dormir duas noites no Hospital São Paulo, vigiado por equipamentos de mapeamento cerebral, e a tomar ansiolíticos, que não o impediram de continuar acordando com presenças fantasmagóricas. Apesar das inúmeras tentativas, não se descobriu nenhum transtorno mental. “Até que um dia um médico falou para eu procurar um lado mais espiritual. Veja só: um médico falando isso!”, diz ele.

As consultas médicas também fizeram parte da adolescência de Regina Braga, hoje com 52 anos. Aos 15, ela começou a acordar rodeada de estranhos. “Eram figuras grotescas. Eu via pessoas com os olhos esbugalhados em cima de mim. Comecei a entrar em parafuso”, diz. Os pais passaram a levá-la a médicos, que receitavam calmantes. “O tranqüilizante era uma porta de acesso maior. Eu relaxava, ficava indefesa e os ataques à noite eram mais ferozes.” Aos 17 anos, Regina entrou em uma espécie de coma. “Os médicos fizeram de tudo para que eu despertasse, mas eu não tinha nenhuma reação.” Ao sair do que chama de “transe”, foi transferida para a clínica de um médico espírita, que soube tratá-la (leia ao lado boxe sobre a doutrina). “Se fosse outro médico, acho que me mandaria para um hospício.”

O medo de ter problemas mentais impede muitas pessoas de falarem abertamente sobre o assunto. “A literatura médica diz que de 15% a 30% da população tem algum tipo de vivência sobrenatural. Essas pessoas não contam para ninguém por medo de acharem que estão loucas”, afirma o psiquiatra Almeida. O engenheiro Maurício é um exemplo de quem evita propagandear. “Se tem uma coisa que não suporto são os ‘esochatos’, aquele bando de esotéricos que ficam tentando convencer a pessoa a seguir alguma idéia. Tenho medo de rótulos, por isso prefiro não comentar”, diz.

Os médiuns na história

De fato, os cientistas que começaram a estudar esses fenômenos foram os que tratavam doenças mentais. Em 1889, o psiquiatra francês Pierre Janet foi o primeiro a propor a existência de uma segunda consciência. Para ele, quando a personalidade perdia a coesão (o fluxo normal de idéias e pensamentos), uma corrente secundária de idéias, vontades e imagens se sobrepunha à consciência, gerando automatismos motores e sensoriais – responsáveis pelos chamados fenômenos paranormais. O contemporâneo William James, psicólogo americano, defendeu a tese de que a possessão mediúnica era uma forma de personalidade alternativa em pessoas que não tinham problemas mentais: uma espécie de dupla personalidade. Ele não descartou que um espírito desencadeasse essa segunda identidade. Já o professor de cultura clássica Frederic Myers dedicou-se a estudar oinconsciente. Ele defendeu que existia na mente uma consciência subliminar, que raramente emergia – quando isso acontecia, o resultado era a manifestação mediúnica. Até mesmo Sigmund Freud deu palpites sobre a mediunidade. Para ele, os estados de possessão correspondiam às nossas neuroses: os demônios seriam os desejos considerados maus que foram reprimidos. “Aos nossos olhos, os demônios são desejos maus e repreensíveis, derivados de impulsos instintivos que foram repudiados e reprimidos”, afirmou ele no livro Uma Neurose Demoníaca do Século 17, de 1923.

A neurologia também tentou cercar o mistério. O inglês John Hughlings Jackson sugeriu que as crises não passavam de uma descarga ocasional, excessiva e inadequada do tecido nervoso sobre os músculos, assim como a epilepsia. Na década de 1950, os médicos Wilder Penfield e Theo dore Brown Rasmussen, do Instituto Neurológico de Montreal, no Canadá, fizeram cirurgias em pacientes com epilepsia acordados. Graças a elas, o mundo descobriu muito sobre o cérebro. Quando os médicos estimulavam uma área do cérebro, o paciente mexia a mão; em outra, o pé. Ao estimularem áreas relacionadas à gustação, o paciente sentia um gosto na boca. Também ouvia sons sem sentido, via bolas e estrelas. “Foi assim que mapearam o cérebro humano”, afirma Elza Yacubian, neurologista especializada em epilepsia da Universidade Federal de São Paulo.

A busca por explicações para os fenômenos tidos como paranormais rendeu também descobertas de instrumentos da neurologia usados até hoje, como o eletroencefalograma, que registra a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos colocados na cabeça do paciente. O a pa relho foi criado pelo psiquiatra alemão Hans Berger, fascinado pelos poderes da mente desde a década de 1890, quando foi soldado do Exército alemão. Durante um exercício militar, Berger sofreu um acidente de cavalo. Logo depois, seu pai, sem saber o que havia acontecido, enviou-lhe um telegrama para saber como o filho estava – a irmã de Berger tinha dito ao pai que sabia que ele havia sofrido um acidente. O psiquiatra ficou fascinado pela adivinhação da irmã: passou a acreditar em paranormalidade e decidiu estudá-la. “Ao criar o eletroencefalograma, em 1929, ele esperava que o aparelho desse respostas a experiências que julgava fora do comum”, diz Elza. “Uma de suas maiores decepções foi constatar que o eletroencefalograma é normal em pacientes que têm problemas psiquiátricos e nas pessoas que relatam experiências sobrenaturais.”

O que diz a ciência

Depois da criação do eletroencefalograma, apareceram a ressonância magnética, a tomografia computadorizada e a ressonância funcional. Com elas, já se conseguiu mapear no cérebro até as á-reas que despertam as emoções e controlam funções específicas do corpo, como enxergar em profundidade ou reconhecer faces. Mas esses equipamentos não são suficientes para detectar a química envolvida na troca de impulsos elétricos e as alterações celulares de quem afirma ver espíritos. Para os cientistas, é por causa dessa falta de recursos mais precisos que os exames feitos pelo engenheiro Maurício não apontam anormalidades. “Quando o bebê está sendo formado, bilhões de células embrionárias migram para formar 6 camadas do córtex”, afirma a neurologista Elza. “Nem a melhor ressonância magnética consegue detectar falhas nesse nível.”

Mesmo assim, no mundo das hipóteses médicas, os relatos de retorno dos mortos à Terra não passam de ficção criada pela máquina chamada cérebro. Desde os primeiros estudos, a epilepsia virou explicação para manifestações de mediunidade, idéia que é seguida até hoje. Ataques epilépticos são o ponto máximo da hiperexcitabilidade do cérebro, que responde mandando ao corpo reflexos não só motores. Epilépticos sofrem também reações olfativas – como sentir cheiros estranhos repentinamente – visuais e sonoras, como ter alucinações. Isso mesmo, alucinações, muito parecidas com as de quem afirma ver espíritos. “Uma excitabilidade diferente poderia ser a explicação para fenômenos não patológicos de visões e audições”, afirma Elza Yacubian. Há tipos de epilepsia que são muito relacionados a relatos sobrenaturais. A epilepsia do lobo temporal do cérebro, por exemplo, provoca alucinações e induz à religiosidade. Essa parte do cérebro é tida como a responsável pela religiosidade: pessoas com lesões nela costumam desenvolver uma religiosidade extrema. Acredita-se, por exemplo, que o fanatismo religioso do pintor Vincent Van Gogh tenha vindo da epilepsia no lobo temporal.

Para o InterPsi, um grupo de pesquisadores da PUC-SP que se dedica a encontrar explicações lógicas e científicas para fenômenos sobrenaturais, a epilepsia é só uma das possíveis soluções do mistério. Além dela, outros estados alterados da mente se relacionam a alucinações. “Freqüências sonoras, campos magnéticos e estados de transe podem provocar efeitos sensoriais”, afirma o psicólogo Welling ton Zangari, pesquisador do Laboratório de Psicologia Social da Religião na USP e membro do InterPsi.

Zangari cita o caso que aconteceu num escritório de engenharia da Inglaterra na década de 1980. Vários funcionários afirmavam ver fantasmas em uma das salas, que em pouco tempo ficou conhecida como mal-assombrada. Foi um engenheiro do próprio escritório, chamado Vic Tandy, que desfez o mito: as aparições eram, na verdade, uma reação do globo ocular, que vibrava influenciado pela freqüência de infra-som de um ventilador, borrando a visão de quem entrava ali.

Sabe-se, também, que alucinações são comuns em pessoas com estados graves de fome ou em quem fica 3 dias sem dormir. “Nessas situações, os neurônios funcionam de forma anormal, criando uma realidade paralela”, afirma a neurologista Kátia Lin, da Unifesp. “Não significa que a pessoa esteja louca ou doente.”

Se o cérebro é a chave para as alucinações, os cientistas se dedicam agora a saber quais circuitos movem essa engrenagem. Em setembro passado, o médico Olaf Blanke, da Escola Politécnica de Lausanne, na Suíça, criou em laboratório aquela sensação desagradável de ter uma presença parada às costas. A cobaia foi uma mulher de 22 anos, com epilepsia, que se submetia a uma cirurgia para retirar a lesão que provocava as crises.

A equipe de Blanke aplicou estímulos elétricos em pontos do lado esquerdo do cérebro. A reação foi sinistra: a mulher sentiu que alguém estava atrás dela. Empolgados, os médicos estimularam ainda mais a área e a paciente foi capaz de descrever o ser invisível como uma pessoa jovem. Os pesquisadores, então, pediram que ela tentasse abraçar os joelhos. Ao se abaixar, a mulher podia jurar que a presença que sentia tinha segurado seus braços.

A área estimulada está relacionada à noção corporal – sem ela fica impossível, por exemplo, mexer os braços na hora de trocar de roupa, por mais que o braço esteja perfeito. Para o médico Olaf Blanke, estímulos nesse ponto podem explicar não só a presença fantasma, como também os relatos sobre viagens feitas fora do corpo. A tese é reforçada por uma experiência similar realizada em 2002. Ao tentar identificar a área de lesão de uma inglesa de 43 anos, com epilepsia havia 11, Blanke estimulou o giro angular, uma área que fica na parte posterior do lobo temporal, e se surpreendeu com o resultado: a mulher sentiu como se tivesse saído do corpo e levitado 2 metros acima da mesa de cirurgia. “O giro angular é importante para processos cerebrais associados à experiência extracorpórea”, afirmou Blanke na revista Nature.

Tentar reproduzir fenômenos espirituais em laboratório não é novidade. Desde a década de 1980, o neurologista canadense Michael Persinger faz testes com ondas eletromagnéticas em pessoas normais. A experiência consiste em colocar capacetes, que geram uma espécie de campo magnético, em voluntários vendados, dentro de uma sala escura e com isolamento acústico. À medida que o pesquisador estimula o lobo temporal, os voluntários têm sensações de fazer inveja a qualquer usuário de alucinógenos: olhos que se mexem e viram luzes roxas, visões de incêndios, demônios, deslocamento do corpo e cenas da infância como se acontecessem no presente.

Ou seja: para a neurologia, ver espíritos é resultado de uma disfunção cerebral ainda não diagnosticada. Os sintomas são parecidos com os de doenças como epilepsia, esquizofrenia (que provoca alucinações auditivas e delírios de perseguição), tumores cerebrais (que podem causar alucinações) e transtorno de identidade dissociativa, quando o doen te tem dupla identidade, ouve vozes e muda sua caligrafia. Mas a causa seria bem diferente da dessas doenças e estaria relacionada a erros de sinapse do cérebro. “Se há áreas do cérebro capazes de fazer contatos por telepatia, a ciência simplesmente não tem como refutar ou comprovar”, diz a neurologista Kátia Lin. Talvez nem mesmo o cérebro abrigue todas as explicações. “Há uma tendência hoje de reduzir tudo a causas cerebrais”, diz o psicólogo Wellington Zan gari, do InterPsi. “Mas não dá para entender tudo sem um olhar antropológico, cultural e psicológico.”

Mais longe ainda está a explicação para fenômenos como previsões do futuro, o meio como os médiuns costumam saber da morte de parentes. Como alguém pode ser capaz de atravessar o tempo? Será só uma coincidência? Também há o problema dos relatos de luzes que acendem sozinhas à noite, gavetas, portas que aparecem inexplicavelmente abertas. Enquanto uma explicação definitiva não aparece, quem acredita ver espíritos prefere tentar levar a vida normalmente, como a advogada Margareth Pummer. “O assunto é tão sério que não faço propaganda. Evito conversar sobre isso e assim vou vivendo”, diz.

"Foi feliz o cara que fez O Sexto Sentido. Eu tinha experiências similares às do filme. Aos 27 anos, aconteceu um episódio horroroso. Estava em Ubatuba e tive uma visão: Gente ensangüentada, faltando um pedaço da cabeça, aquele branco cadavérico. me acostumei a acordar gritando, sentindo que alguém me cutucava. o ponto culminante foi Antes de eu casar. procurava apartamento na vila mascote, em são paulo, e nada dava certo. Uma noite veio aquele monte de visões insuportáveis no meu quarto e alguém falou: ‘Você não vai conseguir morar nesse bairro, porque ele foi uma fazenda, houve disputas em família e mataram gente ali’. fiquei assustado e decidi morar em outro lugar. Há 5 anos, uma prima distante teve um AVC. Uma noite, veio um ser e falou: ‘A Vera já foi. Em dois dias ela sai do físico’. Nunca tinha tido nada tão claro. Contei para minha mãe e Dois dias depois a mulher morreu. Chega a um ponto tão horroroso que, se alguém vai para o hospital, já sei se sai ou não. Aliás, hospital é um dos lugares a que não posso ir. Cemitério, de jeito nenhum – sempre que vou, volto acompanhado"
Maurício Casagrande, de 31 anos, administrador e engenheiro eletricista especializado na área de telecomunicações.Já psicografou duas vezes. Ateu.

"Aos 15 anos, comecei a acordar à noite e ver espíritos rodeando a minha cama. Eram figuras grotescas, machucadas, que faziam ameaças. Eu chorava muito. Por causa das crises, perdi o ano na escola e passei a tomar calmantes. Achavam que eu estava doida, mas eu tinha certeza do que via. Graças a um médico espírita, não fui parar num hospital psiquiátrico. Comecei a entender que o que chamamos sobrenatural não era incomum assustador. Hoje, Reservo uma ou duas horas por semana para psicografar um livro. Vou ao computador, o espírito senta ao meu lado e começa a ditar."
Regina Braga, de 52 anos, secretária-executiva. Católica, começou a seguir o espiritismo aos 17 anos.

"Começou depois que voltei do Japão, em 2001. Um dia, a TV ligou de madrugada, Passando a nota de falecimento do Mário Covas. Por 3 meses, acordei naquela hora. depois, comecei a ver sombras embaixo da porta e roupas flutuando. pensei que tinha um problema psiquiátrico. Essa descrença é o pior: seus olhos presenciam algo e sua mente não quer aceitar. Outra vez, no trabalho, a tia de minha assistente ligou para saber se sua irmã, no hospital, passava bem. Eu atendi e ela me disse seu nome: Carmela. Quando contei para minha assistente, ela começou a chorar: sua tia Carmela tinha morrido havia 4 anos. como foi que eu adivinhei o nome da tia dela?"
Emerson Ogata, 31 anos, cabeleireiro, procurou ajuda na doutrina espírita.

"No início, eu tinha medo. durante os pesadelos, me esforçava para acordar e gritar. quando Meu marido acordava, tudo sumia. Um dia lembrei de uma prece. Saí do corpo e fui conversar com os espíritos. Virou um exercício comum. Às vezes, vem uns que querem me assustar, mostram a língua, xingam. Nesse momento, eu falo: ‘fora daqui’. Mas muitas vezes eles vêm para conversar. Já aconteceu de funcionários entrarem na minha sala quando eu respondia em voz alta. É como se fossem grandes amigos. Em 2005, meu filho mais velho foi seqüestrado. Ficou 53 dias em cativeiro e a melhor coisa que aconteceu foi ter contato com espíritos. A primeira coisa que ouvi foi ‘Tenha fé, seu filho vai voltar’. Todos os dias eu tinha esse estímulo. Depois do 35o dia, as pessoas me ligavam para dizer que ele estava morto. Nessas horas, eu ouvia: ‘Seu filho está vivo, fique calma’. as vozes estavam certas. Não tem dinheiro que pague esse apoio."
Margareth Pummer, 48 anos, advogada e gerente de departamento de qualidade e meio ambiente. Segue a doutrina espírita há 17 anos e hoje é médium.