terça-feira, 9 de julho de 2019

O SOFRIMENTO

Pelo espírito Marta,
através do médium Marcel Mariano
Publicação autorizada



Narram as tradições antigas que, ao observar da casa palaciana um velho, uma mulher, uma criança e um doente, o príncipe Sidarta Gautama, mais tarde o Buda, viveria uma grave crise existencial. A visão despertaria nele a certeza de que o sofrimento é paisagem comum a todas as criaturas, nenhuma delas podendo forrar-se à sua visita, cedo ou tarde.

Meditando sobre o sofrimento após abandonar a vida luxuosa em que vivia, o jovem monarca estabeleceria as chamadas quatro nobres verdades do Budismo. O sofrimento, as causas do sofrimento, a necessidade que temos de nos libertar dele e os métodos. À luz dos princípios cristãos, renovados pela terceira revelação, o sofrimento é de causa humana, nunca divina, pois que é o próprio ser que gera, pelas ações e omissões cometidas na sua marcha evolutiva, os fatores causais pelos quais viola as divinas leis, feitas de amor e misericórdia, mas igualmente de justiça. Pelo sofrimento que causa a si ou a outrem, retorna pelas vias do renascimento corporal para o ressarcimento equivalente, reabilitando-se perante a própria consciência e as leis naturais.

Uma conduta reta e limpa produz uma caminhada evolutiva nobre e isenta de sofrimentos, mas não de testemunhos, que são indispensáveis ao aperfeiçoamento do ser, em marcha para a plenitude. Uma existência assinalada pelos erros e disparates intencionais aciona gatilhos de correção evolutiva, produzindo as algias morais, que freiam a loucura e corrigem a insanidade comportamental, reconduzindo o aprendiz aos trilhos da verdade.

Se observas o sofrimento vergastando outrem ou experimentas em ti mesmo os seus duros aguilhões, não te revoltes contra a soberana vontade. Carpes com isto o passado delituoso, aplainando o futuro de venturas. O outro também está em marcha, incurso em delitos do pretérito que desconheces por enquanto. Estende a mão e te sentirás menos infeliz. Doa-te em alguma atividade nobre, consoladora, e te sentirás menos infortunado. Ora por instantes breves em favor de alguém que estorcega nas malhas do agro sofrimento e te verás menos desditoso. E quando tudo parecer conspirar contra teus ideais de felicidade, recorda-te D'Ele, sem culpa, servindo, amando e como prêmio pelo que fez em nosso favor no mundo apenas recebeu duas traves. Na horizontal, nos convidou a abraçar a humanidade inteira. Na vertical, nos ensinou que sem quitação com o mundo íntimo, ninguém sobe ao Pai. 

Marta


segunda-feira, 1 de julho de 2019

ENGANOSAS APARÊNCIAS

Pelo espírito Marta,
através do médium Marcel Mariano
Publicação autorizada



Submerso no universo social, não raro o homem vale-se do fingimento e das aparências para sobreviver entre os seus.

Despossuindo bens e valores, finge tê-los para granjear prestígio nas rodas de conveniências.

Se valendo de itens emprestados, exibe alto padrão de consumo para impressionar, endividando-se de maneira a não poder mais solver as próprias dívidas, arruinando-se.

Cobrado em ter o que não conseguiu amealhar, frustra-se ante a escassez financeira que o asfixia, atormentando-se, passando a valer-se de recursos de mistificação e fingimento para exibir o que não é nem possui como seu.

Não seja, pois, de estranhar, as graves ocorrências psicológicas que presentemente vergastam a saúde mental e emocional de milhões de criaturas, a viverem para si e para os demais uma vida postiça e falsa, edificada sobre o lodoso solo das aparências e do fingimento.

Somente a adoção de uma existência real, destituída de ufanias e ilusões poderá devolver alguma réstia de saúde moral ao indivíduo equivocado, fantasioso.

Procurando viver modestamente, conforme seus recursos disponíveis, sustentando o padrão de vida possível naquele momento evolutivo com dignidade e honradez darão ao ser a tranquilidade emocional para forrar-se contra as enganosas aparências, vigorosas bengalas psicológicas a vigirem numa sociedade doente e iludida.

Adotando a simplicidade de um Francisco de Assis e a serenidade do Cristo no tocante aos bens terrestres, sempre transitórios e passageiros, poderá o Espírito atravessar a experiência carnal sem maiores conflitos, desapegando-se desde já das algemas materiais que o retém num círculo de enganosas aparências, empurrando-o para ser o que ele não é.

Ausculta desde hoje a própria existência com rigor e severidade, identificando tuas máscaras sociais, tendo a coragem de as abandonar em nome de tua realidade espiritual. Adota uma vida compatível e sê sincero contigo mesmo, granjeando a harmonia que aos aparentes falta. E caminha decidido e feliz, desvestido de rótulos ou aparências, a te tornarem estranho convidado num baile de fantasias esdrúxulas, a aguardarem a morte física, que a todos reconduzirá para o país da verdade, onde não mais se sustentam os descabidos fingimentos e as enganosas aparências.

Marta




quinta-feira, 27 de junho de 2019

VÍCIOS: ESCRAVIDÃO MODERNA


Pelo espírito Marta,
através do médium Marcel Mariano
Publicação autorizada


Numa análise sobre as modernas relações interpessoais, impossível não destacar o combate que as autoridades dão à chamada escravidão. Nenhuma cultura dita civilizada pactua mais com a submissão de um homem a outro homem, na condição análoga à de escravo, onde lhe faltem os direitos humanos mínimos, consagrados desde a Revolução Francesa e hoje plenamente insculpidos nas constituições e demais marcos legais.

O direito de ir e vir. Possuir uma propriedade e nela construir seu lar. Ter seus bens e a indisponibilidade da vida ante o ataque de terceiros.

Entretanto, se essa escravidão ancestral vem sendo dissolvida pelo tacão da lei e pelo avanço da cultura, o mesmo não se pode afirmar quanto às novas formas de servidão, engendradas pela fragilidade moral do Espírito reencarnado. A escravidão à pornografia. A submissão ao jogo degradante. O aprisionamento às drogas, ao álcool, ao tabaco destruidor. De modo geral, os vícios são formas de prisão livremente escolhida pelo encarcerado, que neles se atira e se compraz, não se dando conta da perda da liberdade a que se impõe.

É quando o prisioneiro escolhe o carcereiro que o manieta e vigia, implacável.

Jesus lutou contra todas as formas de escravidão, especialmente aquela derivada do ego em desequilíbrio, das paixões e do sentimento de posse, que acaba por possuir aquele que o nutre, alienando-o. Viveu e ensinou como construir a própria liberdade, sendo apenas escravo das Divinas Leis.

Fazes uma reflexão honesta se te situas hoje escravo de algum arrastamento pernicioso ou degradante e assume contigo mesmo o compromisso de lutar tenazmente por tua alforria. Verifica se o sentido de liberdade que tens é realmente aquele que te dota de asas para construir uma caminhada isenta de algemas, ou és apenas um viajante iludido, a caminhar vigiado por sicários cruéis de tua paz interior.

Descobrindo-te algemado, decreta tua lei áurea e rompe com a moderna senzala que te agrilhoa a vícios e paixões, arrastamentos e posses que não podes levar quando de tua partida deste orbe, ainda assinalado por tantos contrastes, onde a liberdade convive lado a lado com a escravidão, qual pássaro ansioso em romper as traves da gaiola que o impede de singrar livre o céu azul. Assume a ave que dormita em teu seio profundo e rompe as algemas, voando desalgemado das modernas escravidões.

Marta








quarta-feira, 26 de junho de 2019

ANJO GUARDIÃO

Pelo espírito Marta,
através do médium Marcel Mariano
Publicação autorizada


Um dos capítulos mais fascinantes da história religiosa dos povos diz respeito ao profundo interesse que se tem por descobrir quem é nosso anjo guardião. Ao reformista, o único intermediário entre os homens e Deus é Jesus, nada significando além disso. Ao católico romano, Deus sempre confia a cada pessoa um tutor ou anjo da guarda, que passa a existência inteira do pupilo velando por seus êxitos, sustentando no fracasso e amparando na queda. E para os espiritistas, somos acompanhados sempre de um guia ou mentor, a nos inspirar nos momentos decisivos. Seja de que maneira for, guardamos a certeza de nunca estarmos sozinhos na caminhada incessante, tendo sempre um ser transcendente e de elevada hierarquia a nos amparar.

Na dor, sustenta-nos a coragem, fortalecendo a resignação. Nas alegrias, adverte-nos que elas são passageiras. Na revolta, induz-nos à temperança. E sob abandono dos demais, torna-se o único a ficar de nosso lado até a consumação dos fatos.

Ele foi, é e sempre será guia de homens e mulheres, apontando a trilha da verdade, ante os caminhos do amor. Permanece esquecido de muitos que afirmam amá-Lo, mas nunca esqueceu uma só ovelha de seu imenso rebanho.

Quando te sintas só no mundo, abandonado por entes queridos, sitiado por inimigos implacáveis e lanceado por mãos impiedosas, recorre à prece ardente e sincera, abrindo espaços mentais para que esse anjo se te acerque, nutrindo tua alma de bonança e refrigério, coragem e harmonia. Com ele ao teu lado, lutarás em dupla contra a horda do mal, triunfando sobre tua sombra e clareando tua marcha para o guia e modelo da humanidade, anjo que se apartou do paraíso para vir a Terra nos socorrer da indigência e nos amparar as ações frágeis, apontando com sua mensagem a estrela da redenção, a cintilar no céu de nossos anseios e sonhos.

Marta





domingo, 23 de junho de 2019

EDUCAÇÃO RELIGIOSA


Pelo espírito Marta,
através do médium Marcel Mariano
Publicação autorizada


A deseducação religiosa responde por incontáveis males na sociedade hodierna. Desde o fanatismo até a intolerância, o indivíduo torna-se um algoz de si mesmo ou de seu próximo, a quem busca humilhar com sua empáfia e presunção.

Edificadas no processo antropossóciopsicológico da longa evolução, o sentimento religioso, que é inato no ser, ampliou-se com o advento das doutrinas religiosas diversas, o que ajudou a dulcificar o comportamento humano de uns para com os outros. O objetivo das religiões não é somente reconduzir o ser ao divino, mas humanizar também suas relações com o mundo, com o próximo e consigo mesmo. Por isso, se faz de alto valor a educação religiosa, que seria aquela em que o aprendiz se vale das ferramentas teológicas para amenizar seu trato com o outro, ao tempo em que se prepara para a grande transição da corporalidade para a transcendência pelo fenômeno da morte.

Mais nobre espírito que já veio à Terra, Jesus, como ninguém, soube lidar com as diferenças religiosas então reinantes no seio da raça, lecionando tolerância e respeito.

Adota o exemplo de Jesus na relação com os que pensam diferente de ti, esvaziando a tua arrogância e o teu fanatismo, se propondo a uma convivência harmônica e civilizada com os diferentes, pois que estamos todos no mesmo barco, somos filhos do mesmo Deus e herdeiros do mesmo amor, rumando para o mesmo porto.

Marta





terça-feira, 26 de setembro de 2017

Causa Primeira

Por Tiago Navarro


Vendo-o entristecido, Jesus disse: "Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus! De fato, é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". (Lucas 18:24,25)


Nos acostumamos a interpretar essa passagem como sendo uma fala direcionada aos detentores de riquezas materiais. Porém, meu convite é para refletirmos acerca das nossas riquezas intelectuais, ou de ordem dos acúmulos daqueles quinhões que não nos fará “mais elevados” após o nosso desencarne, e que somos capazes de agredir aos nossos semelhantes para mantê-las longe de usufrutuários, tais como, opiniões, posições muito rígidas, necessidade de sempre deter a “verdade”, a falsa crença que portarmos privilégios, etc.

A primeira grande riqueza que fazemos questão de acumular, inegavelmente, é o conhecimento. Crescemos com a máxima que diz: conhecimento é poder. Ainda arrastamos para a atualidade esse comportamento que outrora levou à extinção diversas nações, talvez acreditando que dessa vez será diferente, justamente por conhecermos o passado, desfrutarmos da possibilidade de interpretar dados históricos, sistematizados e acumulados, facultando previsões seguras e acertadas do que devemos evitar. Mas será que conseguimos realmente usufruir dessa “benção”?

Nesse introito, a humanidade, na sua busca de melhor compreender o mundo à sua volta e da sua relação com essa realidade subjetiva/objetiva, se esmerou em investigar a natureza, as relações sociais, e o universo. Tanto na antiguidade como na atualidade, contamos com o esforço de pessoas dedicadas a interpretar dados e produzir informações padronizadas e replicáveis a outros investigadores, a qual denominamos – esta prática – Ciência. Da palavra latina scientia – traduzida correntemente por "conhecimento" – definimos então ciência como qualquer sistematização de conhecimento ou prática. Em sentido estrito, ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico, bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas. Tomando essa definição, podemos perceber que quem busca compreender algo é um cientista, e este, então, é um elemento essencial à ciência e, como qualquer ser humano dotado de um cérebro imaginativo que implica sentimentos e emoções, certamente também pode ter suas crenças – convicções que vão além da realidade tangível – podendo esse até mesmo ser, não raramente ou obstante, um teísta ou religioso convicto.

Após breve momento de divagação, retornamos a uma frase bastante comum no movimento espirita: “devemos evitar o cientificismo nas casas espiritas”. Qual a preocupação de quem nos lega esse conselho? Um dos caminhos que podem levar a essa resposta, está no fato de sempre considerarmos as mitologias dos demais povos como sendo apenas fatos fictícios, dos quais não podemos validar a sua concretude – e apenas os nossos mitos são verdadeiros e legítimos, ou, em muitos casos, adotamos o sentimento íntimo de julgamento, no qual, tratamos os diversos ramos das ciências formais e empíricas como sendo de menor importância e relevância para a nossa busca de conhecimento e compreensão. Devemos, portanto, admitir que temos uma necessidade natural de tentar entender de onde viemos, quem somos, e principalmente, quem é ou o que é Deus.

Nesse desejo de buscar uma explicação plausível sobre Deus, a humanidade vem de longínquas eras e de inúmeras formas, construindo metodologias aceitas como seguras (para aqueles que as desenvolveram), capazes de constatar ou negar sua existência a partir de referências que estão ao seu alcance. Em nossa visão mais limitada (naquele primeiro momento de nossa individuação, em nosso processo de humanização), tomamos como válida a compreensão de que as forças da natureza são manifestações – tal qual as manifestações espiríticas – de vários deuses, que expressam seus descontentamentos através dos fenômenos naturais. Logo em seguida, com um pouco mais de, talvez, uma “boa vontade”, adotamos a visão de um Deus antropomorfizado e damos a ele características humanas – sentimentos, comportamentos e atitudes – e ao fazermos isso, passamos a acreditar que assim, estamos prontos para encerrar a nossa compreensão, e passamos a aceitar que ele, Deus, é falho. O grande problema de tentar entender Deus sobre essa ótica, se reside no fato de confundir "Justiça" com "Ser Justo"; confundindo adjetivo com substantivo, e isso nos provoca uma grande confusão.

No livro dos Espíritos, Kardec atribuiu à Deus o primeiro capítulo. Ele precisou de apenas 4 tópicos e 16 perguntas para fundamentar toda a doutrina que estava sendo codificada através dos conhecimentos apresentados pelo mundo espiritual; e que foi utilizado por um processo dialético com os capítulos seguintes, servindo para demonstrar todos os efeitos dessa causa primeira. Por isso, vamos nos deter um instante na primeira pergunta/resposta do livro: “Que é Deus? Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Dessa maneira, compreendemos que essa busca incessante de acumulo de conhecimento só nos leva ao nutrimento do orgulho nosso de cada dia; como dizia Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade". Nós, enquanto espiritas, conhecedores de uma doutrina que tem como base, seu tríplice aspecto – ciência, filosofia e religião – devemos ter muito claro que essa tríade se estabelece no princípio de, serem elas, a sistematização de conhecimentos ou práticas; e que levam o ser imortal ao entendimento de si mesmo, de onde veio – de uma causa primeira; que não importa se essa causa primeira é a sua alma, ou se essa alma é consequência de uma causa primeira. Pois, o que realmente importa, é o entendimento de que somos consequências de inúmeras causas – sucessivas em seu todo – que a cada segundo iniciamos uma causa que gerará um efeito; que em todas as nossas relações vivenciaremos este mesmo processo, não importando as micro ou macro interações; que não precisamos determinar as grandezas das entidades que circundam e orbitam em nossas vidas, e que o conhecimento que acumulamos nos possibilita o “enxergar” livre de preconceitos e ignorâncias, pois, as vezes, desejamos não ver o que está a nossa volta, ignoramos em nível inconsciente tudo aquilo que nos causa estranheza, medo, dor e desconforto. 

A partir desta tomada de consciência, devemos não nos esquecer da mensagem do Espírito de Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capitulo 6, item 5: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.”










terça-feira, 15 de agosto de 2017

Os erros que nos afligem

Por Tiago Navarro

Os erros que nos afligem são erros necessários para a nossa evolução. Encara-los de maneira positiva, sem desculpismos e com maturidade, é o nosso desafio.

Quantas vezes no passado tentamos inúmeras formas de reparar os erros que produzimos, e quantas vezes logramos êxito nessas tentativas? Se a resposta não for há contendo, é sinal que se faz hora de mudarmos o nosso roteiro correcional.

Por quanto tempo mais vamos protelar os nossos objetivos, os nossos desejos sinceros, e a nossa oportunidade de escrevermos sérias páginas de luta e vencimento de nossas contendas em nosso livro da vida?

O desânimo nunca foi bom conselheiro para aqueles que se dedicaram na recuperação de suas falhas. Todos esses que nos inspiram à vidas melhores tiveram, ao longo de sua jornada evolutiva, o profundo e sincero desejo de se locomover no labor do progresso.

A vida em si é um campo fértil de oportunidades remissoras e tem por objetivo nos impulsionar ao caminho do Cristo, o caminho do bem proceder, o caminho do equilíbrio, o caminho da união entre todos os irmãos, e a ascensão à perfeição do ser.

Por isso devemos nos auxiliar mutuamente, desejosos de não deixar passar nenhuma oportunidade que nos apresente, individual e coletivamente. Quando tivermos essa percepção como uma única entidade coletiva, então estaremos mais próximos dos reinos celestiais apresentados pelo Mestre Nazareno.

Que a paz e o amor do Cristo estejam convosco.










quarta-feira, 12 de julho de 2017

O relato do marido de professora assassinada no centro espírita de Pernambuco

Foto: Rafael Furtado / Folha de Pernambuco
A violência alcança no Brasil números iguais aos de países em guerra. É muito triste para nós brasileiros encarar dados alarmantes com índices de assassinatos altíssimos e, pior, crescentes. Para nós, espíritas, também é muito difícil conviver com essa realidade do nosso país, e, o que aconteceu no último dia 5 de julho, ainda nos comove, e presto toda a solidariedade aos amigos do Grupo Espírita Amor ao Próximo (Geap), de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.

Mas a força do educador Sérgio Costa, que viu a sua esposa, Luisiana de Barros Costa, de 57 anos, ser morta durante o tiroteio no Geap, é muito inspiradora. Em seu depoimento ao jornal Folha de Pernambuco, ele mostrou temperança, resignação e, sobretudo, capacidade de perdão.

Vejam o seu relato:

"Ela estava em tratamento espiritual. Esse tratamento espiritual começa às 19h e a palestra às 20h. E toda quarta-feira eu deixava ela 18h30, 18h40 e 20h50 ia buscar. E assim foi quarta-feira. Eu cheguei, o guardador de carros é uma pessoa antiga lá. Os meus meninos eram pequenos e a gente já frequentava, hoje eles tem 26 e 30 anos. O rapaz que vende pipoca também é antigo lá. Por que eu estou citando eles? Porque estava eu, os dois, na entrada conversando na parte coberta, porque estava chovendo. E tinha também um senhor esperando a esposa.
Surgiram quatro homens armados, agressivos, inquietos, colocaram a arma na nossa cabeça e saíram nos levando. "O que é isso aí?", perguntou um deles. "As pessoas estão rezando", eu disse. "Que nada de rezando", respondeu. Eles não sabiam nem o que era. Não sei se passaram oportunamente ou se viram muitos carros. Não sei exatamente o que aconteceu. Mas eles estavam agressivos, empurrando. E eu fui o primeiro, com o revólver na cabeça. E eles já entraram gritando: – é assalto, quem falar eu mato ele. Esse ele, seria eu. A minha esposa lá assistindo tudo, coitada. E ai prosseguiu. o comando lá do espiritismo, os palestrantes, o Liszt Rangel teve muito equilíbrio, conseguiu equilibrar. Mesmo diante de tanto desespero ele conseguiu manter um pouco do equilíbrio. Subiram quatro conosco e depois nós vimos mais três entrando, que deviam estar lá fora dando apoio. Agora se tinha mais infiltrados eu não sei. A certeza que eu tenho é que quando eles chegaram, esses quatro não sabiam o que era ali.
Em um certo momento, um bandido que estava me apontando viu muito celular, muitas carteiras e pediu para um dos assistentes da palestra tirar a camisa para colocar. E nesse momento ele me soltou. Quando ele me soltou, baixou a cabeça, e o de lá também baixou. Foi quando eu vi que alguém da platéia puxou uma arma e atirou no bandido que passou. E aí começou. Não sei dizer o nome dele, mas vi a hora que ele levantou, botou a mão atrás e tirou a arma. Atirou no bandido que passou por ele. O bandido caiu e ele deu vários tiros e foi atingido por um bandido que correu pra lá e atingiu a cabeça dele. Dai pra frente eu não vi mais nada porque fui atrás da minha esposa. 
Não sei a quantidade de tiros, eu sei a quantidade de sangue, que era muito. Comecei a procurar a minha esposa. Ela estava na platéia. Quando encontrei ela já estava morrendo. Deu tempo de chamar meu filho e ela morreu em nossos braços. Meu filho ficou com a roupa ensanguentada, eu também, e ela morreu em nossos braços, mas morreu lutando. Morreu como uma guerreira que ela era. Mas ela morreu em paz, ela estava se despedindo. Toda reunião ela levava um livro pra doar e comprava outro. E o último livro que ela leu parou na página 41, marcou. Morrendo me entregou, e dizia que a morte não existe. Existe a passagem. Que a vida continua. Que a vida sempre é vida.

E nós não vamos culpar ninguém. O policial, ele não teve má intenção. Ele teve a intenção de ajudar. Mas infelizmente o impulso nem sempre é racional. Não vou culpar o policial, até porque ele tem familiares que nesse momento estão chorando por ele. Não vou culpar a polícia, não vou culpar o governo. São as mazelas sociais que existem em todo universo terrestre. Cabe a nós, que ficamos, cuidar para melhorar e para fazermos o bem. 
O que fica é a saudade, a falta. Mas minha esposa era uma pessoa evoluída. Todo espírito evoluído quando encarna ele encarna em silêncio. Quando ele desencarna, ele cria um barulho. E ela foi manchete nacional. Ela era um espirito evoluído. A minha esposa era fantástica. Foram 39 anos de companheirismo e ela cuidou de mim a vida toda. E eu me preparei a vida toda para deixá-la bem e não para ela me deixar. Mas ninguém é Deus. Ele é único, onipotente. Mãe fantástica, educou dois filhos. Fantástica, não tem outra palavra.

Não vamos deixar de frequentar o centro. Tenho um filho que é evangélico e tenho outro que é espirita conosco. Nós frequentamos a igreja evangélica, a igreja católica e eu já combinei aqui com meu amigo Frederico Menezes, que é um palestrante que a minha esposa adorava assistir, para ele organizar, lá no Geap, no mesmo local que ela morreu, uma palestra que vai lotar a casa."







quinta-feira, 6 de julho de 2017

Saber pedir ajuda

Por Miréia Carvalho

Todos nós precisamos de ajuda em algum momento de nossas vidas, e não existe ninguém que não precise de um socorro ao longo dessa longa jornada. O que acontece é que nem sempre pedimos ou aceitamos. Algumas vezes, as pessoas que nos querem bem percebem a nossa necessidade e se aproximam, mas se não admitimos a necessidade de apoio, podemos desperdiçar esses valiosos recursos que a vida nos dá.

Pedir ajuda pode representar não só assumir a própria fragilidade, como a exposição dessa fragilidade para outras pessoas. Por conta do orgulho, muitos não querem isso, porque é incômodo aceitar a própria fragilidade em um mundo feito para fortes.

Pedir ajuda, seja no trabalho, na saúde, na família, na religião pode trazer grande alívio. Podemos dividir o fardo de algumas situações – e sem precisar carregar tudo sozinho – , o que nos permite ouvir palavras acolhedoras, encontrar novas formas de enfrentar uma situação que aparentemente não tem saída, ganhar novo ânimo, receber um ombro para descansar nossas preocupações e superar desafios.

É necessário que reflitamos que se já empregamos todas as nossas possibilidades e não conseguimos mais caminhar sozinho em determinado assunto, é hora de fazer esse gesto de generosidade conosco e pedir ajuda.

Nesse caminho podemos contar com vários tipos de ajuda:

A ajuda no plano pessoal: que é buscar amigos e familiares de confiança, que querem o nosso bem e que poderão nos ouvir com atenção e carinho.

A ajuda profissional, que é um apoio fundamental pois há muitos profissionais que estudam e são mais preparados para lidar com questões difíceis, como psicólogos e médicos. Busque boas indicações e sempre perceba qual a sua impressão diante do profissional que o atende. A relação de bem-estar e confiança com um profissional é fundamental para o sucesso no enfrentamento das situações difíceis.

A ajuda espiritual, porque se acreditamos no plano espiritual, em algo maior, estarmos conectados com essa espiritualidade e com os nossos amigos espirituais, nos dará segurança e esperança.

Aprender a pedir ajuda quando necessário é um ato de humildade e coragem. O apoio do outro nos fortalece, aumenta nossas chances de vencer os obstáculos e alcançar nossos objetivos.

Quando pedimos ajuda, rompemos com os nossos preconceitos e damos um voto de confiança para a outra pessoa. Estabelecemos vínculos, quebramos a couraça de orgulho e arrogância que nos torna vítimas, acreditando que não podemos confiar em ninguém e que estamos completamente sozinhos.

Temos vergonha de nós e de nossos problemas. Ninguém irá humilhar o outro por que está precisando de ajuda, pensem nisso.

O ideal é contar com o máximo de auxílio possível, nos diferentes campos disponíveis.

Sabermos o momento de pedir ajuda, e não ter vergonha em fazê-lo, é fundamental para a nossa saúde psíquica, mostra que reconhecemos o nosso limite e que podemos fazer alguma coisa de bom por nós mesmos. Aceitar ajuda é tornar a vida mais humana e leve.














Na Solidão

Por Tiago Navarro

Vivemos tempos ditos difíceis, que nos causam estranhamento, e que, nos conduzem ao sentimento de impotência perante essas adversidades. Porém, o que se dá com as pessoas, que passam por momentos de solidão? Como será que elas têm percebido estes momentos?

Algumas pessoas mais sensíveis à dor humana dirão que o tempo atual têm se apresentado como a era da solidão. Cada qual se restringindo à sua ilha, ou ao seu pequeno mundo, onde só há espaço para os merecedores ou os conquistadores mais destemidos. Depois de termos nos ilhados com tanto afinco, agora desejamos algo mais.

E como ter esse algo mais, se a essência de se conectar, de romper-se com as distâncias, e do poder para derrubar os muros do isolamento, foi-se perdido? Bem, para tal, faz-se necessário o conhecimento do ato! Não é fácil, principalmente quando já se perdeu essa emanação.

Como foi dito por Aristóteles[1], o ato é a própria existência de algo, enquanto que a potência é tudo aquilo que um determinado ente pode vir a ser. Se há em nós o desejo de sermos amados, devemos primeiro pensar ou perscrutarmos, e quem sabe, até mesmo, fazermos um esforço para lembrar de que somos dotados do amor, porém, devemos antes de tudo, trabalhar esse amor enquanto potência, para fazê-lo sair do estado de latência para a reverberação, e dessa maneira, sê-la uma atitude intrínseca do nosso ser.

Seguindo pela tradição da Grécia Antiga, podemos pensar sobre o esforço de potencializar o amor, numa visão gradativa, onde teremos de vivenciar os seguintes estágios: Porneia, Eros e Filia. Encontramos uma referência interessante sobre essa gradação com Jean-Yves Leloup[2], onde ele nos diz o seguinte: 
“... a primeira palavra para falar do amor é o termo Porneia que se refere ao amor do bebe por sua mãe – isso quer dizer que ele a come! Ele gosta de seu leite, de seu calor, ou seja, do objeto materno. Para uma criança é magnifico amar desta forma...” Em seguida apresenta o conceito de Eros: “... após a Porneia, existe Eros (...) lembremo-nos de que, entre os gregos, é um deus. E nós transformamos esse deus criança e brincalhão em um ‘velho porco’! É lamentável porque esse deus tinha asas (...) Eros é o amor do inferior em relação ao superior, o amor da beleza, (...), no entanto, pelo Eros, de repente, no abraço íntimo dos corpos, na atração, na pulsão, surge também o amor pelo outro, pela sua beleza, amor que não podemos possuir/ter… que não podemos consumir...” E prossegue com o Philia (Filia): “... Philia, phileo significa ‘eu te amo com amizade’. Já não é o amor do inferior pelo superior, nem o amor daquele que está carente direcionado para aquele que tem (lembremo-nos de que Eros é filho de Pobreza – a carência – e de habilidade). Eros está, ao mesmo tempo, repleto de malícia e repleto de carência. O amor erótico é bastante sutil, muito malicioso, travesso. Trata-se de um traquina... mas, ao mesmo tempo, há carência. Por sua vez, a Philia é amar o outro enquanto outro. Trata-se de um amor de intercâmbio: eu te dou e eu recebo, compartilho o que eu sou e recebo o que tu és. É o amor humano propriamente dito. Raros são os seres humanos que conseguem amar-se dessa forma! “

Dessa maneira, ele nos permite vislumbrar e perceber que, enquanto negarmos a nossa necessidade de aprendizado emocional, desenvolvendo essa potência, continuaremos tendo experiência de amor antropófago – como a Porneia, consumindo todos que desejarem estar conosco, e seremos as “eternas crianças de colo”, desejando primeiro sermos amados para então poder ofertar amor; ou revestiremos com o amor erótico, onde então teremos o desejo de criarmos vínculos, mas como ainda precisamos suprir nossas carências, exigiremos que nos deem segurança para então tomarmos a “condescendente honra” de retribuir a segurança; podemos até acreditar que somos capazes de compartilhar o que somos com os outros, porem como quase sempre adotamos a postura de termos nossas necessidades atendidas para daí atender as necessidades alheias, caímos na ilusão de que já potencializamos o amor ao status de Filia e infelizmente essa postura só nos leva a perceber que estamos ocultando a busca por nossas satisfações com o que há de mais doloroso no ser humano, o egoísmo.

Quando o núcleo da nossa personalidade ou o controle de nossas crenças internas versus os ditames do mundo exterior se adoece, padecemos de egoísmo (ego + ismo, onde – ego: princípio de organização dinâmica, diretor e avaliador que determina as vivências e atos do indivíduo; ismo: designa intoxicação de um agente), e esta enfermidade é sentida em cada relação, cada vinculação, e nos leva a estados cada vez mais febris.

Quando nos machucamos por uma desilusão, ou a uma crítica severa, ou a um escárnio público, ou a uma desdita da vida, nos findamos emocionalmente e animicamente, e esse ressurgimento quase sempre é feito – tomando como alicerce primário – pela nossa própria dor. Sabendo-se que é necessário prover uma fundação em bases solidas e propícias para a edificação, e que a colheita advém após o plantio, é notável percebermos que, escolhemos inconscientemente – no nível não racional – como plano diretor, nos reconstruirmos pela dor; e consequentemente, ao fazermos a fundação ou o plantio de nós mesmos pela dor, naturalmente colheremos os frutos dessa dor. E o fruto dessa dor será a solidão, visto que, qualquer pessoa que se aproximar, provavelmente despertará em nós o medo de sofremos mais uma vez, aquela bendita dor.

Mas há outras formas de se ver no mundo, e uma delas se apresenta sob a forma da caridade. Não aquela caridade mercantil, de doarmos quantias financeiras, ou pagarmos pelo ato caritativo. Estou a me referir do amor em movimento, do doar-se, do agir pelo simples fato de querer agir. Kardec ao tecer seu comentário à questão 886 de O Livro dos Espíritos, diz: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. (...) O homem verdadeiramente bom, procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa. “


Vários fundamentalistas teólogos disseram que fora de suas crenças não há salvação, mas digo-te, que dentro deste amor manifesto há salvação. Você, por você, poderá te salvar deste estado de solidão. Quando perceber que há um mundo fora de ti, repleto de oportunidades, de conexões, de vínculos a serem construídos, e daí então verás o quanto é divino viver.




[1] ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril S.A. Cultural, 1984.
[2] LELOUP, Jean Yves. Amar... apesar de tudo. Encontro com Marie de Solenne. Campinas, São SP: Versus, 2002.









terça-feira, 27 de junho de 2017

TRANSPONDO MONTANHAS

Por Tiago Navarro

Nem sempre encontraremos ao longo do nosso percurso, apenas pedras a superar. Em alguns momentos essas pedras terão proporções monumentais, grandes paredões rochosos, imensos altiplanos.

Caso não tenhamos uma fé robusta, capaz de racionalizar de que se trata apenas de uma pedra em maiores dimensões que iremos transpor com a mesma serenidade, cairemos no desespero de acreditar não sermos capazes.

Por hábito das experiências anteriores, cremos que as pequenas pedras, são facilmente transpostas, pois, elas, no máximo, incomodarão a sola de nossos pés ou nos fará torcer um dos nossos tornozelos, e nos por ao chão, quando muito causando um desequilíbrio, mas, de qualquer forma, no final das contas, iremos transpô-la.

Já no caso da montanha, nos é exigido uma maior disciplina mental. Primeiro, a subida até o cume dela é demorada e cansativa. Corremos o risco de até perdermos temporariamente a nossa respiração. Segundo, não temos a menor noção do que iremos encontrar no topo desta montanha. E terceiro, último, e provavelmente a pior parte, ter de descer essa montanha.

O cenário, lógico, provoca-nos muito medo, apreensão e desânimo. Por isso se faz imprescindível a prática mental da crença, que nos proporciona uma fé robusta, racional e inabalável. Desta maneira, nos preparamos previamente para suportamos os revezes da vida, criando visualizações otimistas de como seremos capazes de transpor as montanhas que se apresentarão nas nossas vidas, de condução lúcida e magistral, sem espetáculos de atos sobre-humanos, apenas, entendendo que a dificuldade que surgir deverá se vivenciada e superada, extraindo o máximo de informações daquela oportunidade única.








quarta-feira, 14 de junho de 2017

Envelhecer

Por Tiago Navarro

É chegado o grande momento áureo, o momento da completude física e social, o tempo que comumente chamamos “melhor idade”. A época da vida que acreditamos ser de repouso físico, o descanso merecido de duras lutas travadas por décadas. E o momento em que trocaremos de lugar com nossos filhos.

Após o tempo do plantio, há o momento da colheita. Para algumas culturas de subsistência, esse período sofre variações, mas o que há de mais concreto, é o efeito desta causa, o que se planta há de se colher. A colheita, por fim, é uma obrigação a quem plantou, inexorável lei natural, imutável em sua essência.

Como nossa percepção do mundo se torna mais aguçada quando utilizamos de ferramentas comparativas, temos ao nosso dispor as parábolas agrícolas do mestre nazareno, bem como os arquétipos linguísticos bastante utilizado pelos pensadores. Nessas duas estruturas de ensinamento, compreensão e estruturações lógicas, podemos utilizar ao nosso proveito para entendermos a relação filial para com os pais idosos.

Estes pais que em outrora dedicaram todas as suas forças, todo seu tempo, e se privaram de todas as demais possibilidades, para nutrirem suas crias, não só com o leite materno, no caso das mães, como também com a nutrição espiritual, dedicando o máximo esforço para contribuírem com o desenvolvimento ético-moral, com ensinamentos louváveis para esses pequenos seres em construção.

Nos acostumamos a ver em nossos pais, seres fortes, aguerridos, e com poderes a nós desconhecidos. Normal enquanto nossa visão se limita a necessidade de preenchimento de nossas necessidades. Porém, na velhice, essa relação de subsistência se inverte, nossos pais, agora são os portadores da necessidade de serem nutridos. Não só a nutrição alimentar, mas, com a nutrição mais importante que foi imposta aos seres humanos - a nutrição afetiva. Todos nós precisamos de afeto e atenção, não há de se entender que seja a atenção de visitas periódicas, que mais abrandam a culpa do abandono, do que a dignificação desde ser que cedeu a própria vida para permitir que as nossas vidas se desenvolvessem.

Sim, as nossas “crianças” idosas, precisam de muito afeto, não por uma simples compensação, mas, por se encontrarem em uma situação bastante peculiar – é chegada a hora da perda de suas forças físicas, da perda do papel de importância na vida de seus filhos, da limitação de suas ações e autonomias. Se não nos preocuparmos com eles neste momento, provavelmente será muito tarde, quando eles já não estiverem entre nós. Por isso irmãos, vamos fazer o máximo que estiver ao nosso alcance, amando-os de todo o nosso coração, e com o amadurecimento emocional verdadeiro, esquecendo magoas e ingratidões, pois, muitas das vezes, foram fruto de nossos desejos de termos pais, que não correspondiam com nossa realidade.

Lembremos, “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. ”











segunda-feira, 5 de junho de 2017

Inquietar-se pela mudança

Por Tiago Navarro

De forma habitual, buscamos a segurança em todas as instâncias de nossas vidas. Segurança financeira, afetiva, física e espiritual. Essa busca é válida quando é fundamentada na necessidade de nos mover, para aperfeiçoarmos valores que consideramos frágeis ou desnecessários. Porém, em alguns casos, nos apegamos a essa segurança pelo simples fato de temermos o que virá após essa transformação.

Um exemplo desse processo é a busca por uma melhor qualidade de vida. Temos em nossa sociedade alguns institutos catedráticos que dedicam horas em pesquisas, na busca de normatizar o que seria a qualidade de vida necessária a cada um de nós. A partir desse padrão pré-estabelecido, partirmos para atingir esta meta almejada. Dedicamos horas e esforços até que, quase invariavelmente, chegamos à conclusão de que ficou faltando algo ao final do percurso.

Essa lacuna quase sempre é preenchida por um outro esforço, ainda mais árduo, e muito mais recompensador. Nesta década, surgiu um movimento denominado "Minimalismo", onde a base filosófica estabelece o uso consciente dos bens de consumo, se desapegar de todo e qualquer bem que não tenha serventia, como por exemplo, móveis, roupas, utensílios domésticos, que em 3 meses não tiveram um uso considerável; ou ainda, possuir carros que atendam a necessidade de locomoção e não para definir status social.

Nas passagens neotestamentárias, encontramos recorrentemente a figura dos Fariseus e Saduceus confrontando Jesus, porque consideravam um perigo os ensinos do nazareno. Podemos, a título didático, atualizar as personagens dessas passagens, onde os Fariseus e os Saduceus seriam, respectivamente, os políticos e grandes empresários, ditando regras, impondo metas, alimentando disputas de poder, e levando a sociedade a trocar seus direitos por deveres, impedindo que o povo hebreu pudesse exercer a liberdade de escolha e praticar a força do querer; e do outro lado, Jesus seria o "minimalista", propondo ao seu povo um despertar sobre a necessidade de acumular bens, repensar a importância do ter em detrimento do ser, trazendo um convite ao desapego da matéria.

Esse é um típico movimento que nos chama a atenção para o modelo econômico, de consumo, e de convivência no planeta; a repensarmos o quanto estamos dando importância à necessidade de termos em detrimento de sermos. A experiência de nos humanizar – informações espirituais, ainda estamos iniciando o processo de nos humanizar, no aperfeiçoamento dos instintos em emoções e das sensações em sentimentos – é feita de experimentações, reflexões, e retorno às experimentações. Quando, em algum momento da nossa vida, sentimos a necessidade de tentar entender o que significa este vazio que sentimos, será um belo passo para compreender para onde estamos a trilhar.

Estamos em constante trânsito; sempre nos deslocando de um ponto a outro, de um estado a outro, faz parte do processo de amadurecimento mental, espiritual. E justamente neste processo de transição, somos convidados a pensar o quanto é primaz trocar o porvir pela segurança conquistada. Não proponho dizer "sim" a tudo que nos chega, não. Proponho uma postura espírita, de fato e ato. Do que adianta tanto estudo e tanta palestra, se não somos capazes de adquirirmos autonomia, poder de introjeção e decisão para produzirmos novos valores, que nos habilitará a escolher entre a esperança de atingir metas através de valores que ainda não possuímos e, em contrapartida, a fé de atingir as mesas metas através de valores que já temos noção possuir.

Toda vez que um mentor, um guia, ou um dirigente nos diz que é indispensável estudarmos, na verdade, não é um pedido para nos tornarmos intelectuais, catedráticos ou esnobes pensadores espíritas; na realidade, o desejo deles é que possamos descortinar nossas mentes, aclarando nossas ideias e pensamentos para uma visão generalista e abrangente, olvidando a extensão universal, possibilitando ver o outro como nos vemos, e que esse olhar interno seja de amor em movimento, indulgência e benevolência.